terça-feira, 15 de junho de 2021

Santos populares - S. João

 

Junho é o mês dos Santos Populares com festas e arraiais por todo o país nas noites de Santo António, de São João e de São Pedro.

As principais são as Festas de Lisboa, de 12 para 13 de junho, dia de Santo António, e as do Porto, na noite de 23 para 24 de junho, quando se celebra o S. João. São festas duma grande animação, em que o povo vem para a rua comer, beber e divertir-se pelas ruas dos bairros populares, engalanadas com arcos, balões coloridos e cheiros de manjerico.

Em Lisboa as marchas populares de cada bairro desfilam pela Av. da Liberdade, enchendo aquela artéria de centenas de figurantes, música, colorido e muito público. Mas a enchente e a animação não são menores nas ruas desses bairros, com destaque para Alfama, mas também para a Graça, Bica, Mouraria ou Madragoa. Nos largos e vielas medievais, come-se caldo verde e sardinha assada, canta-se e baila-se noite dentro. Outro momento alto é a procissão de Santo António, que no dia 13 sai da sua igreja, situada em Alfama, junto à Sé, no local onde este santo nasceu, cerca de 1193

https://www.visitportugal.com/pt-pt/node/210955

 

 

S. João e o Porto

 

S. João torna-se feriado da cidade do Porto depois do povo assim o ter decidido.

E tudo graças a um decreto republicano de 1911 como resposta a um referendo aos portuenses, promovido pelo Jornal de Notícias. A história é curiosa e mostra o protagonismo que, já na altura, a Comunicação Social tinha no modus vivendi urbano.

 

Em Janeiro de 1911 o Governo Provisório redefiniu os dias feriados em Portugal. Por decreto, a República instituiu como feriados nacionais o 31 de Janeiro (primeira tentativa - falhada - de revolução republicana, em 1891, no Porto), o 5 de Outubro (instauração da República) e o 1º de Dezembro (restauração da independência em 1640), para além do Natal e do Ano Novo. O mesmo decreto impunha, a cada município do país, a escolha de um dia feriado próprio: "As câmaras ou commissões municipaes e entidades que exercem commissões de administração municipal, proporão um dia em cada anno para ser considerado feriado, dentro da area dos respectivos concelhos ou circumscripções, escolhendo-os d'entre os que representem factos tradicionaes e característicos do município ou circumscripção". Desta forma, a Comissão Administrativa do Município do Porto reuniu a 19 de Janeiro de 1911. Segundo o relato do Jornal de Notícias, o "velho e conceituado republicano, sr. Henrique Pereira d'Oliveira" logo sugeriu a data de 24 de Junho para feriado municipal.

No entanto, esta sugestão foi contestada, não havendo consenso. Então, "o sr. dr. Souza Junior lembrou, inspirado n'um alto princípio democrático, que não devia a Commissão deliberar nada sem que o povo do Porto, por qualquer forma, se pronunciasse em tal assumpto".

Desta forma sugere-se ao  Jornal de Notícias que organize um referendo popular para escolher o feriado municipal. Assim, no dia 21 de Janeiro dois dias após a reunião da Comissão Administrativa, foi colocado na primeira página do jornal o anúncio da "Consulta ao Povo do Porto", explicando toda a situação e a forma de participação. As pessoas teriam que enviar, até ao dia 2 de Fevereiro,

"um bilhete postal ou meia folha de papel dentro de enveloppe" para a redação do jornal, com a indicação do dia preferido. Para recompensar o trabalho dos leitores, o Jornal de Notícias oferecia "dez valiosos premios" - o mais valioso era de 10 mil réis, cerca de cem escudos - a serem sorteados de entre todos aqueles que votassem.

A vitória foi quase só discutida entre o dia de S. João, já com larga tradição na cidade, e o 1º de Maio, Dia do Trabalhador, a que não será alheio o facto de a cidade do Porto ser considerada "a capital do trabalho".

A 4 de Fevereiro de 1911, foram publicados os totais finais da consulta popular: o dia 24 de Junho foi o mais votado, com 6565 votos, seguido pelo 1º de Maio, com 3075 votos, o dia de Nossa Senhora da Conceição, com 1975 votos, e o dia 9 de Julho, com oito.

No entanto, os  resultados do referendo não eram vinculativos, mas foram usados na sessão camarária de 2 de março de 2011 como argumento favorável à escolha do 24 de junho. Aquando da aprovação, a ata da sessão mostra que o feriado foi aprovado “não como dia de São João, mas como de festa da natureza”, mostrando o cuidado dos republicanos em associar a escolha à festa do solstício e não a uma celebração religiosa.

 

Quem é S. João?

