sábado, 26 de novembro de 2011

FADO PATRIMÓNIO IMATERIAL DA HUMANIDADE



                                                  O Fado, José Mallhoa, 1910





"O FADO é a primeira expressão artística a ser declarada Património Imaterial da Humanidade em Portugal.

 A Câmara Municipal de Lisboa através da EGEAC/MUSEU DO FADO levou a cabo esta candidatura que envolveu a comunidade artística do FADO, congregou instituições e reuniu o consenso de todos os partidos políticos. A Candidatura do FADO tornou-se uma causa nacional e a inclusão do FADO na Lista Representativa do Património Cultural Imaterial é uma vitória de Portugal.

 O Plano de Salvaguarda já em curso permitirá preservar e salvaguardar as memórias da canção urbana de Lisboa, através da criação de uma Rede Integrada de Arquivos, de um Arquivo Digital de Fonogramas de Fado, de um Programa Educativo muito abrangente, de um vasto plano de edições (edição de fontes históricas, poéticas, críticas e musicais) e da criação de Roteiros de Fado". Museu do Fado





O fado património mundial da humanidade  da humanidade, claro! O fado meu preferido, misto de sentimento e destino.Um povo marinheiro de viúvas em terra.O ímpeto do mar e a força da mulher, escondida na fragilidade do amor!

Em geral, não gosto de fado, não me identifico, mas aquele "Barco Negro"  de David Mourão Ferreira, arrebata-me, pleno de densidade trágica! Ssinto empatia com aquela(s) mulher(es)  que perdem o amor, num destino sempre anunciado previamente, mas que recusam a morte. Eu sei, meu amor/Que nem chegaste a partir/Pois tudo, em meu redor/Me diz qu'estás sempre comigo. Toda esta identificação é duplicada pela voz de Amália.. 

Mesmo que eu não goste, em geral, é um património português. Viva o fado


https://www.youtube.com/watch?v=CIoa7C1B_Co

Barco Negro

 

De manhã, que medo, que me achasses feia!

Acordei, tremendo, deitada n'areia

Mas logo os teus olhos disseram que não

E o sol penetrou no meu coração

Mas logo os teus olhos disseram que não

E o sol penetrou no meu coração

Vi depois, numa rocha, uma cruz

E o teu barco negro dançava na luz

Vi teu braço acenando, entre as velas já soltas

Dizem as velhas da praia, que não voltas

São louca

São loucas

Eu sei, meu amor

Que nem chegaste a partir

Pois tudo, em meu redor

Me diz qu'estás sempre comigo

Eu sei, meu amor

Que nem chegaste a partir

Pois tudo, em meu redor

Me diz qu'estás sempre comigo

No vento que lança areia nos vidros

Na água que canta, no fogo mortiço

No calor do leito, nos bancos vazios

Dentro do meu peito, estás sempre comigo

No calor do leito, nos bancos vazios

Dentro do meu peito, estás sempre comigo

Ah ah ah

Eu sei, meu amor

Que nem chegaste a partir

Pois tudo, em meu redor

Me diz qu'estás sempre comigo

Eu sei, meu amor

Que nem chegaste a partir

Pois tudo, em meu redor

Me diz qu'estás sempre

Comigo


O Fado remontando à Lisboa oitocentista,  é a alma do convívio do povo, em casa,  nas hortas, nas esperas de touros, nos retiros, nas ruas e vielas, nas tabernas, cafés de camareiras e casas de meia-porta.

Os temas são apreciados porque remetem para a vida das pessoas comuns. Na origem liga-se a lugares marginais e transgressores, frequentados por prostitutas, faias, marujos, boleeiros e marialvas.

Era rejeitado pela aristocracia, que, no entanto, por vezes também frequentava os lugares nos quais o fado era rei . É isso mesmo que é documentado pelo mito da Severa, central na história do Fado. Tem a sua origem no envolvimento amoroso do Conde de Vimioso com a meretriz Maria Severa Onofriana (1820-1846), grande cantadeira de fado, episódio várias vezes passado a poema, a teatro e a umromance  (Júlio Dantas, A Severa, 1901)  que será adaptado em 1931, a cinema ( primeiro filme sonoro português, dirigido por Leitão de Barros.

