sexta-feira, 12 de novembro de 2021

Bom dia! Até amanhã!

 

Juan trabalhava numa fábrica de distribuição de carne. Um dia, quando terminou o seu horário de trabalho, foi a um dos frigoríficos para inspecionar algo, mas num momento de azar a porta fechou-se e ele ficou trancado lá dentro.

Ainda que tenha gritado e batido na porta com todas as suas forças, jamais poderiam ouvi-lo. A maioria dos trabalhadores já tinha ido embora, e no exterior da arca frigorífica era impossível ouvir o que estava acontecendo lá dentro.

Cinco horas mais tarde, quando Juan já se encontrava à beira da morte, alguém abriu a porta. Era o segurança da fábrica, que salvou a vida de Juan.

Juan perguntou ao segurança como foi possível ele passar e abrir a porta, se isso não fazia parte da sua rotina de trabalho, e ele explicou:

“Eu trabalho nesta fábrica há 35 anos, centenas de trabalhadores entram e saem a cada dia, mas você é um dos poucos que me cumprimenta pela manhã e se despede de mim à noite. Muitos me tratam como se eu fosse invisível. Hoje, como todos os dias, você me disse seu simples ‘olá’ na entrada, mas hoje curiosamente, não tinha ouvido o seu ‘até amanhã’. Espero o seu ‘olá’ e ‘até amanhã’ todos os dias. Para você eu sou alguém. Ao não ouvir a sua despedida, eu sabia que algo tinha acontecido… Procurei e encontrei!”

Fica esta reflexão: sejam humildes e amem o próximo. A vida é curta demais e temos um impacto que não conseguimos sequer imaginar sobre as pessoas com as quais cruzamos todos os dias.


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12 novembro de 1991- massacre de Santa Cruz

 

12 de novembro de 1991, centenas de timorenses acorreram ao cemitério para homenagear Sebastião Gomes, jovem de 18 anos, membro da resistência assassinado no dia 28 de outubro, num protesto contra a ocupação de Timor pela Indonésia.

A polícia e militares indonésios carregam e disparam sobre a multidão, fazendo um número incerto de vítimas mortais que terá rondado as 300, centenas de feridos e desaparecidos.

Portugal redespertou para a mais esquecida das suas ex-colónias e conheceria uma mobilização cívica nacional, raras vezes vista, em torno da independência de Timor, que chegaria, finalmente, em 2002.

12 de novembro ficou designado em Timor-Leste como Dia Nacional da Juventude, celebrando a coragem e a determinação destas centenas de jovens e  para relembrar um dia tanto de tristeza como de esperança.


#juventude #aljube #semmemórianaoháfuturo #Timor        

 Monumento ao Massacre de Santa Cruz, Díli, Timor-Leste

quinta-feira, 11 de novembro de 2021

Descobrimento e expansão

 


Durante séculos os autores das obras sobre a expansão europeia dos séculos XV e XVI, divulgaram uma visão heroica dos navegadores e colonizadores, enfatizando o seu caráter civilizador. Como o continente americano era desconhecido na Europa, a palavra «descobrimento» concretizou a visão eurocêntrica, ou seja, europeísta. Mais recentemente, alguns historiadores têm analisado a expansão europeia do ponto de vista dos povos que viviam nas terras «descobertas» por Cristóvão Colombo e Pedro Álvares Cabral, apelidadas de Novo Mundo. A palavra descobrimento foi, então, substituída por expansão. Não é apenas o significado das duas palavras, mas também a intencionalidade no seu uso, que as torna inconciliáveis. Descobrir significa encontrar o que era desconhecido, logo não implica qualquer ato contrário à paz. Se nos lembrarmos de grandes descobertas da História, como por exemplo, a penicilina, concluiremos que os descobridores contribuíram, na generalidade, para o bem-estar da humanidade. Já a palavra expansão tem um significado belicista, como afirma o historiador Tzvetan  Todorov,  « é uma guerra, uma conquista.» E foi através da expansão que os Europeus construíram um «mundo novo» no Novo Mundo encontrado por Colombo e Cabral.

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Esse «mundo novo» foi construído sobre os cadáveres de milhões de pessoas que, à chegada dos Europeus, tinham um modo de vida tão diferente do modo de vida seguido na Europa que levou Sérgio Buarque de Holanda a afirmar: «o confronto de duas humanidades diversas, tão heterogéneas, que não deixa de impor-se entre elas uma intolerância mortal.» O confronto das duas humanidades diversas pode ser concretizado através de alguns exemplos. O imperador asteca acreditando que os Europeus eram deuses, recebeu-os amigavelmente e abrigou-os no seu palácio. Hernán Cortés, o comandante espanhol, prendeu-o e, a partir daí, foi mais fácil dominar o povo asteca. Os Incas eram agricultores e o ouro, tão desejado na Europa, abundava no seu território, contudo, para os Indígenas, a maior riqueza eram os armazéns espalhados pelo império onde guardavam especialmente alimentos e tecidos. Tal como os Astecas, os Incas, inicialmente, acreditaram que os Europeus eram deuses. Já alguns Europeus estavam convictos que, após a cristianização do seu continente, o diabo tinha ido habitar o continente americano, logo todas as atrocidades eram justificadas à luz da religião. Quando Pedro Álvares Cabral chegou ao Brasil, um dos indígenas foi levado à sua presença, tendo apontado para o colar de ouro do capitão português e para terra. Para os Portugueses, o gesto significou que o metal precioso abundaria na região, o que não era verdade. Como os indígenas não conheciam a propriedade privada, tudo era de todos, talvez o indígena desejasse mostrar o colar aos restantes membros da tribo que tinham ficado em terra.