 Há quem defenda que S. João é natural do Porto,  nasceu no século IX, vivendo  a sua vida eremítica na região de Tuy, onde foi sepultado. No séc. XVII ainda aí se conservavam as suas relíquias, de grande veneração entre os fiéis que acreditavam que S. João os salvaria das febres.

Diz a tradição que a cabeça de S. João do Porto terá sido trazida pela Rainha Dona Mafalda no século XII para a Igreja de São Salvador da Gandra e que parte dessa relíquia teria sido transportada posteriormente para a capela da “Santa Cabeça” da Igreja de N ª Sra. da Consolação, na Cidade do Porto.

A versão mais popular para o celebrado S. João, é a de  São João Baptista que nasceu perto de Jerusalém, na mesma altura de Cristo e seu primo. Pregador judeu do início do século I, citado pelo historiador Flávio Josefo e os autores dos quatro Evangelhos da Bíblia, João terá nascido pela mesma altura de Jesus Cristo.

São João é reconhecido por Cristo como o maior dos profetas terrenos

João Baptista batizou Jesus, embora achasse que ele é que deveria ser batizado por Jesus. Morreu com cerca de 30 anos, decapitado a mando de Herodes Antipas.


Por que é celebrado a 24 de junho?

A 24 de junho celebra-se a natividade, ou nascimento, de João Baptista. Um nascimento que, tal como o de Jesus Cristo, também resulta de um milagre. Como se pode ler no Evangelho de São Lucas, o sacerdote Zacarias e a sua mulher Isabel não tinham filhos porque Isabel era estéril. Já em idade avançada, Isabel recebeu a visita do Anjo Gabriel, que anunciou que ela iria conceber um bebé chamado João. Seis meses mais tarde, a sua prima Maria visita-a para lhe contar o mesmo milagre. A prima a que nos referimos é a Virgem Maria e a criança que ela iria dar à luz, também por a anúncio do Anjo Gabriel, chamar-se-ia Jesus.

No entanto  24 de junho coincide com o solstício de verão (o dia com o maior número de horas de luz solar do ano), logo  altura de celebrar a natureza, as colheitas e mostrar adoração ao deus do Sol. A igreja católica ao converter os povos pagãos, cristianizou a festa.

 


FESTA

A primeira referência aos festejos sanjoaninos remonta ao século  XIV já que Fernão Lopes se refere a esta festa. 

Em 1851, os jornais relatavam a presença de cerca de 25 mil pessoas nos festejos sanjoaninos entre os Clérigos e a Rua de Santo António.

1910, um concurso hípico integrado nos festejos motivou a presença do infante D. Afonso, tio do rei (a revolução republicana apenas se daria em Outubro).

Nesta festa, destacam-se os alhos porros para bater na cabeça de quem passa, saltos à fogueira, manjericos com quadras, lançamento de balões de ar quente e enfeites coloridos. A partir de em 1963, os martelinhos impuseram-se.





É costume os foliões percorrerem a cidade, durante toda a noite, terminando a sua rusga na praia, madrugada dentro.

 Fernão Lopes, o primeiro cronista da História portuguesa, relata uma visita ao Porto, no século XIV, e descreve uma grande festa vivida pelas gentes da cidade.

As fogueiras, as cascatas e os balões?

As fogueiras, de origem europeia, remontam às festas de celebração do solstício de verão com um dos elementos da natureza, o fogo.

Alguns mais crentes acreditam que a fogueira tem origem num acordo feito pelas primas Maria e Isabel. Grávida de João Baptista, Isabel teria de fazer uma fogueira no cimo do monte para avisar que estava prestes a nascer o seu filho.

Os balões de ar quente feitos em papel enchem os céus na noite de São João e também estão ligados à tradição do fogo.

As cascatas começaram a aparecer no século XIX e têm no Porto grande tradição.

As cascatas parecem presépios animados. De acordo com Hélder Pacheco, as pessoas aproveitavam as figuras dos presépio – também uma novidade recente, do século XVIII – e substituíam a sagrada família e os reis magos pelos santos populares.

De onde vem a tradição dos martelinhos de São João?

Os martelos de plástico que as pessoas levam na noite de São João para bater na cabeça uns dos outros foram inventados em 1963 por Manuel Boaventura, industrial do Porto. A ideia era criar mais um brinquedo para o negócio, pelo que  nesse ano, Manuel decidiu oferecer vários martelos azuis e brancos aos estudantes durante a semana da Queima das Fitas, em Maio. Tornaram tão apreciados que no S. João já muita gente os usava.

 https://www.facebook.com/groups/2144295179124132







































São João só se celebra no Porto?