 O fado estará sempre presente nas festas populares e coletividades, vindo a constituir-se um instrumento de intervenção política, durante o salazarismo, pelo que será proibido pela censura em 1927.

O Teatro de Revista, nascido em 1851, utilizá-lo-á , projetando-o. Aqui, com refrão e orquestrado, o fado será cantado quer por famosas actrizes, quer por fadistas de renome. Ficarm célebres duas formas diferentes de abordar o fado: o fado dançado e estilizado por Francis e o fado falado de João Villaret.

Nos anos 30 e 40 do século XX, Hermínia Silva junta os seus dotes de cantadeira com os de actriz cómica e revisteira.

 

A partir do último quartel do séc. XIX, define-se a forma poética da “décima”, quadra glosada em quatro estrofes de dez versos cada, em torno da qual se estruturaria o Fado para mais tarde se desenvolver em torno de outras variantes. Neste período, a  guitarra impõe-se como acompanhante da canção que se difundide dos centros urbanos para as zonas rurais do país.

A partir da década de 30 do século XX, impõe-se fadistas profissionais como por exemplo, a  “Troupe Guitarra de Portugal”, integrada, entre outros, por Ercília Costa (1902-1985) e Alfredo Marceneiro (1891-1982), para só citarmos um dos mais conhecidos.

 Como já dissemos atrás, o Decreto-Lei nº 13 564 de 6 de Maio de 1927, impôs ao  longo de 200 artigos, uma “Fiscalização superior de todas as casas e recintos de espectáculos ou divertimentos públicos (…) exercida pelo Ministério da Instrução Pública, por intermédio da Inspecção Geral dos Teatros e seus delegados”, o que reduziu os espaços dedicados ao fado, o seu repertório e proibiu a improvisação, tão apreciada.

Gradualmente, o fado passou a circunscrever-se à casa  de fados,  locais que se concentrariam, sobretudo, a partir da década de 30, nos bairros históricos da cidade, sobretudo no Bairro Alto..

 O Fado esteve sempre presente no cinema português até à década de 70. Aliás, o cinema debruçar-se-á, em 1947 sobre o Fado, em História de uma Cantadeira protagonizado por Amália Rodrigues ou, em 1963, em O Miúdo da Bica, protagonizado por Fernando Farinha.  Também Hermínia Silva, Berta Cardoso, Deolinda Rodrigues, Raul Nery e Jaime Santos foram protagonistas de filmes.

 A inauguração da Rádio Televisão Portuguesa , em 1957 contribuiu largamente para a divulgação do fado junto do grande público.

O fado com presença na Radio, no Cinema e na Televisão ganha vitalidade nas décadas de 1940 e 1960, designadas, até,  de “anos de ouro”. Neste período, o concurso da Grande Noite do Fado que se inicia em 1953 e ganha uma periodização anual contribuirá para a sua grande divulgação.

 Além das casas de fado, rádio e televisão, a canção impõe-se nos “Serões para Trabalhadores” da  FNAT, a partir de 1942. O SNICT,  Secretariado Nacional de Informação, Cultura e Turismo que, a partir de 1944 passa a tutelar a Censura, a Emissora Nacional e a Inspecção Geral dos Espectáculos faz aproximar, sobretudo, a partir da década de 1950, o fado do Estado Novo, impondo-se como grande intérprete internacional,  Amália Rodrigues.

 O Fado apresenta uma simplicidade melódica valorizada pela voz, apelando à comunhão entre intérprete, músicos e ouvinte. Em quadras ou quadras glosadas, quintilhas, sextilhas, decassílabos e alexandrinos, esta poesia popular evoca os temas ligados ao amor, à sorte e ao destino individual assim como à vida quotidiana citadina. Por vezes, apesar de ser acusado de perpetuação do regime, reveste-se de carácter interventivo e contestação das injustiças.