Ao contrário do que, por vezes, se pretende fazer crer, quer os aspetos positivos quer os negativos da expansão europeia dos séculos XV e XVI, não podem ser atribuídos a um só povo, pois o empreendimento europeu está associado à nova mentalidade renascentista que deu origem à Idade Moderna. Se os pensadores do Renascimento defenderam a esfericidade da Terra, Fernão de Magalhães deu início à viagem que a comprovou; à criação da perspetiva na pintura, procurando o artista aproximar-se da perfeição, corresponderam os cartógrafos desenhando o globo terrestre com enorme rigor. No livro Descobrimentos e Renascimento, Janice Silva afirma: «Os descobridores, ao realizarem a sua obra de colonização construindo igrejas e outras edificações necessárias à conquista, e os artistas, pintando ou esculpindo na Europa, consideravam a existência de um único padrão de beleza, uma única religião verdadeira, uma cultura superior a todas as outras. Descobridores e artistas olhavam o mundo de um único ponto e a partir dele destruíam e construíam. Por todos esses motivos, a harmonia presente nos quadros renascentistas transformava-se em desarmonia no Novo Mundo.»

Francisco Cantanhede, professor

https://osetubalense.com/opiniao/2021/11/11/a-construcao-do-novo-mundo-no-mundo-novo/?fbclid=IwAR124xkdn-9J9dLhJnj-1GYpm06Rle61ltWBfkRyHRgncbnIrbKjBtx8ZLk


terça-feira, 5 de outubro de 2021

PRIMEIRA REPÚBLICA - PORQUE VENCEU E PORQUE SE PERDEU A I REPÚBLICA - APRECIAÇÃO PESSOAL

 

PORQUE VENCEU E PORQUE SE PERDEU A I REPÚBLICA - APRECIAÇÃO PESSOAL

 

Segundo Fernando Rosas, a vitória da 1ª República deve ser analisada no contexto de modernização portuguesa e europeia que marca o final do século XIX, num plano político internacional caracterizado pelo sistema liberal oligárquico, subsidiário das revoluções liberais, que começa a entrar em crise, já que o quadro geral é de mudança.

A industrialização do século XIX leva o operariado às cidades que se constituem em massas reivindicativas sem direito a voto. Estes, em larga maioria muitos analfabetos, constituem as primeiras associações de classe e integram o recém-formado Partido Socialista.

Ao mesmo tempo a terciarização da vida urbana, com a criação de bancos, seguradoras, empresas de import-export, das novas indústrias de ponta: a construção civil, os transportes urbanos, os telefones, o telégrafo, a iluminação pública, o gás de cidade, dá origem a todo um conjunto de categorias sócio profissionais novas. Esta classe média urbana, onde aparecem a diversificar o tecido social, os engenheiros, arquitetos, médicos, empregados de escritório e amanuenses, mas também caixeiros, marçanos, moços de recados, pequenos funcionários e modestos empregados, vendedores ambulantes, sargentos e cabos das Forças Armadas que pouco se distinguem dos operários, requerem um novo estatuto político.

O rotativismo entre o partido regenerador e o progressista, com o rei a deter o poder moderador não responde às aspirações mais prementes desta massa social.

Em 1876, num jantar, constitui-se o Partido Republicano, que vem, depois, a formalizar-se em 1881, agregando um grande número deste bloco social de classe média e operariado descontente.

Com efeito, o sistema monárquico não responde a esta nova realidade, onde só votam os homens que sabem ler e escrever e os que pagam censo, logo, apenas, os proprietários.

Na verdade, o exército que se dispersa às primeiras horas da revolução é constituído por este grupo social, ao contrário da Marinha que é mais ilustrada e próxima dos ideais do operariado.

O Partido Republicano agrega diversas tendências - apresenta três vértices – a corrente legalista, reformista.; uma outra ala que apoia e organiza a Revolução – a Carbonária, ramo popular da Maçonaria, e esta mesma, uma associação discreta, formada por grupos mais ilustrados.

Efetivamente a Carbonária, fundada em 1895 é a ala plebeia da Maçonaria. Tem origem italiana, e chamam-se, uns aos outros “bons primos”; os irmãos eram os “rachadores” .

 

É a Carbonária que se impõe como organizadora da revolução.. Na Margem Sul, declarou-se a República logo no dia 4. Na cintura de Lisboa, a Carbonária toma o poder de véspera, sem nenhuma dificuldade. Em Lisboa é que há resistência, já que é onde está o rei e as Forças Armadas. É a esta organização que obriga o Partido Republicano a ir para a revolução! É a Carbonária que pressiona o diretório.

A Carbonária alcançara, em Junho, o aval da direção da Maçonaria, a qual nomeou, em meados do mês, uma comissão de resistência à qual pertenciam José de Castro (grão-mestre-adjunto), Miguel Bombarda, Machado dos Santos, Francisco Grandela. Esta comissão agrega dois membros do diretório: António José de Almeida e Cândido dos Reis. António Maria da Silva, mais tarde.

O diretório do PRP deu luz verde à insurreição a 25 de Setembro, ficando Cândido dos Reis como comandante chefe da revolução.

No entanto, Miguel Bombarda foi assassinado fortuitamente a 3 de Outubro, o que desmobilizou a organização, já que estava tudo marcado para a madrugada do dia 4/5 de Outubro, quando fosse disparada uma salva dos cruzadores ancorados no Tejo.

Machado dos Santos sem saber de nada, vai de elétrico, todo engalanado, continuar com o plano inicial: tomar a Infantaria 16 à uma da madrugada e dirigir-se para a Artilharia 1, juntando-se ao capitão Palla que, também dominava o quartel. Para aqui também se deslocou o capitão Sá Cardoso, às ordens de Cândido dos Reis.

Os dois capitães, pensando que os outros quartéis também estavam amotinados (Infantaria 2; Caçadores 2, Infantaria 5, Caçadores 5) organizaram duas colunas para tomar o Palácio das Necessidades, onde se encontrava o Rei e o Quartel do Carmo. No entanto, em breve, se dão conta que estão sozinhos e perseguidos por forças monárquicas. O plano fracassara no que respeita ao exército.

No entanto, tinham acontecido levantamentos no quartel de marinheiros e em dois cruzadores, o Adamastor e o São Rafael. Mas Cândido dos Reis não conseguira embarcar para bordo do ”D. Carlos”, o navio-almirante, e desta forma não conseguiu dar o sinal combinado à hora marcada, 3 horas da madrugada. Convencido do fracasso da revolução, Cândido dos Reis suicida-se.

