domingo, 31 de julho de 2011

FÉRIAS - TROIKA


Ainda a refletir na polémica de contenção de despesas que afeta a classe média, média/ baixa e falta de crescimento económico, o que me faz sentir na pele a crise como a tantos meus pares, chegou-me uma nota humorística. Na verdade, esta é a essência de ser português. Rir é uma terapia, embora não devessemos ficar por aí. Para já é importante, até porque precisamos de lavar a alma, para conseguirmos intervir.

para quem tem computador e candeeiro.´



                                                                         Férias Troika

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Rota do Barroco em Portugal

 
A Madalena Silva, professora de Geografia e minha distinta estagiária de História, chamou-me a atenção para o fato de ter sido criado a rota do Barroco em Portugal. O link é este:
Boas viagens é o que ela nos deseja. 
Na verdade nesta época de crise económica e financeira, um estilo que assinala o nosso fausto, esbanjamento e falta de comedimento económico e financeiro, pode levar-nos a pensar. É para isso que a História serve, não?
E já agora, para quando a rota do barroco em Gondomar?
Precisamos de valorizar o nosso património.
Um grande abraço Madalena .
Acabo com o cartaz do nosso Rally Paper por terras de Gondomar. A designer foi a Júlia Martins.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Reflexão final de ano letivo