SE de início, as letras do fado eram anónimas, a partir da década de1920, impõem-se poetas populares como Henrique Rego, João da Mata, Gabriel de Oliveira, Frederico de Brito, Carlos Conde e João Linhares Barbosa. No anos 50, o fado abraçará, sobretudo a partir de Amália Rodrigues, a poesia erudita. A partir do contributo do compositor Alain Oulman, o fado passará a cantar os textos de poetas como David Mourão-Ferreira, Pedro Homem de Mello, José Régio, Luiz de Macedo e, mais tarde, Alexandre O’Neill, Sidónio Muralha, Leonel Neves ou Vasco de Lima Couto, entre outros.

 O fado inicia a sua internacionalização, sobretudo para África e Brasil com artistas como Ercília Costa, Berta Cardoso, Madalena de Melo, Armando Augusto Freire, Martinho d’Assunção ou João da Mata, entre outros. No entanto o seu boom só acontecerá com Amália Rodrigues, a parir de 1950 qe consegue impôr-se como embaixatriz do fado de de Portugal.

 

De início Introduzida em Portugal a partir das colónias inglesas de Lisboa e do Porto, referências de gosto e mentalidade cultural da época, a guitarra inglesa conheceu uma grande divulgação nos salões europeus de meados do século XVIII. De utilização exclusiva nos círculos da burguesia e da nobreza dos salões urbanos, entre meados do século XVIII e 1820, “é nessa qualidade que a vemos associada ao acompanhamento de algumas modinhas e cançonetas italianas de carácter mais erudito (…) no que se refere aos primeiros testemunhos do Fado dançado no Brasil (…) as fontes da época mencionam sempre a viola. O mesmo sucede nas descrições mais antigas do fado de Lisboa (…)” (Cfr. NERY, Rui Vieira, Para uma História do Fado, Lisboa, Publico/Corda Seca, 2004, p. 98).

 

A partir do início do século XX, impõe-se a “guitarra portuguesa”  de seis cordas, adaptação da guitarra inglesa que  a partir de 1840 se associa ao canto fadista.

Na história da construção da guitarra portuguesa, inteiramente artesanal, distinguem-se duas famílias de guitarreiros que aperfeiçoaram e transmitiram o seu segredo ao longo de sucessivas gerações. A primeira inicia-se com Álvaro da Silveira e é continuada por Manuel Cardoso e seu filho Óscar Cardoso. A segunda nasce com João Pedro Grácio e mantém-se com João Pedro Grácio Júnior, que se destaca de seis irmãos, e seu filho Gilberto Grácio. O diálogo permanente entre esta oficina e os executantes que a preferiram, como Luís Carlos da Silva, Petrolino, Armando Freire, Artur Paredes, Carlos Paredes, José Nunes, foi fundamental á evolução técnica e acústica do instrumento.

 

A revolução de Abril de 1974 alargando horizonte e por vezes, conotando o fado com o Estado Novo, levou à interrupção, por dois anos, do concurso da Grande Noite do Fado, e à enorme diminuição da difusão do fado na rádio e televisão.

 

No entanto, ao estabelezar-se o regime democrático, o fado reabilita-se. Com efeito, já em 1976 , o álbum Um Homem na Cidade, de Carlos do Carmo, vem recriar o fado com parte integrante dos valores democráticos.

A partir de 1980, as pessoas renovam o seu interesse pelo fado, sobretudo devido a uma nova geração de intérpretes que  e com a aproximação ao fado de cantores como José Mário Branco, Sérgio Godinho, António Variações ou Paulo de Carvalho.

 No plano internacional, Amália Rodrigues e Carlos do Carmo impoem-se como expoentes.

 Nos anos 90 o fado consagrar-se-á, com Mísia e Cristina Branco, respectivamente na França e Holanda. Consagra-se, nesta altura ,  intérprete Camané.