Mas, a resistência continua no quartel-general na redação da “Luta”. Entretanto, as duas colunas de Palla e Sá Carneiro, impossibilitadas de avançar para os seus objetivos, convergem para o Rato e são forçadas a subir até à Rotunda, onde se encontra com a pequena força de Machado dos Santos.

Às 5 da madrugada está aí entrincheirado o que resta do exército insurreto.

Quando chega a notícia do suicídio de Cândido dos Reis, Sá Cardoso convoca um Conselho de oficiais e retira-se, com a maioria. Fica, apenas, Machado dos Santos com alguns sargentos e cadetes. Na verdade, segundo Pulido Valente, só ele como membro da direção da Carbonária teria noção da força dos seus efetivos. São estes membros que ao longo da manhã evitam o estrangulamento da insurreição e estabelecem as comunicações com o Quartel de Marinheiros e a Artilharia 1. Isto permite que ao longo do dia 4, civis e militares rebeldes, fundamentalmente soldados e militares de baixa patente ou alunos da escola do Exército dêem luta. Na tarde desse dia, as forças monárquicas a ocupar o Rossio hesitam antes de atacar a Rotunda. O fogo da Rotunda, cruzado com o da Artilharia 1 explica que tal ataque não tenha resultado. Depois de um reforço no quartel de munições, dirigindo-se ao Terreiro do Paço, ocupam posições nas costas do exército monárquico. A iminência de um desembarque em massa, inverteu as posições. O rei fugiu de Lisboa para Mafra e daqui para a Ericeira e depois para Gibraltar e Inglaterra.

Às 22 horas, o próprio navio “ D. Carlos” cai nas mãos dos republicanos.

Ao longo da madrugada as forças monárquicas vão-se rendendo.

Às 8 da manhã, a população ao ver a bandeira branca hasteada no Rossio, interpreta mal o seu significado, crê consumada a capitulação monárquica e invade toda a baixa lisboeta, inviabilizando qualquer reação. A artilharia monárquica mostrou-se inoperante. Apenas, Paiva Couceiro resistiu e procurou desalojar, em vão, os homens da Rotunda.

Na província, como previra João Chagas, a República, foi implantada por telégrafo. Não se registou resistência significativa.

 

Se a proclamação da República foi fácil, não o foi a democratização do sistema político, nem a resolução da questão social, o que levou ao descontentamento e ao descrédito da classe política, começando a vingar a crença que só um governo forte e monolítico salvaria a situação.

Efetivamente, ainda segundo Fernando Rosas, a República comete quatro erros fatais:

 1 – A questão política e institucional – reproduz as questões monárquicas; a não democratização do sistema político, a não criação do sufrágio universal, a mão concessão de voto aos analfabetos (com a justificação de que a ruralidade seria mais permeável ao caciquismo dos políticos); a não concessão do voto às mulheres, (com a justificação de que o mulherio seria mais permeável ao caciquismo dos padres).

 

2 – A Igreja era o esteio ideológico do antigo regime, mas a Lei da Separação da Igreja do Estado, sobretudo a expropriação exagerada e a intrusão nas nomeações dos cargos religiosos e publicações e a supressão de práticas populares vão ser uma grande machada de impopularidade, mobilizando o mundo rural contra a República.

 

3 – A traição das promessas feitas ao movimentos operário. Afonso Costa era conhecido como “racha-sindicalistas”. A regulamentação da Lei da greve que não permitia os piquetes e simultaneamente, permitia o lock-out. Por fim, a inauguração de alguns métodos repressivos, depois retomados pelo Estado Novo, como a perseguição e deportação de ativistas sindicais; a supressão de jornais, enquanto a Lei das oito horas de trabalho, dos Seguros Sociais e dos Bairros operários não foram conseguidos.

 

4- A espantosa aventura da participação de Portugal na 1ª Grande Guerra que criou a impopularidade na população sujeita à incompreensão da necessidade da sua participação numa guerra que não era sua; a crise económica consequente, a fome e a doença.

 

No entanto, a 1ª República deixou uma esperança de liberdade e de modernização económica, social e das instituições. É evidente que uma esperança, em larga medida por cumprir. Deixou-nos a herança da Revolução Francesa, da igualdade, da fraternidade e da democracia. Estes valores republicanos foram restituídos pela Revolução do 25 de Abril, com um novo impulso e uma nova vida. Nesse sentido, a 1.ª República é um começo com o qual temos de aprender.


 

Maria de Fátima Gomes

quarta-feira, 29 de setembro de 2021

O Pato na Escola - ou a defesa da humanidade que nos liberta

 

O Pato na Escola - ou a defesa da humanidade que nos liberta

 

A escola é o lugar onde deveríamos aprender a ser nós próprios e a respeitar todos os outros. Estar na escola, viver a escola deverá ser o caminho para chegar a conhecer, a amar e a desenvolver a nossa pessoa e, ao mesmo tempo, a ter em conta que há outras que merecem o nosso respeito, a nossa ajuda e o nosso afecto.

Quando falo de diversidade, não me refiro só aos alunos. Também há diferenças que devemos respeitar nos professores e nas professoras.

Diz Steiner que a relação professor-aluno é "uma alegoria do amor desinteressado". Ir todos os dias à escola. A sentirmo-nos como somos ou a encaixarmos numa engrenagem de rotinas despersonalizadoras? A obedecer de forma aborrecida àquele que prescreve, nas palavras de Helmutt Becker, a "escola administrada" ou a recriar o conhecimento e a convivência? A que cada pessoa seja cada vez mais ela própria ou a metermo-nos num molde único?

Certo dia, os animais do bosque decidiram fazer algo para enfrentar os problemas do mundo novo e organizaram uma escola. Adoptaram um currículo de actividades que consistia em correr, trepar, nadar e voar e, para que fosse mais fácil ensiná-lo, todos os animais se matricularam em todas as disciplinas.