Nuno Crato reflete sobre o que pensam os teóricos da educação que afirmam que o "ensino teórico descontextualizado não se traduz em aplicações práticas, ou seja, que os alunos não conseguem transferir as aprendizagens para situações diversas e que, portanto, todo o ensino teria de ter um significado. O problema da transferência é um problema real(afirma ele) "mas o ensino excessivamente contextualizado dificulta precisamente a transferência para situações práticas. Repetidos estudos experimentais mostram  que o conhecimento tende a ser mais limitado quando apresentado num contexto único” (…) p. 71
O ensino abstracto pode ser bastante eficaz, como mostram inúmeros estudos experimentais….. p. 71
“ O “aprender fazendo” tem sucesso quando há uma combinação entre a instrução abstracta e diversas ilustrações concretas que conseguem despertar o estudante e motivá-lo para perceber, imaginar e realizar aplicações. Mas o “aprender fazendo” não tem sucesso quando está confinado a aplicações muito limitadas e não é acompanhado de uma generalização pela abstracção.” P. 72
 “ o não reconhecimento da necessidade de uma “fase dogmática” precedente da “fase crítica” é um dos erros  mais graves da pedagogia romântica. Para raciocinar criticamente sobre um assunto é preciso começar por conhecê-lo. Pretendendo-se formar “estudantes críticos” sem lhes fornecer a necessária informação e treino, apenas se formam ignorantes fala-barato.”
Se, por exemplo, um professor do Ensino Básico diz aos seus alunos para visitarem um mercado popular e fazerem uma crítica ao funcionamento desse mercado (exemplo real), ele deve começar por se assegurar de que os jovens vão ser capazes de reunir as informações mínimas sobre o funcionamento do mercado. Depois, deve verificar se essas informações foram compreendidas e se os jovens adquiriram os conhecimentos necessários para raciocinar. Em seguida deve guiá-los, tornando claro o que pretende com a “crítica do mercado”. Se não fizer nada disto (continuação do exemplo real), os jovens fazem uma visita, quase certamente pouco aprendem sobre o funcionamento do mercado e em seguida esforçam-se por alinhar meia dúzia de ideias dispersas, mal informadas e especulativas, em que procuram satisfazer o que imaginam serem as opiniões do professor sobre esse mesmo mercado . (…) Ou seja, um professor que aja desta forma está apenas a incentivar nos seus alunos o espírito acrítico – o contrário do que diz defender. P. 87
O construtivismo ingénuo pensa que o ensino recapitula a evolução da ciência e que o aluno pode por si só, desde que devidamente libertado ou estimulado, chegar à reconstrução do conhecimento. (…) Daí a estranha insistência em identificar as pesquisas dos estudantes com “investigação”, como se esta palavra não devesse estar reservada à obtenção de resultados originais. P. 89
(…) Mais modernamente, numa visão extrema da teoria das etapas de crescimento de Piaget, o construtivismo ingénuo vê a criança a recapitular uma sequência de fases de desenvolvimento da humanidade e da ciência. Insiste então de forma dogmática na ideia de ter de ser o aluno a construir ele próprio o conhecimento e a redescobrir a matemática e as ciências.p.90
“O construtivismo actual, diz o mesmo autor, “´é uma mistura de psicologia de Piaget com contracultura e ideologia pós-moderna de uma forma que revela como o “estalishment na educação é ignorante”. P. 91
“O construtivismo radical vai epistemologicamente mais longe do que o construtivismo pedagógico ingénuo: defende que todo o conhecimento, mesmo o científico, é uma construção social essencialmente arbitrária, pelo que menospreza as referências científicas e académicas, concluindo que o ponto de chegada é pouco importante. Quer num caso quer noutro, as consequências pedagógicas são desastrosas. P. 91
Nuno Crato no capítulo “Dogmatismo construtivista e romantismo rousseauniano” afirma:
“Jean Piaget ( 1896-1980) é, sem dúvida, um dos vultos que mais contribuíram para a psicologia educativa. Figura respeitada em todos os meios académicos, muitas das suas observações, teorias e recomendações foram posteriormente criticadas, como é natural acontecer em ciência, As etapas obrigatórias do desenvolvimento infantil e outras ideias de Piaget têm sido postas em causa pela psicologia experimental mais recente. Os trabalhos de Lev Vigotsky (1896-1934) e dos seus seguidores, nomeadamente a sua teoria da zona do desenvolvimento próximo, mostram que já na primeira metade do século XX havia psicólogos que percebiam bem a importância do estímulo externo, em particular da comunidade educativa, para fazer progredir o estudante.”p. 107
(No entanto Piaget ) ficaria naturalmente chocado com muito do que é dito em seu nome. (…) por exemplo , com o que diz Luís Morgado:  “o papel do professor  não é pois o de transmitir ideias feitas aos alunos mas de os ajudar, através de tarefas apresentadas, a construir os seus próprios conhecimentos.”
“Mais uma vez, parece sensato que o ensino não seja a transmissão de preconceitos. Mas não devem os professores transmitir aos alunos a “ideia feita” de que a República foi implantada em 1910, nem a “ideia feita” de que um triângulo tem três vértices?”E devem “evitar emitir um juízo de valo”? A classificação de certo ou errado não constitui um juízo de valor? Deve ser evitada pelo docente?