No final da década e início do século XXI, surgem intérpretes como Mafalda Arnauth, Katia Guerreiro, Maria Ana Bobone, Joana Amendoeira, Ana Moura, Ana Sofia Varela, Pedro Moutinho, Helder Moutinho, Gonçalo Salgueiro, António Zambujo, Miguel Capucho, Rodrigo Costa Félix, Patrícia Rodrigues, Carminho ou Raquel Tavares. No circuito internacional, Mariza é a grande protagonista.

 

Fonte:

Pereira, Sara (2008), “Circuito Museológico”, in Museu do Fado 1998-2008, Lisboa: EGEAC/Museu do Fado.

 https://www.museudofado.pt/noticias/fado-e-patrimonio-imaterial-da-humanidade

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Republicanas quase desconhecidas

Saiu mais um livro da mulher que eu considero uma verdadeira força da natureza. Conta com uma modestíssima colaboração minha, "O enterro civil que virou motim" (Valbom), além da de muita outra gente. Tem um dedicatória linda: "Ao IPO do Porto que não me deixou morrer para que eu pudesse dar novos escritos ao mundo."
Agradeço-lhe esta oportunidade e a heroica dedicatória que me fez no livro que me mandou.










Deu-me a honra de ser eu a fazer a apresentação, na Junta de Freguesia de Fânzeres, lugar que muito preso.

Eis o que considerei dizer da Fina:

"
Conheci a Fina d´Armada entre 79 e 1980. Eu era jovem estudante  e a Fina com quem me encontrava na biblioteca ou em sua própria casa era para mim uma referência de afirmação da Mulher e de atracão pelo mistério. Esta relação empática manteve-se até hoje como bandeira de um espírito livre e portanto superior.
Em 1981 mudou-se para Rio Tinto, onde vive até hoje.
É autora de 11 obras individuais. A atual será a décima segunda.
No entanto escreveu 34 em co-autoria, das quais posso salientar a de caráter local como "Rio Tinto -Apontamentos Monográficos", "Monografia de Fânzeres" e "António de Sousa Neves”, biografia de uma personalidade fanzerense..  
Está representada na "Antologia de Poetas do Alto Minho", no "Dicionário de Mulheres Rebeldes", no "Dicionário Antológico de Artes e Letras de Gondomar" e em Espanha: no "Dicionário Internacional de Arte e Literatura" bem como  no de "Letras de Fronteira do Val do Miño Transfronteirizo", de autores portugueses e galegos. 
Foi condecorada pela UMAR e pela Câmara de Caminha "por uma vida inteira dedicada às letras, às artes e à singularidade de fazer a diferença".
“Republicanas Quase Desconhecidas” é um livro escrito por uma Mulher, qual carvalho se eleva  reto e ramifica, frutificando,  porque dá nome, às mulheres que, de forma anónima, implantaram os ideais republicanos..
Na verdade, a partir das solicitações feitas a investigadores e descendentes de republicanas, de norte a sul de Portugal, reúne  31 colaborações e faz referência a 33 concelhos por ordem alfabética, o número de vértebras que ”nos sustenta em pé” como ela afirma, numa tentativa bem sucedida de dar visibilidade às mulheres umas anónimas, outras menos, mas todas com ideais e ações de cariz republicano.
Põe em evidência personalidades de todo este Portugal que, na atualidade, trabalham umas anonimamente outras porque a Fina conseguiu motivar para a pesquisa que ela ambicionava levar a cabo. É assim um livro de autora mas que reúne muitas mãos e inteligências, num mundo onde o individualismo impera. Também aqui, numa citação criteriosa dos contributos, Fina d´Armada se afirma.reta.
Ela própria tem a noção da importância deste ato ao escrever “ devo confessar que fazer esta obra foi das coisas mais bonitas que me aconteceram (… ) Para mim, tem sido sonho de uma vida dar visibilidade, trazer à luz, mulheres do meu país que fizeram mais do que as leis lhes permitiam. Obrigada a todos e todas, investigadores, colaboradores e descendentes, por acarinharem um pedacinho do meu sonho.”
Ela soube, certamente, através deste ato realizar muitos sonhos de muitas famílias e pessoas, que desta forma passaram da sombra à luz.