O pato era um aluno destacado na disciplina de natação. De facto, era melhor que o seu professor. Obteve um suficiente em voo, mas em corrida não passou do insuficiente. Como era de aprendizagem lenta em corrida, teve que ficar na escola depois do fim das aulas e que abandonar a natação para poder praticar a corrida. Estes exercícios continuaram até que os seus pés membranosos se desgas¬taram, e então passou a ser apenas um aluno médio em natação. Mas a mediania era aceitável na escola, de modo que ninguém se preocupou com o sucedido, excepto, como é natural, o pato.

A lebre começou o ano lectivo como a aluna mais distinta em corrida mas sofreu um colapso nervoso por excesso de trabalho em natação. O esquilo destacou-se na disciplina de trepar, até que manifestou um síndroma de frustração nas aulas de voo, em que o seu professor lhe dizia que começasse desde o chão, em vez de o fazer de cima de uma árvore. Por último, ficou doente com cãibras por excesso de esforço, e, então, classificaram-no com 12 em trepar e com 8 em corrida.

A águia era uma aluna problemática e teve más notas em comportamento. Na disciplina de trepar, superava todos os restantes alunos no exercício de subir até a copa da árvore, mas insistia em fazê-lo à sua maneira.

Ao terminar o ano, uma enguia anormal, que podia nadar de forma excelente e também correr, trepar e voar um pouco, obteve a melhor média e a medalha para o melhor aluno ...

Esta fábula ajuda-nos a reflectir sobre a diversidade de alunos e de alunas numa escola que tem na homogeneização o seu caminho e a sua meta. A "criança tipo" é um rapaz de raça branca que fala a língua hegemónica, que é católico, saudável, sem deficiências ... numa palavra, normal. É para ele que se dirige o discurso e é ele quem é proposto como modelo para todos (e, curiosamente, para todas).

Sempre se viveu a diferença como uma marca, não como um valor. Procurou-se a homogeneidade como uma meta e, ao mesmo tempo, como um caminho. Os mesmos conteúdos para todos, as mesmas explicações para todos, as mesmas avaliações para todos, as mesmas normas para todos.

Curiosamente, argumentava-se com a justiça como fundamento dessa uniformidade. Sem dar-se conta de que não há maior injustiça do que exigir o mesmo a indivíduos tão diferentes. Não é justo exigir que percorram o mesmo trajecto, em tempos exactos, um coxo e uma pessoa em perfeito uso das duas pernas. A injustiça é ainda maior quando as diferenças são cultivadas, procuradas e impostas. Voltando ao exemplo da corrida: seria razoável exigir um percurso igual a quem pode correr sem obstáculos e a alguém a quem se atou a um pé uma enorme bola de ferro? A bola de ferro de ser mulher, de ser pobre, de ser cigano, de ser imigrante ...

A diferença é consubstancial ao ser humano. Somos únicos, irrepetíveis, em constante evolução. Se um centímetro quadrado de pele (as impressões digitais) nos torna diferentes de milhares de milhões de indivíduos, o que fará a pele inteira? E o que se passará com o nosso interior, cheio de emoções, dúvidas, credos, valores, conflitos .. .? Disse uma vez que há dois tipos de crianças: os inclassificáveis e os de difícil classificação. Como é possível que tratemos todos por igual?

Diferenciam-nos as atitudes, as capacidades, as emoções, a cultura, a religião, a raça, o sexo (e o género), o dinheiro ... Nem todas as diferenças são do mesmo tipo e nem com todas elas se deve proceder da mesma forma.

Perante algumas diferenças, há que aplicar medidas de redistribuição. Se há pobres e ricos, o que deveríamos tentar é distribuir os bens de maneira a que as diferenças desaparecessem. Há diferenças que exigem outra actuação política e educativa. Se um é homossexual e outro heterossexual, a actuação pertinente não é igualá-los mas sim respeitá-los. Se um é católico, outro mórmon e o outro agnóstico, o que há a fazer é valorizar cada uma das opções, respeitar cada pessoa. Essas actuações são de reconhecimento. Por vezes, há que combinar as políticas de redistribuição com as de reconhecimento. Por exemplo, as mulheres têm que receber uma política de reconhecimentos (igual dignidade, iguais direitos, igual valor ... ), mas como, ao serem mulheres, têm salários inferiores e menor riqueza, devem também ser objecto de políticas de redistribuição.

A intervenção diferenciadora é ética, já que não há nada mais injusto do que tratar como iguais os que são radicalmente desiguais. Isso supõe um conhecimento de como é cada indivíduo, de como é o seu contexto e a sua história. Isso exige uma actuação metodológica e avaliadora que se adapte às características de cada um.

Quando se classificam alguns alunos como "anormais", que queremos dizer? Que não têm as mesmas potencialidades que os outros, que não reagem como os outros, que não falam como os outros ... Os outros são os normais, o protótipo. Desta forma, a "etiqueta" pesa sobre eles como uma pedra. Menos expectativas, menos estímulos, menos sucesso, menos felicitações, menos ... Que erro! Que horror!

A diferença é uma fortuna que enriquece a todos. Todos pode¬mos atingir o máximo desenvolvimento dentro das possibilidades de cada um. Por isso, é imprescindível mudar de concepção, romper com a tendência uniformizadora. É necessário conhecer o outro, aceitar o outro, amar o outro como é, não como gostaríamos que fosse.

A escola das diferenças humaniza-nos, faz-nos ser melhores. A escola das diferenças torna possível que todos possamos sentir-nos bem nela, que todos possamos aprender. Pelo contrário, a escola homogeneizadora aumenta e multiplica as vítimas.

O pato deixa de gostar da escola. Desnaturaliza-se. Acaba por nadar pior. Compara-se com os que trepam e voam e sente-se inferior. Chega a aprender a ridicularizar os que nadam pior que ele. Definitivamente, converte-se numa vítima.

É possível conseguir uma escola em que todos os meninos e meninas aprendam, se respeitem, gostem uns dos outros? É possível fazer da escola um reflexo do que deveria ser uma sociedade para todos, em que a justiça, a solidariedade e o respeito fossem as leis da convivência? Para lá vamos. Para isso trabalhamos.

