segunda-feira, 14 de julho de 2014

Balanço

Balanço

Tempo de férias é também tempo de balanço e um professor que se dedica quase por completo aos seus alunos, obedece à lei da inércia e como que precisa continuar a pensar e repensar as práticas letivas.
Este ato reflexivo que a mim, pessoalmente, me leva a fazer inquéritos aos alunos já foi, algumas vezes , visto como algo de estranho, como se não estivesse insegura do que estou a fazer.
E no fundo é verdade, os jovens, hoje, ou gostam muito de História e aprendem bem na aula ou se vêm que é necessário estudar muito, começam a desinteressar-se, até porque a História do 3º ciclo, lida com conceitos muito complicados para os alunos, que se tornam mais complexos quando vêm, nos pais, um alheamento face ao político e começa a vingar a mentalidade do deixa andar.
Na verdade, nos tempos que correm, para quê ter um diploma se não há garantia de emprego. A regra de estudar para singrar na vida já não é mais verdadeira. Há muitos jovens que conseguem êxito nas empresas dos pais e outros tentam empregos que não necessitariam da formação obtida pelos seus executores, ou melhor colaboradores, como é moda, agora. Outros mais aventureiros atiram-se para o estrangeiro.
As direções gerais e as direções de escola pressionam os professores para cumprir o programa, que não deixa tempo para relacionamentos e emoções necessárias ao bom funcionamento das aulas. O atender ao outro, parar quando algum aluno está a sentir-se perturbado pelo trabalho planeado pelo professor, complica esta meta que o docente tem que cumprir. Mas é evidente que é necessário privilegiar a empatia e o trabalho do aluno. O surgimento das metas vai complicar este processo, mas temos que arranjar uma saída.
E continuamos nós os facilitadores da aprendizagem a pensar e a reformular, a observar, a fazer inquéritos, a falar, a pedir sugestões numa perspetiva de humildade de quem nada sabe da vida, é verdade.
Sei que, por vezes, este posicionamento pode parecer inexperiente,  para não dizer senil, numa professora com trinta e três anos de serviço. É que face a condições que não são ideais, às vezes nem boas, os alunos interessados, curiosos, perdem-se com os outros e a nossa atenção desgasta-se nesta disrupção.
Há uns dias, uma colega contava um encontro com alunos seus que reconheciam o quanto ela fez por eles. Estes momentos são, sem dúvida, as medalhas de ouro de qualquer professor, mas penso que vão rareando.
Lembro com saudade a aluna que me encontra e depois de uma conversa animada me diz que está em História, porque eu a convenci a isso com o entusiasmo com que dava as aulas. Hoje, pouca gente vai para História, ou vão os entusiastas loucos, como também já tive e mais uma vez, recordo com gratidão pelo reconhecimento do meu trabalho, ou quem não sabe o que há-de fazer e acha o curso fácil. Aliás, já li que o curso de História, nos E.U. A. era tirado pelas donas de casa, para ocuparem o tempo e a curiosidade. Hoje, não é, na verdade, um curso que dê prestígio a quem o tira, a não ser que se volte para a política ou outro assunto mais pertinente.
E como vai longa esta reflexão, quero terminar por elevar a minha auto-estima ao registar aquele aluno, um matulão, que me chama de dentro de um carro, me diz que está a acabar engenharia e me agradece tudo o que fiz por ele, num momento difícil. Mas, depois vem-me à memória aquele outro que frequentemente desabafava comigo os seus problemas pessoais, que me dizia que afinal os professores não queriam o mal dos alunos mas estavam prontos a ajudar, mas, que de um momento para o outro, se perde na voragem da vida. Não somos deuses, eu sei, mas sangramos, por vezes!

Como se trata de auto-estima deixo a bonequinha que uma aluna que terminou o 3º ciclo me deixou. Obrigada por tudo. Os professores são adultos mas também precisam de reforços positivos. Bem hajas e bem hajam os outros que verbalizam a sua admiração! Beijinhos para todos, porque sei que muitos não são capazes de expressar o que lhes vai na alma e outros ainda não se deram conta do que o professor fez por eles.




quinta-feira, 10 de julho de 2014

Para refletir: ontem/hoje

Aviso: Quem for ainda jovem, de idade, é capaz de experimentar certas dificuldades em visualizar e acreditar em certas situações.


       

30 nos de diferença...


Situação: O Pedro está a pensar ir até ao monte depois das aulas, assim que entra no colégio mostra uma navalha ao João, com a qual espera poder fazer uma fisga:
Ano 1978: O director da escola vê, pergunta-lhe onde se vendem, mostra-lhe a sua, que é mais antiga, mas que também é boa.
Ano 2008: A escola é encerrada, chamam a Polícia Judiciária e levam o Pedro para um reformatório. A SIC e a TVI apresentam os telejornais desde a porta da escola.