A minha colaboração partiu, depois de um período em que vicissitudes da vida nos mantiveram afastadas, do fato de ter sido ouvida pela Fina quando apresentei a conferência  “República em Gondomar”, nos “Reencontros com a República”, nos quais, também  participou. Aí referi o pioneirismo da freguesia de  Valbom no que respeita os enterramentos civis. O de Luisa Rosa de Oliveira, mãe do propagandista das ideias sociais, António de Oliveira suscita arremesso de pedras por parte de alguns populares a fim de impedir a saída do cortejo para o Cemitério do Prado do Repouso. A senhora estava ligada à Associação Propagadora da Lei do Registo Civil e desta forma o seu funeral constitui um cortejo cívico de propagação dos ideais sociais a que a defunta se tinha dedicado.
Fina d´Armada tem a noção de que faltam memórias de professoras republicanas.” Isto deve-se ao fato dos arquivos dos professores não terem sido localizados. “Foram elas que espalharam o ideal republicano por quem não ia aos comícios”. Na verdade, em S. Cosme, a professora regente, da escola do Souto, durante o período da Traulitana é obrigada a restituir a bandeira que tinha guardado em casa e convidada a tirar férias forçadas, o que a senhora rejeita.[1] Creio que se trata de Dona Emília Augusta Lopes d´Araújo, mas, ainda não encontrei o seu processo.
Em 1910, as mulheres não tinham direitos políticos, não se podiam filiar em partidos ou associações sem prévia autorização dos maridos. Vários clubes vedavam a inscrição às mulheres, embora as deixassem participar nas comissões de festas e corpo cénico.
Por exemplo, a Escola Dramática de Valbom possuía uma comissão de senhoras para a realização de festas ou movimentos de carácter altruísta.. D. Maria da Glória Barreto Costa, esposa do médico, denominado “João Semana de Valbom” pela sua bondade e dedicação, cognominada “avozinha da escola Dramática”, presidiu, várias vezes a essas comissões.
O Clube Gondomarense integrava após a república, republicanos de elevada instrução e intervenientes na política local, que procuravam cumprir a divisa do seu estandarte “Fiat Lux”, ou seja uma busca de luz e conhecimento, vinda da antiga filosofia iluminista liberal. Possuía um corpo cénico que procurava cumprir o tema da conferência proferida naquele clube por Camilo de Oliveira: “ O Teatro e a Escola como Fontes de Civilização”. Dele faziam parte senhoras como D. Leopoldina Ramos Cardoso, D. Margarida Dias e D. Albertina Pereira.
Durante a 1ª Grande Guerra, sobretudo mães e namoradas temem e expressam de forma mais evidente o seu sentimento de receio, dor e saudade.Aderem à Cruzada das mulheres portuguesas, presidida por Elzira Dantas Machado [2]a fim de dar assistência aos soldados portugueses que estavam na guerra e aos seus familiares.
Gondomar, um concelho rural, recebe a influência do Porto em muitos aspetos e torna-se muito dinâmico durante a 1º República, quer do ponto de vista reivindicativo, quer cultural.
Há diferenças entre as freguesias, podendo-se destacar Fânzeres e Valbom como mais conflituosas, já que aqui se confrontam com denodo republicanos e monárquicos. Rio Tinto salienta-se pela qualidade dos seus cidadãos, destacando, entre eles, Carlos Amaral que é torturado e morto, durante a Traulitana.
S. Cosme adopta uma postura moderada e pouco embarca em confrontos de monta. Camilo de Oliveira é ouvido com reverência e árbitro de conflitos, embora também tivesse sido preso com Carlos Amaral.
 Quanto a S. Pedro da Cova, a Junta reivindica melhorias para a freguesia, reverenciando a Companhia das Minas capaz de ser sua parceira em tais benefícios.
A República não satisfez o sonho das mulheres como não satisfez outros sonhos e por isso se perdeu.
De qualquer forma, Gondomar, tal como o país teve oportunidade de lutar por um ideal, praticar a intervenção cívica e aprender a tolerância.
Voltando ao livro “Republicanas Quase Desconhecidas”,  Fina d´Armada refere que diversos concelhos fizeram plantações de carvalhos, em honra de republicanas locais. Em 2010, Fânzeres homenageou as mulheres republicanas com uma placa.
Usando as palavras de Fina,” no fundo é plantar a República, que significa plantar a Democracia, a qual exige perpetuamente ser replantada e regada por ideais de esperança.”
Este livro eleva alto o farol da igualdade, “caminho aberto, raiz da árvore da liberdade” que urge plantar cada vez mais. Fina d´Armada cumpriu a sua parte."