Este santo também é celebrado em grande em outras cidades portuguesas, como Braga e também Almada.. Em Angra do Heroísmo, na ilha Terceira, nos Açores, as sanjoaninas compõem-se de desfiles, marchas, carros alegóricos, danças e bailaricos.

No entanto, há celebrações um pouco por toda a Europa e até no Canadá.

   

São João é o santo padroeiro da cidade do Porto?

Apesar de ser o santo mais celebrado da Cidade  que  proporciona a maior festa da cidade e de ter direito a feriado municipal, São João não é o padroeiro do Porto.

A padroeira é Nossa  Senhora da Vandoma. Nos mais antigos brasões da cidade pode ler-se a inscrição latina “civitas virginis”, ou cidade da virgem, em referência a Nossa Senhora da Vandoma.

Hélder Pacheco. O livro de S. João Do Porto, Ed. Afrontamento



A Chave da Minha Porta

 Amália

"Eu vi-te pelo São João

Começou o namorico

E dei-te o meu coração

Em troca de um manjerico

 

O nosso amor começou

No baile da minha rua

Quando São Pedro chegou

Tu eras meu e eu era tua

 

Esperava por ti

Como é de ver de quem ama

Tu vinhas tarde p'ra casa

Eu ia cedo p'rá cama

 

P'ra me enganar

Que a esperança em mim estava morta

Deixava a chave a espreitar

Debaixo da minha porta

 

Deixava a chave a espreitar

Debaixo da minha porta

 

Passou tempo e noutro baile

Tu sempre conquistador

Lá foste atrás de outro xaile

E arranjaste outro amor

 

Fiquei louca de ciúme

Porque sei que esta paixão

Não voltará a ser lume

Pra te aquecer o coração

 

Espero por ti

Como é sina de quem ama

Tu já não vens para casa

Mas eu vou cedo p'rá cama

 

P'ra me enganar

Que a esperança em mim já está morta

Eu deixo a chave a espreitar

Debaixo da minha porta

 

Eu deixo a chave a espreitar

Debaixo da minha porta

 

P'ra me enganar

Que a esperança em mim já está morta

Eu deixo a chave a espreitar

Debaixo da minha porta"

 

 Webgrafia:

  viajandonotempo  - https://viajandonotempo.blogs.sapo.pt/20151.html


https://www.oportoencanta.com/2015/06/uma-cascata-de-sao-joao-com-mais-de-40.html

 




Santo António

 

Lenda de Santo António na rota do românico


Marmoiral de Sobrado


 



O Marmoiral de Sobrado, em Castelo de Paiva, liga-se a uma lenda de Santo António. "Reza a lenda que vivia ali perto Martim, um descendente dos Bulhões. Este, apaixonou-se por Maria Teresa Taveira, mas o pai exigiu que Martim fosse à guerra antes de casar com a filha. Na guerra foi capturado pelos Mouros. Entretanto, o pai de Maria faleceu e esta começou a pressionada para casar com o muito rico D. Fafes.

 “Entretanto, o capelão daquela zona sabendo o que tinha acontecido negociou com os Mouros a libertação de D. Martim. Este, na esperança de recuperar a amada, travou um duelo com D. Fafes, do qual saiu vencedor, acabando por casar com Maria Taveira. Diz a lenda que D. Martim mandou construir um Marmoiral, onde estão gravadas as espadas em memória deste momento. Trata-se do Marmoiral de Sobrado. Aqui surge a grande curiosidade: Martim de Bulhões casou com D. Maria e tiveram um filho: Fernando de Bulhões, conhecido como Santo António de Lisboa", explica Joaquim Costa.” Rota do românico.

 Memoriais e Marmoiral que podem ser visitados a qualquer momento. Fica uma sugestão: a Rota do Românico organiza programas turísticos que podem ser de um, dois ou três dias. Também é possível criar um programa personalizado. Encontra todas as informações na página da internet da Rota do Românico.

 Santo António ou Fernando António de Bulhões, nasceu em Lisboa, a 15 de agosto de 1195. Era filho do  nobre e rico de Martinho de Bulhões, oficial do exercito de Dom Afonso e de Tereza Taveira. Fez a sua formação inicial com  os cónegos da Catedral de Lisboa.

 Aos 19 anos entrou para o Mosteiro de São Vicente dos Cónegos Regulares de Santo Agostinho, contra a vontade de seu pai, onde permaneceu dois anos, dedicando-se ao estudo e oração. Depois foi transferido para Coimbra, onde ficou 10 anos e lá foi ordenado sacerdote, distinguindo-se pelo dom da palavra, na pregação.  

 Em Coimbra o Padre António conhece os freis franciscanos, e entusiasmando-se pelo fervor e pureza com que estes viviam o Evangelho, torna-se Frei António, mudando-se para o mosteiro de São Francisco de Assis.