Não correm tempos fáceis. Numa sociedade em que prima o individualismo exacerbado, a obsessão pela eficácia, a competitividade extrema, o conformismo social e o relativismo moral. .. , não é fácil ter em conta que a competição está manipulada. A aspiração máxima não é saber quem chega primeiro, mas sim como podemos chegar todos onde cada um pode chegar. A pretensão de uma sociedade justa será a de ajudar quem necessite de atenção especial porque parte de uma situação de inferioridade. A atenção à diversidade é então a causa da justiça.

Quando os desfavorecidos, ao passar pelo sistema educativo, se encontram novamente discriminados e prejudicados, estamos a converter a escola num mecanismo de iniquidade. Precisamente a instituição que deveria corrigir as desigualdades converte-se num elemento que as incrementa e potencia.

Como digo no meu livro A escola que aprende (Santos Guerra, 2000), é necessário que a instituição educativa se abra à aprendizagem, que se questione, que seja sensível à crítica, que analise as suas práticas. De outro modo, estará condenada à rotina, ao individualismo e ao fracasso. A escola não tem apenas a missão de ensinar. Para poder fazê-lo adequadamente, tem que aprender. As instituições inteligentes aprendem sempre. As outras tratam de ensinar com excessiva frequência.

Daqui faço votos por todos os educadores e educadoras que se ocupam com amor de cada menino, de cada menina, com as palavras de Miguel Hernández: "Voltaremos a brindar por tudo o que se perde e se encontra: a liberdade, a alegria e esse carinho que nos arrasta através de toda a terra".

 

Miguel Santos Guerra, No coração da escola. Porto:ASA

quarta-feira, 18 de agosto de 2021

Para Português Ler

     


Para Português Ler

Por que motivo há tantas crianças inteligentes e tantos adultos estúpidos?”

Fica a reflectir acerca disto durante uns parágrafos e acaba por concluir que só pode ser um problema de educação. Por exemplo os desenhos das crianças em geral são magníficos, os dos adultos, excepto no caso de serem artistas de talento, uma bodega. Claro que é um problema de educação: uma criança criativa é herética e subversiva

(até rima, olha) e claro que isso assusta os professores que exigem dos alunos uma normalização que conduz inevitavelmente à mediocridade que tanto tranquiliza os pais. Queremos que os filhos tenham vidinhas, sejam tristemente independentes, consigam um bom casamento, uma, tanto quanto possível, boa casa, um ordenado simpático, filhos bem educados. Claro que admitimos Gauguin ou Mozart desde que não façam parte da família. Em geral as famílias defendem-se criando um maluquinho. Todas têm aquilo que consideram o maluco da família e, quando o maluco, por qualquer motivo, deixa de o ser, apressam-se a arranjar outro antes que a estrutura se desagregue. Não há nada que assuste mais as pessoas do que a criatividade, nada que as apavore mais do que a diferença. A sociedade necessita de medíocres que não ponham em questão os princípios fundamentais e eles aí estão: dirigem os países, as grandes empresas, os ministérios, etc. Eu oiço-os falar e pasmo não haver praticamente um único líder que não seja pateta, um único discurso que não seja um rol de lugares comuns. Mas os que giram em torno deles não são melhores. Desconhecemos até os nossos grandes homens: quem leu Camões por exemplo? Quase ninguém. Quem sabe alguma coisa sobre Afonso de Albuquerque? Mas todos os dias há paleios cretinos acerca de futebol em quase todos os canais. Porque não é perigoso. Porque tranquiliza. Os programas de televisão são quase sempre miseráveis mas é vital que sejam miseráveis. E queremos que as nossas crianças se tornem adultos miseráveis também, o que para as pessoas em geral significa responsáveis. Reparem, por exemplo, em Churchill. Quando tudo estava normal, pacífico, calmo, não o queriam como governante. Nas situações extremas, quando era necessário um homem corajoso, lúcido, clarividente, imaginativo, iam a correr buscá-lo. Os homens excepcionais servem apenas para situações excepcionais, pois são os únicos capazes de as resolverem. Desaparece a situação excepcional e prescindimos deles. Gostamos dos idiotas porque não nos colocam em causa. Quanto às pessoas de alto nível a sociedade descobriu uma forma espantosa de as neutralizar: adoptou-as. Fez de Garrett e Camilo viscondes, como a Inglaterra adoptou Dickens. E pronto, ei-los na ordem, com alguns desvios que a gente perdoa porque são assim meio esquisitos, sabes como ele é, coitado, mas, apesar disso, tem qualidades. Temos medo do novo, do diferente, do que incomoda o sossego. A criatividade foi sempre uma ameaça tremenda: e então entronizamos meios-artistas, meios-cientistas, meios-escritores. Claro que há aqueles malucos como Picasso ou Miró e necessitamos de os ter no Zoológico do nosso espírito embora entreguemos o nosso dinheiro a imbecis oportunistas a que chamamos gestores. E, claro, os gestores gastam mais do que gerem, com o seu português horrível e a sua habilidade de vendedores ambulantes: Porquê? Porque nos sossegam. Salazar sossegava. De Gaulle, goste-se dele ou não, inquietava. Eu faria um único teste aos políticos, aos administradores, a essa gentinha. Um teste ao seu sentido de humor. Apontem-me um que o tenha. Um só. Uma criatura sem humor é um ser horrível. Os judeus dizem: os homens falam, Deus ri. E, lendo o que as pessoas dizem, ri-se de certeza às gargalhadas. E daí não sei. Voltando à pergunta de Dumas – Porque é que há tantas crianças inteligentes e tantos adultos estúpidos?

não tenho a certeza de ser um problema de educação que mais não seja porque os educadores, coitados, não sabem distinguir entre ensino, aprendizagem e educação. A minha resposta a esta questão é outra. Há muitas crianças inteligentes e muitos adultos estúpidos porque matámos o máximo de crianças que perdemos quando elas começaram a crescer. Por inveja, claro. Mas, sobretudo, por medo.

António Lobo Antunes

terça-feira, 15 de junho de 2021

Santos populares - S. João

 

Junho é o mês dos Santos Populares com festas e arraiais por todo o país nas noites de Santo António, de São João e de São Pedro.