[1]  A. B. P. M. P. , A Voz de Gondomar, nº 2, 6 de Setembro de 1925, p. 1
[2] Cruzada fundada em 1916, pela esposa de Bernardino Machado

as pa� M e �= ��9 o de festas ou movimentos de carácter altruísta.. D. Maria da Glória Barreto Costa, esposa do médico, denominado “João Semana de Valbom” pela sua bondade e dedicação, cognominada “avozinha da escola Dramática”, presidiu, várias vezes a essas comissões.

O Clube Gondomarense integrava após a república, republicanos de elevada instrução e intervenientes na política local, que procuravam cumprir a divisa do seu estandarte “Fiat Lux”, ou seja uma busca de luz e conhecimento, vinda da antiga filosofia iluminista liberal. Possuía um corpo cénico que procurava cumprir o tema da conferência proferida naquele clube por Camilo de Oliveira: “ O Teatro e a Escola como Fontes de Civilização”. Dele faziam parte senhoras como D. Leopoldina Ramos Cardoso, D. Margarida Dias e D. Albertina Pereira.
Durante a 1ª Grande Guerra, sobretudo mães e namoradas temem e expressam de forma mais evidente o seu sentimento de receio, dor e saudade.Aderem à Cruzada das mulheres portuguesas, presidida por Elzira Dantas Machado [2]a fim de dar assistência aos soldados portugueses que estavam na guerra e aos seus familiares.
Gondomar, um concelho rural, recebe a influência do Porto em muitos aspetos e torna-se muito dinâmico durante a 1º República, quer do ponto de vista reivindicativo, quer cultural.
Há diferenças entre as freguesias, podendo-se destacar Fânzeres e Valbom como mais conflituosas, já que aqui se confrontam com denodo republicanos e monárquicos. Rio Tinto salienta-se pela qualidade dos seus cidadãos, destacando, entre eles, Carlos Amaral que é torturado e morto, durante a Traulitana.
S. Cosme adopta uma postura moderada e pouco embarca em confrontos de monta. Camilo de Oliveira é ouvido com reverência e árbitro de conflitos, embora também tivesse sido preso com Carlos Amaral.
 Quanto a S. Pedro da Cova, a Junta reivindica melhorias para a freguesia, reverenciando a Companhia das Minas capaz de ser sua parceira em tais benefícios.
A República não satisfez o sonho das mulheres como não satisfez outros sonhos e por isso se perdeu.
De qualquer forma, Gondomar, tal como o país teve oportunidade de lutar por um ideal, praticar a intervenção cívica e aprender a tolerância.
Voltando ao livro “Republicanas Quase Desconhecidas”,  Fina d´Armada refere que diversos concelhos fizeram plantações de carvalhos, em honra de republicanas locais. Em 2010, Fânzeres homenageou as mulheres republicanas com uma placa.
Usando as palavras de Fina,” no fundo é plantar a República, que significa plantar a Democracia, a qual exige perpetuamente ser replantada e regada por ideais de esperança.”
Este livro eleva alto o farol da igualdade, “caminho aberto, raiz da árvore da liberdade” que urge plantar cada vez mais. Fina d´Armada cumpriu a sua parte."