Situação: O Carlos e o Quim trocam uns socos no fim das aulas:
Ano 1978: Os companheiros animam a luta, o Carlos ganha. Dão as mãos e acabam por ir juntos jogar matrecos.
Ano 2008: A escola é encerrada. A SIC proclama o mês anti-violência escolar, O Jornal de Notícias faz uma capa inteira dedicada ao tema, e a TVI insiste em colocar a Moura-Guedes à porta da escola a apresentar o telejornal, mesmo debaixo de chuva.

Situação: O Jaime não pára quieto nas aulas, interrompe e incomoda os
colegas:
Ano 1978: Mandam o Jaime ir falar com o Director, e este dá-lhe uma bronca de todo o tamanho. O Jaime volta à aula, senta-se em silêncio e não interrompe mais.
Ano 2008: Administram ao Jaime umas valentes doses de Ritalin. O Jaime parece um Zombie. A escola recebe um apoio financeiro por terem um aluno incapacitado.

Situação: O Luis parte o vidro dum carro do bairro dele. O pai caça um cinto e espeta-lhe umas chicotadas com este:
Ano 1978: O Luis tem mais cuidado da próxima vez. Cresce normalmente, vai à universidade e converte-se num homem de negócios bem sucedido.
Ano 2008: Prendem o pai do Luís por maus tratos a menores. Sem a figura paterna, o Luís junta-se a um gang de rua. Os psicólogos convencem a sua irmã que o pai abusava dela e metem-no na cadeia para sempre. A mãe do Luís começa a namorar com o psicólogo. O programa da Fátima Lopes mantém durante meses o caso em estudo, bem como o Você na TV do Manuel Luís Goucha.

Situação: O Zézinho cai enquanto praticava atletismo, arranha um joelho. A sua professora Maria encontra-o sentado na berma da pista a chorar. Maria abraça-o para o consolar:
Ano 1978: Passado pouco tempo, o Zézinho sente-se melhor e continua a correr.
Ano 2008: A Maria é acusada de perversão de menores e vai para o desemprego.
Confronta-se com 3 anos de prisão. O Zézinho passa 5 anos de terapia em terapia. Os seus pais processam a escola por negligência e a Maria por trauma emocional, ganhando ambos os processos. Maria, no desemprego e cheia de dívidas suicida-se atirando-se de um prédio. Ao aterrar, cai em cima de um carro, mas antes ainda parte com o corpo uma varanda. O dono do carro e do apartamento processam os familiares da Maria por destruição de propriedade. Ganham. A SIC e a TVI produzem um filme baseado neste caso.

Situação: Um menino branco e um menino negro andam à batatada por um ter chamado 'chocolate' ao outro:
Ano 1978: Depois de uns socos esquivos, levantam-se e cada um para sua casa. Amanhã são colegas.
Ano 2008: A TVI envia os seus melhores correspondentes. A SIC prepara uma grande reportagem dessas com investigadores que passaram dias no colégio a averiguar factos. Emitem-se programas documentários sobre jovens problemáticos e ódio racial. A juventude Skinhead finge revolucionar-se a respeito disto. O governo oferece um apartamento à família do miúdo negro.

Situação: Tens que fazer uma viagem:
Ano 1978: Viajas num avião de TAP, dão-te de comer, convidam-te a beber seja o que for, tudo servido por hospedeiras de bordo espectaculares, num banco que cabem dois como tu.
Ano 2008: Entras no avião a apertar o cinto nas calças, que te obrigaram a tirar no controle. Enfiam-te num banco onde tens de respirar fundo para entrar e espetas o cotovelo na boca do passageiro ao lado e se tiveres sede o hospedeiro maricas apresenta-te um menu de bebidas com os preços inflacionados 150%, só porque sim. E não protestes muito pois quando aterrares enfiam-te o dedo mais gordo do mundo pelo cú acima para ver se trazes drogas.


Situação: Fazias uma asneira na sala de aula:
Ano 1978: O professor espetava duas valentes lostras bem merecidas. Ao chegar a casa o teu pai dava-te mais duas porque 'alguma deves ter feito'
Ano 2008: O professor pede-te desculpa. O teu pai pede-te desculpa e compra-te uma Playstation 3.

Situação: Chega o dia de mudança de horário de Verão para Inverno:
Ano 1978: Não se passa nada.
Ano 2008: As pessoas sofrem de distúrbios de sono, depressão e caganeira.

Situação: O fim das férias:
Ano 1978: Depois de passar 15 dias com a família atrelada numa caravana puxada por um Fiat 600 pela costa de Portugal, terminam as férias. No dia seguinte vai-se trabalhar.
Ano 2008: Depois de voltar de Cancún de uma viagem com tudo pago, terminam as férias. As pessoas sofrem de distúrbios de sono, depressão, seborreia e caganeira.

Anónimo