 Entretanto, Santo António faz o pedido de ir para o Marrocos pregar o evangelho. Na viagem, a meio do caminho, porém, Frei António fica muito doente e é forçado a voltar para Portugal. No entanto, na viagem de regresso, o barco é desviado para Itália, terminando por parar na Sicília, em um grande encontro de mais de 5 mil frades franciscanos chamado Capítulo das Esteiras. Lá, António conhece pessoalmente São Francisco de Assis.

 A luz deve brilhar para todos

Após conhecer São Francisco, Frei António passa 15 meses como um eremita no monte Paolo. São Francisco nota os dons de que era possuído e dirige-se-lhe como  “Frei António, meu Bispo” e encarrega-o da formação teológica dos irmãos do Mosteiro.

No capítulo geral da ordem dos franciscanos, é decido que Francisco vá a  Roma para tratar de assuntos da ordem com o Papa Gregório IX, que impressionado com sua inteligência e eloquência, nomeia-o de Arca do Testamento.

Mais tarde, São Francisco nomeia-o  primeiro leitor de Teologia da Ordem. Em seguida, mandou-o estudar teologia para ensinar os alunos e pregar ainda melhor. Chegavam a juntar-se  mais de 30 mil pessoas para o ouvir  pregar, e muitos milagres aconteciam. Após a morte de São Francisco, foi enviado a Roma para apresentar ao Papa a Regra da Ordem de São Francisco.

 Santo António e o povo

 É considerado o protetor das coisas perdidas, dos casamentos e dos pobres, daí o costume de no seu dia, em algumas igrejas que lhe são dedicadas, ser distribuído um pão aos pobres, “o pão de santo António” ou “pão dos pobres”

 Como santo milagreiro, fez muitos ainda em vida. Durante as suas pregações nas praças e igrejas, muitos cegos, surdos, coxos e muitos doentes ficavam curados. Redigiu, ainda,  os Sermões, tratados sobre a quaresma e os evangelhos, que estão impressos em dois grandes volumes de sua obra.

 Santo António morreu em Pádua, na Itália, em 13 de junho de 1231, com 36 anos. Por isso mesmo, é conhecido também como Santo Antônio de Pádua. 

 Os meninos da cidade logo saíram a dar a notícia: o Santo morreu.

Em Lisboa, diz-se que  os sinos das igrejas começaram a repicar sozinhos e só depois o povo soube da morte do Santo. É, também, chamado de Santo Antônio de Lisboa, por ser sua cidade de origem.

 Devoção a Santo António

Devido aos milagres acontecidos após a sua morte, onze meses depois, foi beatificado e canonizado pelo Papa Gregório IX, na catedral de Espoleto, em 30 de maio de 1232, sendo o processo mais rápido da história da Igreja. Quando seu corpo foi exumado, a sua língua estava intacta. São Boaventura estava presente e disse que esse milagre era a prova de que sua pregação era inspirada por Deus. Está exposta na Basílica de Santo António na cidade de Pádua. 

Em 1934 foi declarado Padroeiro de Portugal.

Em 1946 foi proclamado Doutor da Igreja pelo Papa Pio XII.

Oração  a Santo António

“Meu querido Santo António dos mais carinhosos, o vosso ardente amor a Deus, as vossas sublimes virtudes e grande caridade para o próximo, vos mereceram durante a vida o poder de fazer milagres espantosos. Nada vos era impossível senão deixar de sentir compaixão pelos que necessitavam da vossa eficaz intercessão. A vós recorremos e vos imploramos que nos obtenhais a  graça especial que nesse momento pedimos. Ó bondoso e santo taumaturgo, cujo coração estava sempre cheio de simpatia pelos homens, segredai as nossas preces ao Menino Jesus, que tanto gostava de repousar nos vossos braços. Uma palavra vossa nos obterá  as mercês que pedimos.

 Entre o povo é costume recorrer ao Santo, quando se perde alguma coisa. É preciso ler o responso sem nenhum engano. Diz a crença que se não houver engano, o objeto perdido, será recuperado.

 Responsório de Santo Antônio.

Se milagres desejais

Recorrei a Santo Antônio

Vereis fugir o demônio

E as tentações infernais.

Recupera-se o perdido

Rompe-se a dura prisão

E no auge do furacão

Cede o mar embravecido.

Pela sua intercessão

Foge a peste, o erro a morte

O fraco torna-se forte

E torna-se o enfermo são.

Todos os males humanos

Se moderam e retiram

Digam-no aqueles que o viram

E digam-nos os paduanos.

Rogai por nós Santo António, para que sejamos dignos das promessas de Cristo.