As principais são as Festas de Lisboa, de 12 para 13 de junho, dia de Santo António, e as do Porto, na noite de 23 para 24 de junho, quando se celebra o S. João. São festas duma grande animação, em que o povo vem para a rua comer, beber e divertir-se pelas ruas dos bairros populares, engalanadas com arcos, balões coloridos e cheiros de manjerico.

Em Lisboa as marchas populares de cada bairro desfilam pela Av. da Liberdade, enchendo aquela artéria de centenas de figurantes, música, colorido e muito público. Mas a enchente e a animação não são menores nas ruas desses bairros, com destaque para Alfama, mas também para a Graça, Bica, Mouraria ou Madragoa. Nos largos e vielas medievais, come-se caldo verde e sardinha assada, canta-se e baila-se noite dentro. Outro momento alto é a procissão de Santo António, que no dia 13 sai da sua igreja, situada em Alfama, junto à Sé, no local onde este santo nasceu, cerca de 1193

https://www.visitportugal.com/pt-pt/node/210955

 

 

S. João e o Porto

 

S. João torna-se feriado da cidade do Porto depois do povo assim o ter decidido.

E tudo graças a um decreto republicano de 1911 como resposta a um referendo aos portuenses, promovido pelo Jornal de Notícias. A história é curiosa e mostra o protagonismo que, já na altura, a Comunicação Social tinha no modus vivendi urbano.

 

Em Janeiro de 1911 o Governo Provisório redefiniu os dias feriados em Portugal. Por decreto, a República instituiu como feriados nacionais o 31 de Janeiro (primeira tentativa - falhada - de revolução republicana, em 1891, no Porto), o 5 de Outubro (instauração da República) e o 1º de Dezembro (restauração da independência em 1640), para além do Natal e do Ano Novo. O mesmo decreto impunha, a cada município do país, a escolha de um dia feriado próprio: "As câmaras ou commissões municipaes e entidades que exercem commissões de administração municipal, proporão um dia em cada anno para ser considerado feriado, dentro da area dos respectivos concelhos ou circumscripções, escolhendo-os d'entre os que representem factos tradicionaes e característicos do município ou circumscripção". Desta forma, a Comissão Administrativa do Município do Porto reuniu a 19 de Janeiro de 1911. Segundo o relato do Jornal de Notícias, o "velho e conceituado republicano, sr. Henrique Pereira d'Oliveira" logo sugeriu a data de 24 de Junho para feriado municipal.

No entanto, esta sugestão foi contestada, não havendo consenso. Então, "o sr. dr. Souza Junior lembrou, inspirado n'um alto princípio democrático, que não devia a Commissão deliberar nada sem que o povo do Porto, por qualquer forma, se pronunciasse em tal assumpto".

Desta forma sugere-se ao  Jornal de Notícias que organize um referendo popular para escolher o feriado municipal. Assim, no dia 21 de Janeiro dois dias após a reunião da Comissão Administrativa, foi colocado na primeira página do jornal o anúncio da "Consulta ao Povo do Porto", explicando toda a situação e a forma de participação. As pessoas teriam que enviar, até ao dia 2 de Fevereiro,

"um bilhete postal ou meia folha de papel dentro de enveloppe" para a redação do jornal, com a indicação do dia preferido. Para recompensar o trabalho dos leitores, o Jornal de Notícias oferecia "dez valiosos premios" - o mais valioso era de 10 mil réis, cerca de cem escudos - a serem sorteados de entre todos aqueles que votassem.

A vitória foi quase só discutida entre o dia de S. João, já com larga tradição na cidade, e o 1º de Maio, Dia do Trabalhador, a que não será alheio o facto de a cidade do Porto ser considerada "a capital do trabalho".

A 4 de Fevereiro de 1911, foram publicados os totais finais da consulta popular: o dia 24 de Junho foi o mais votado, com 6565 votos, seguido pelo 1º de Maio, com 3075 votos, o dia de Nossa Senhora da Conceição, com 1975 votos, e o dia 9 de Julho, com oito.

No entanto, os  resultados do referendo não eram vinculativos, mas foram usados na sessão camarária de 2 de março de 2011 como argumento favorável à escolha do 24 de junho. Aquando da aprovação, a ata da sessão mostra que o feriado foi aprovado “não como dia de São João, mas como de festa da natureza”, mostrando o cuidado dos republicanos em associar a escolha à festa do solstício e não a uma celebração religiosa.

 

Quem é S. João?

 Há quem defenda que S. João é natural do Porto,  nasceu no século IX, vivendo  a sua vida eremítica na região de Tuy, onde foi sepultado. No séc. XVII ainda aí se conservavam as suas relíquias, de grande veneração entre os fiéis que acreditavam que S. João os salvaria das febres.

Diz a tradição que a cabeça de S. João do Porto terá sido trazida pela Rainha Dona Mafalda no século XII para a Igreja de São Salvador da Gandra e que parte dessa relíquia teria sido transportada posteriormente para a capela da “Santa Cabeça” da Igreja de N ª Sra. da Consolação, na Cidade do Porto.

A versão mais popular para o celebrado S. João, é a de  São João Baptista que nasceu perto de Jerusalém, na mesma altura de Cristo e seu primo. Pregador judeu do início do século I, citado pelo historiador Flávio Josefo e os autores dos quatro Evangelhos da Bíblia, João terá nascido pela mesma altura de Jesus Cristo.

São João é reconhecido por Cristo como o maior dos profetas terrenos

João Baptista batizou Jesus, embora achasse que ele é que deveria ser batizado por Jesus. Morreu com cerca de 30 anos, decapitado a mando de Herodes Antipas.


Por que é celebrado a 24 de junho?

A 24 de junho celebra-se a natividade, ou nascimento, de João Baptista. Um nascimento que, tal como o de Jesus Cristo, também resulta de um milagre. Como se pode ler no Evangelho de São Lucas, o sacerdote Zacarias e a sua mulher Isabel não tinham filhos porque Isabel era estéril. Já em idade avançada, Isabel recebeu a visita do Anjo Gabriel, que anunciou que ela iria conceber um bebé chamado João. Seis meses mais tarde, a sua prima Maria visita-a para lhe contar o mesmo milagre. A prima a que nos referimos é a Virgem Maria e a criança que ela iria dar à luz, também por a anúncio do Anjo Gabriel, chamar-se-ia Jesus.