Continua Nuno Crato a referir que o registo escrito pode ser feito antes de o aluno sentir a sua necessidade. A própria prática do gesto e da escrita, mesmo que na altura não seja cabalmente entendida, pode ajudar o aluno no raciocínio e prepará-lo para etapas posteriores.
E prossegue dizendo que as mudanças devem ser “graduais, experimentadas e avaliadas”.
Frank Swetz, ao estudar a didática da matemática em textos da babilónia, Egito, Grécia e China antigas concluiu que “ Desde os primórdios, os autores e professores inventaram técnicas para facilitar a compreensão da sua disciplina”. Desde a Antiguidade eram feitos “diagramas, cores e auxiliares visuais e físicos, incorporando os sentidos da visão e do tacto”. Conclui que o ensino operacional concreto não é produto do século XX.
Acrescenta Crato “ Quem acreditar que o ensino activo e os meios auxiliares são uma inovação completa está, pois redondamente enganado”.  “Em segundo lugar., é preciso centrar forças nos aspectos essenciais do ensino, ou seja, na formação científica de professores, no ensino das matérias básicas, na avaliação constante e na valorização do conhecimento, da discilina e do esforço.”
E agora uma parte que me é muito cara:
“”Também nos currículos e práticas do ensino básico e secundário  - e mesmo universitário, (…) é indispensável a concentração nas matérias e temas essenciais, de que são exemplo a Matemática e o Português, a História, a Geografia e as Ciências.” p. 118
Um outro fator focado é o da avaliação, considerado como fundamental.  (…) “Admite-se que um  outro exame nacional se venha a tornar necessário “(…) “ Os alunos devem saber que há metas e devem -se ir preparando para as ultrapassar sequencialmente.”
“O espírito de disciplina, trabalho, esforço, persistência e concentração deve ser desenvolvido nos estudantes de forma sistemática e progressiva.”
“É indispensável adoptar expectativas exigentes para os estudantes e o seu trabalho. Dentro de limites muito vastos, os alunos adaptam-se às expectativas que deles se formam. Tratá-los como incapazes, como acontece muitas vezes nos currículos e manuais escolares, apenas os torna realmente incapazes. Na feliz expressão inglesa, é uma self-fulfilling prophecy, uma profecia que se concretiza pelo simples facto de ser formulada”
“Não se pode passar sistematicamente alunos mal preparados, mas também não se pode retê-los sem lhes oferecer ajudas especiais e vias alternativas, profisssionalizantes ou com ritmos menos exigentes. Mas o princípio inviolável deve ser sempre o de registo honesto dos patamares alcançados por cada estudante.” (p. 119)
Por fim deve-se adotar métodos ecléticos: “Não se pode partir sempre do concreto para o geral , tal como não se pode partir sempre do geral para o particular.” (p. 119)
“Deve-se desenvolver o gosto pelas disciplinas e tentar motivar os alunos, mas não se pode limitar o ensino àquilo de que os alunos gostam, nem se deve balizar o progresso curricular pelo sentimento positivo dos alunos.”
E para terminar:
“ Não se pode deixar de introduzir os estudantes no método hipotético-dedutivo, tal como não se pode esquecer a intuição, nem os exemplos e o desenvolvimento de conceitos a partir de uma sentida necessidade de generalização. Não se pode memorizar tudo, tal como não se deve esquecer a memorização. Deve-se desenvolver o raciocínio e o gosto pela compreensão de conceitos complexos, tal como se deve desenvolver a memória e a autodeterminação de alguns procedimentos. Ou seja, devem-se usar técnicas variadas e apontar objectivos variados, ao contrário do que defendem os teóricos do construtivismo dogmático.
“ A simultânea oferta de abordagens, técnicas e métodos variados é a maneira correcta de enfrentar a diversidade de modos de aprendizagem dos alunos.” (p. 120)
Ora, para quê esta longa transcrição da obra O “Eduquês” em discurso directo” de Nuno Cratp?
Poderia responder que aí procuraria linhas de ação, mas já sabemos que os constrangimentos económicos não levam a coerências de discursos. No entanto, um pensamento lógico, contrário ao construtivismo radical é uma forma de disciplinar o pensamento.  Na minha prática de ensino/aprendizagem numa fui radical. Fui sensível sim senhor às práticas construtivistas e à necessidade dos conteúdos significativos, mas nunca pensei  que os alunos deveriam ser ditatores, apenas , tão só, que apreenderiam mais facilmente aquilo para que fossem motivados, pelos professores, pelas famílias, pela sociedade. E no que respeita à história, se parece haver uma grande apetência pelo histórico, até sob a forma de romance histórico, cor de rosa ou azul, a verdade, é que a problemática histórica aparece muito arredada dos nossos pensadores da política educativa.
Verdade seja que Nuno Crato, nesta obra releva a Matemática, o Português, a História e as Ciências, mas não mudou ele nos últimos tempos, ao referir o Inglés e as Ciências, ou ao falar em Ciências, está a incluir a História? Não me parece, porque ele, nesta obra separa a História a Geografia e as Ciências.
Bibliografia: Nuno Crato, O "Eduquês" em discurso directo - uma crítica da pedagogia romântica e construtivista, Gradiva, 2010