[1]  A. B. P. M. P. , A Voz de Gondomar, nº 2, 6 de Setembro de 1925, p. 1
[2] Cruzada fundada em 1916, pela esposa de Bernardino Machado





domingo, 20 de novembro de 2011

A rã cozida

A verdade é que a nossa sociedade tem nuitos indicadores de inanidade, de inércia e submissão.
Cuidado com as mordomias que nos dão.
Recebi de um amigo e vale a pena registar.
A rã cozida
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Nem de propósito um texto que reflete nesta problemática da habituação lenta e comodismo.

Aqui, coze-se.
de Ricardo Baptista (Notas) - Quarta-feira, 19 de Junho de 2013 às 21:02

Durante os últimos treze anos fui professor na escola pública. Passei por muitas escolas, trabalhei com jovens, adultos e crianças de todas as idades, estudei e ensinei diversas áreas, tive responsabilidades administrativas, propus coisas, fiz muitas, tive muitos sucessos e tantos ou mais insucessos. Bati-me pela inteligência, pela criatividade, pelo rigor, pela cultura e por uma ética educativa. Vi esta profissão como um compromisso social em que tinha a sorte de participar e em que o retorno do trabalho diário podia ser observado de forma directa e verdadeira, dia-a-dia.
Nunca percebi bem a "carreira docente", sempre me chocou a ausência de uma avaliação minimamente séria do meu trabalho, os concursos parecem-me um mecanismo da época da revolução industrial, tantas vezes os professores também.
Mas conheci professores incríveis, alunos que me ensinaram tudo, escolas dignas, que cumpriam funções maiores, para além de assegurarem currículos, pais dedicados e responsáveis, funcionários empenhados.
A profissão transformou-se, a espaços, em projecto de vida, confundindo-se com tudo o resto, vivida com sentido de compromisso e de responsabilidade.
Houve, durante uma fase do país, mecanismos e instrumentos para uma (r)evolução fulcral na Educação. Alguns dos tais senhores do "eduquês", como diz o Sr. Ministro da Educação e Ciência, entregaram à Escola portuguesa ideias simples e óbvias, como a de que se aprende melhor quando se está motivado, de que a criatividade e a adaptabilidade são as grandes metas educacionais do futuro, de que a cultura da empatia na escola faz sentido. Mas não entregaram só as ideias, deram à Escola algumas ferramentas curriculares e administrativas para esta se empenhar nessas tarefas e conseguir resultados.
Falhou-se muitas vezes, exagerou-se muitíssimas, apareceram obstáculos criados por professores, pais, alunos, directores e estruturas do ministério. Mas acima de tudo, não se discutiu, não se reflectiu, não se avaliou, não se adaptou, não se agiu o suficiente, para que agora pudéssemos estar noutra situação.
É por isso que o braço de ferro entre professores e ministério me parece cada vez mais um episódio inócuo e essencialmente triste desta nossa novela portuguesa. 
Como a rã na panela, deixámos passivamente que a água fervesse, enquanto víamos serem afastados alguns dos melhores e mais dedicados professores, cancelados alguns dos bons projectos pedagógicos, deixadas caír disciplinas práticas e artísticas estruturantes, ideias simples e eficazes como a Área de Projecto ridicularizadas. Fervemos, com uma escola globalmente orientada para que turmas gigantes repitam exercícios de exame (em duas disciplinas), com uma escola ela própria ingénua, sem capacidade de auto-crítica, auto-análise, auto-reflexão, mecanizada nas burocracias inúteis e tantas vezes patéticas de um enorme e pesado sistema, com a autonomia por uma trela e um respeito obtuso por todo e qualquer ditame da administração central. Cozemos agora numa escola que não soube sair dos paradigmas mais retrógrados, que condiciona futuros cidadãos ao som da campaínha, que caminha agora para os antípodas do que a evolução social, económica e tecnológica propõem.
Deixo a profissão de professor-da-escola-pública com a mágoa de ver uma área estruturante do desenvolvimento da democracia, com um potencial decisivo, tratada desta forma. Aqui já não se pode agir, arriscar, reflectir, educar. Aqui coze-se em lume brando.