No entanto  24 de junho coincide com o solstício de verão (o dia com o maior número de horas de luz solar do ano), logo  altura de celebrar a natureza, as colheitas e mostrar adoração ao deus do Sol. A igreja católica ao converter os povos pagãos, cristianizou a festa.

 


FESTA

A primeira referência aos festejos sanjoaninos remonta ao século  XIV já que Fernão Lopes se refere a esta festa. 

Em 1851, os jornais relatavam a presença de cerca de 25 mil pessoas nos festejos sanjoaninos entre os Clérigos e a Rua de Santo António.

1910, um concurso hípico integrado nos festejos motivou a presença do infante D. Afonso, tio do rei (a revolução republicana apenas se daria em Outubro).

Nesta festa, destacam-se os alhos porros para bater na cabeça de quem passa, saltos à fogueira, manjericos com quadras, lançamento de balões de ar quente e enfeites coloridos. A partir de em 1963, os martelinhos impuseram-se.





É costume os foliões percorrerem a cidade, durante toda a noite, terminando a sua rusga na praia, madrugada dentro.

 Fernão Lopes, o primeiro cronista da História portuguesa, relata uma visita ao Porto, no século XIV, e descreve uma grande festa vivida pelas gentes da cidade.

As fogueiras, as cascatas e os balões?

As fogueiras, de origem europeia, remontam às festas de celebração do solstício de verão com um dos elementos da natureza, o fogo.

Alguns mais crentes acreditam que a fogueira tem origem num acordo feito pelas primas Maria e Isabel. Grávida de João Baptista, Isabel teria de fazer uma fogueira no cimo do monte para avisar que estava prestes a nascer o seu filho.

Os balões de ar quente feitos em papel enchem os céus na noite de São João e também estão ligados à tradição do fogo.

As cascatas começaram a aparecer no século XIX e têm no Porto grande tradição.

As cascatas parecem presépios animados. De acordo com Hélder Pacheco, as pessoas aproveitavam as figuras dos presépio – também uma novidade recente, do século XVIII – e substituíam a sagrada família e os reis magos pelos santos populares.

De onde vem a tradição dos martelinhos de São João?

Os martelos de plástico que as pessoas levam na noite de São João para bater na cabeça uns dos outros foram inventados em 1963 por Manuel Boaventura, industrial do Porto. A ideia era criar mais um brinquedo para o negócio, pelo que  nesse ano, Manuel decidiu oferecer vários martelos azuis e brancos aos estudantes durante a semana da Queima das Fitas, em Maio. Tornaram tão apreciados que no S. João já muita gente os usava.

 https://www.facebook.com/groups/2144295179124132







































São João só se celebra no Porto?

Este santo também é celebrado em grande em outras cidades portuguesas, como Braga e também Almada.. Em Angra do Heroísmo, na ilha Terceira, nos Açores, as sanjoaninas compõem-se de desfiles, marchas, carros alegóricos, danças e bailaricos.

No entanto, há celebrações um pouco por toda a Europa e até no Canadá.

   

São João é o santo padroeiro da cidade do Porto?

Apesar de ser o santo mais celebrado da Cidade  que  proporciona a maior festa da cidade e de ter direito a feriado municipal, São João não é o padroeiro do Porto.

A padroeira é Nossa  Senhora da Vandoma. Nos mais antigos brasões da cidade pode ler-se a inscrição latina “civitas virginis”, ou cidade da virgem, em referência a Nossa Senhora da Vandoma.

Hélder Pacheco. O livro de S. João Do Porto, Ed. Afrontamento



A Chave da Minha Porta

 Amália

"Eu vi-te pelo São João

Começou o namorico

E dei-te o meu coração

Em troca de um manjerico

 

O nosso amor começou

No baile da minha rua

Quando São Pedro chegou

Tu eras meu e eu era tua

 

Esperava por ti

Como é de ver de quem ama

Tu vinhas tarde p'ra casa

Eu ia cedo p'rá cama

 

P'ra me enganar

Que a esperança em mim estava morta

Deixava a chave a espreitar

Debaixo da minha porta

 

Deixava a chave a espreitar

Debaixo da minha porta

 

Passou tempo e noutro baile

Tu sempre conquistador

Lá foste atrás de outro xaile

E arranjaste outro amor

 

Fiquei louca de ciúme

Porque sei que esta paixão

Não voltará a ser lume

Pra te aquecer o coração

 

Espero por ti

Como é sina de quem ama

Tu já não vens para casa

Mas eu vou cedo p'rá cama

 

P'ra me enganar

Que a esperança em mim já está morta

Eu deixo a chave a espreitar

Debaixo da minha porta

 

Eu deixo a chave a espreitar

Debaixo da minha porta

 

P'ra me enganar

Que a esperança em mim já está morta

Eu deixo a chave a espreitar

Debaixo da minha porta"

 

 Webgrafia:

  viajandonotempo  - https://viajandonotempo.blogs.sapo.pt/20151.html


https://www.oportoencanta.com/2015/06/uma-cascata-de-sao-joao-com-mais-de-40.html

 




Santo António

 

Lenda de Santo António na rota do românico


Marmoiral de Sobrado


 



O Marmoiral de Sobrado, em Castelo de Paiva, liga-se a uma lenda de Santo António. "Reza a lenda que vivia ali perto Martim, um descendente dos Bulhões. Este, apaixonou-se por Maria Teresa Taveira, mas o pai exigiu que Martim fosse à guerra antes de casar com a filha. Na guerra foi capturado pelos Mouros. Entretanto, o pai de Maria faleceu e esta começou a pressionada para casar com o muito rico D. Fafes.

