domingo, 20 de novembro de 2011

A rã cozida

A verdade é que a nossa sociedade tem nuitos indicadores de inanidade, de inércia e submissão.
Cuidado com as mordomias que nos dão.
Recebi de um amigo e vale a pena registar.
A rã cozida
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Nem de propósito um texto que reflete nesta problemática da habituação lenta e comodismo.

Aqui, coze-se.
de Ricardo Baptista (Notas) - Quarta-feira, 19 de Junho de 2013 às 21:02

Durante os últimos treze anos fui professor na escola pública. Passei por muitas escolas, trabalhei com jovens, adultos e crianças de todas as idades, estudei e ensinei diversas áreas, tive responsabilidades administrativas, propus coisas, fiz muitas, tive muitos sucessos e tantos ou mais insucessos. Bati-me pela inteligência, pela criatividade, pelo rigor, pela cultura e por uma ética educativa. Vi esta profissão como um compromisso social em que tinha a sorte de participar e em que o retorno do trabalho diário podia ser observado de forma directa e verdadeira, dia-a-dia.
Nunca percebi bem a "carreira docente", sempre me chocou a ausência de uma avaliação minimamente séria do meu trabalho, os concursos parecem-me um mecanismo da época da revolução industrial, tantas vezes os professores também.
Mas conheci professores incríveis, alunos que me ensinaram tudo, escolas dignas, que cumpriam funções maiores, para além de assegurarem currículos, pais dedicados e responsáveis, funcionários empenhados.
A profissão transformou-se, a espaços, em projecto de vida, confundindo-se com tudo o resto, vivida com sentido de compromisso e de responsabilidade.
Houve, durante uma fase do país, mecanismos e instrumentos para uma (r)evolução fulcral na Educação. Alguns dos tais senhores do "eduquês", como diz o Sr. Ministro da Educação e Ciência, entregaram à Escola portuguesa ideias simples e óbvias, como a de que se aprende melhor quando se está motivado, de que a criatividade e a adaptabilidade são as grandes metas educacionais do futuro, de que a cultura da empatia na escola faz sentido. Mas não entregaram só as ideias, deram à Escola algumas ferramentas curriculares e administrativas para esta se empenhar nessas tarefas e conseguir resultados.
Falhou-se muitas vezes, exagerou-se muitíssimas, apareceram obstáculos criados por professores, pais, alunos, directores e estruturas do ministério. Mas acima de tudo, não se discutiu, não se reflectiu, não se avaliou, não se adaptou, não se agiu o suficiente, para que agora pudéssemos estar noutra situação.
É por isso que o braço de ferro entre professores e ministério me parece cada vez mais um episódio inócuo e essencialmente triste desta nossa novela portuguesa. 
Como a rã na panela, deixámos passivamente que a água fervesse, enquanto víamos serem afastados alguns dos melhores e mais dedicados professores, cancelados alguns dos bons projectos pedagógicos, deixadas caír disciplinas práticas e artísticas estruturantes, ideias simples e eficazes como a Área de Projecto ridicularizadas. Fervemos, com uma escola globalmente orientada para que turmas gigantes repitam exercícios de exame (em duas disciplinas), com uma escola ela própria ingénua, sem capacidade de auto-crítica, auto-análise, auto-reflexão, mecanizada nas burocracias inúteis e tantas vezes patéticas de um enorme e pesado sistema, com a autonomia por uma trela e um respeito obtuso por todo e qualquer ditame da administração central. Cozemos agora numa escola que não soube sair dos paradigmas mais retrógrados, que condiciona futuros cidadãos ao som da campaínha, que caminha agora para os antípodas do que a evolução social, económica e tecnológica propõem.
Deixo a profissão de professor-da-escola-pública com a mágoa de ver uma área estruturante do desenvolvimento da democracia, com um potencial decisivo, tratada desta forma. Aqui já não se pode agir, arriscar, reflectir, educar. Aqui coze-se em lume brando.