sábado, 19 de novembro de 2011

Republicanas quase desconhecidas

  





  Saiu mais um livro da mulher que eu considero uma verdadeira força da natureza. Conta com uma modestíssima colaboração minha, "O enterro civil que virou motim" (Valbom), além da de muita outra gente. Tem um dedicatória linda: "Ao IPO do Porto que não me deixou morrer para que eu pudesse dar novos escritos ao mundo."
    Agradeço-lhe esta oportunidade e a heróica dedicatória que me fez no livro que me mandou, seguramente muito exagerada, mas a Fina é assim, um mar revolto.











sábado, 5 de novembro de 2011

Pra dizer que não falei de flores

CRISE ATUAL

Repetem-se os erros económicos que levaram Hitler ao poder

Rui Boavida
 
Dois académicos da universidade espanhola Pompeu Fabra concluíram pela historia, pela matemática e pela economia o que muitos políticos aprendem na pele -- que a austeridade provoca contestação social, e que mais vale subir impostos do que cortar benefícios.
J.N. 5-11-2011
 
 
 
   É verdade que já estudamos situações semelhantes às atuais e que desmbocaram em políticas totalitárias. è tempo de unir esforços e intervir civicamente e de forma pacífica.

Sermão da montanha - versão para educadores







O Sermão da montanha (versão para educadores)
 Naquele tempo, Jesus subiu a um monte seguido pela multidão e, sentado sobre uma grande pedra, deixou que os seus discípulos e seguidores se aproximassem.

Ele preparava-os para serem os educadores capazes de transmitir a Boa Nova a todos os homens.

Tomando a palavra, disse-lhes:
- Em verdade, em verdade vos digo:

- Felizes os pobres, porque deles é o reino dos céus.
- Felizes os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados.
- Felizes os misericordiosos, porque eles...?

Pedro interrompeu-o:- Mestre, vamos ter que saber isso de cor?

André perguntou:- É pra copiar?

Filipe lamentou-se:- Esqueci o meu papiro!

Bartolomeu quis saber:- Vai sair no teste?

João levantou a mão:- Posso ir à casa de banho?

Judas Iscariotes resmungou:
- O que é que a gente vai ganhar com isso?

Judas Tadeu defendeu-se:
- Foi o outro Judas que perguntou!

Tomé questionou:- Tem uma fórmula pra provar que isso tá certo?

Tiago Maior indagou:
- Vai contar pra nota?

Tiago Menor reclamou:
- Não ouvi nada, com esse grandalhão à minha frente!

Simão Zelote gritou, nervoso:- Mas porque é que não dá logo a resposta e pronto!?

Mateus queixou-se:- Eu não percebi nada, ninguém percebeu nada!

Um dos fariseus, que nunca tinha estado diante de uma multidão nem ensinado nada a ninguém, tomou a palavra e dirigiu-se a Jesus, dizendo:- Isso que o senhor está fazendo é uma aula?
- Onde está a sua planificação e a avaliação diagnóstica?
- Quais são os objetivos gerais e específicos?
- Quais são as suas estratégias para recuperação dos conhecimentos prévios?

Caifás emendou:- Fez uma planificação que inclua os temas transversais e as atividades integradoras com outras disciplinas?
- E os espaços para incluir os parâmetros curriculares gerais?
- Elaborou os conteúdos conceituais, processuais e atitudinais?

Pilatos, sentado lá no fundo, disse a Jesus:- Quero ver as avaliações da primeira, segunda e terceira etapas e
reservo-me o direito de, no final, aumentar as notas dos seus discípulos para que se cumpram as promessas do Imperador de um ensino de qualidade.
- Nem pensar em números e estatísticas que coloquem em dúvida a eficácia do nosso projeto.
- E veja lá se não vai reprovar alguém!

E foi nesse momento que Jesus disse: "Senhor, por que me abandonastes..."

Obrigado ao Américo que me passou o texto.