 “Entretanto, o capelão daquela zona sabendo o que tinha acontecido negociou com os Mouros a libertação de D. Martim. Este, na esperança de recuperar a amada, travou um duelo com D. Fafes, do qual saiu vencedor, acabando por casar com Maria Taveira. Diz a lenda que D. Martim mandou construir um Marmoiral, onde estão gravadas as espadas em memória deste momento. Trata-se do Marmoiral de Sobrado. Aqui surge a grande curiosidade: Martim de Bulhões casou com D. Maria e tiveram um filho: Fernando de Bulhões, conhecido como Santo António de Lisboa", explica Joaquim Costa.” Rota do românico.

 Memoriais e Marmoiral que podem ser visitados a qualquer momento. Fica uma sugestão: a Rota do Românico organiza programas turísticos que podem ser de um, dois ou três dias. Também é possível criar um programa personalizado. Encontra todas as informações na página da internet da Rota do Românico.

 Santo António ou Fernando António de Bulhões, nasceu em Lisboa, a 15 de agosto de 1195. Era filho do  nobre e rico de Martinho de Bulhões, oficial do exercito de Dom Afonso e de Tereza Taveira. Fez a sua formação inicial com  os cónegos da Catedral de Lisboa.

 Aos 19 anos entrou para o Mosteiro de São Vicente dos Cónegos Regulares de Santo Agostinho, contra a vontade de seu pai, onde permaneceu dois anos, dedicando-se ao estudo e oração. Depois foi transferido para Coimbra, onde ficou 10 anos e lá foi ordenado sacerdote, distinguindo-se pelo dom da palavra, na pregação.  

 Em Coimbra o Padre António conhece os freis franciscanos, e entusiasmando-se pelo fervor e pureza com que estes viviam o Evangelho, torna-se Frei António, mudando-se para o mosteiro de São Francisco de Assis.

 Entretanto, Santo António faz o pedido de ir para o Marrocos pregar o evangelho. Na viagem, a meio do caminho, porém, Frei António fica muito doente e é forçado a voltar para Portugal. No entanto, na viagem de regresso, o barco é desviado para Itália, terminando por parar na Sicília, em um grande encontro de mais de 5 mil frades franciscanos chamado Capítulo das Esteiras. Lá, António conhece pessoalmente São Francisco de Assis.

 A luz deve brilhar para todos

Após conhecer São Francisco, Frei António passa 15 meses como um eremita no monte Paolo. São Francisco nota os dons de que era possuído e dirige-se-lhe como  “Frei António, meu Bispo” e encarrega-o da formação teológica dos irmãos do Mosteiro.

No capítulo geral da ordem dos franciscanos, é decido que Francisco vá a  Roma para tratar de assuntos da ordem com o Papa Gregório IX, que impressionado com sua inteligência e eloquência, nomeia-o de Arca do Testamento.

Mais tarde, São Francisco nomeia-o  primeiro leitor de Teologia da Ordem. Em seguida, mandou-o estudar teologia para ensinar os alunos e pregar ainda melhor. Chegavam a juntar-se  mais de 30 mil pessoas para o ouvir  pregar, e muitos milagres aconteciam. Após a morte de São Francisco, foi enviado a Roma para apresentar ao Papa a Regra da Ordem de São Francisco.

 Santo António e o povo

 É considerado o protetor das coisas perdidas, dos casamentos e dos pobres, daí o costume de no seu dia, em algumas igrejas que lhe são dedicadas, ser distribuído um pão aos pobres, “o pão de santo António” ou “pão dos pobres”

 Como santo milagreiro, fez muitos ainda em vida. Durante as suas pregações nas praças e igrejas, muitos cegos, surdos, coxos e muitos doentes ficavam curados. Redigiu, ainda,  os Sermões, tratados sobre a quaresma e os evangelhos, que estão impressos em dois grandes volumes de sua obra.

 Santo António morreu em Pádua, na Itália, em 13 de junho de 1231, com 36 anos. Por isso mesmo, é conhecido também como Santo Antônio de Pádua. 

 Os meninos da cidade logo saíram a dar a notícia: o Santo morreu.

Em Lisboa, diz-se que  os sinos das igrejas começaram a repicar sozinhos e só depois o povo soube da morte do Santo. É, também, chamado de Santo Antônio de Lisboa, por ser sua cidade de origem.

 Devoção a Santo António

Devido aos milagres acontecidos após a sua morte, onze meses depois, foi beatificado e canonizado pelo Papa Gregório IX, na catedral de Espoleto, em 30 de maio de 1232, sendo o processo mais rápido da história da Igreja. Quando seu corpo foi exumado, a sua língua estava intacta. São Boaventura estava presente e disse que esse milagre era a prova de que sua pregação era inspirada por Deus. Está exposta na Basílica de Santo António na cidade de Pádua. 

Em 1934 foi declarado Padroeiro de Portugal.

Em 1946 foi proclamado Doutor da Igreja pelo Papa Pio XII.

Oração  a Santo António

“Meu querido Santo António dos mais carinhosos, o vosso ardente amor a Deus, as vossas sublimes virtudes e grande caridade para o próximo, vos mereceram durante a vida o poder de fazer milagres espantosos. Nada vos era impossível senão deixar de sentir compaixão pelos que necessitavam da vossa eficaz intercessão. A vós recorremos e vos imploramos que nos obtenhais a  graça especial que nesse momento pedimos. Ó bondoso e santo taumaturgo, cujo coração estava sempre cheio de simpatia pelos homens, segredai as nossas preces ao Menino Jesus, que tanto gostava de repousar nos vossos braços. Uma palavra vossa nos obterá  as mercês que pedimos.

 Entre o povo é costume recorrer ao Santo, quando se perde alguma coisa. É preciso ler o responso sem nenhum engano. Diz a crença que se não houver engano, o objeto perdido, será recuperado.

 Responsório de Santo Antônio.

Se milagres desejais

Recorrei a Santo Antônio

Vereis fugir o demônio

E as tentações infernais.

Recupera-se o perdido

Rompe-se a dura prisão

E no auge do furacão

Cede o mar embravecido.

Pela sua intercessão

Foge a peste, o erro a morte

O fraco torna-se forte

E torna-se o enfermo são.

Todos os males humanos

Se moderam e retiram

Digam-no aqueles que o viram

E digam-nos os paduanos.

Rogai por nós Santo António, para que sejamos dignos das promessas de Cristo.