A verdade é que a nossa sociedade tem nuitos indicadores de inanidade, de inércia e submissão.
Cuidado com as mordomias que nos dão.
Recebi de um amigo e vale a pena registar.
Cuidado com as mordomias que nos dão.
Recebi de um amigo e vale a pena registar.
A rã cozida
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Nem de propósito um texto que reflete nesta problemática da habituação lenta e comodismo.
Nem de propósito um texto que reflete nesta problemática da habituação lenta e comodismo.
Aqui, coze-se.
Durante os últimos treze anos fui professor na escola pública. Passei por
muitas escolas, trabalhei com jovens, adultos e crianças de todas as idades,
estudei e ensinei diversas áreas, tive responsabilidades administrativas,
propus coisas, fiz muitas, tive muitos sucessos e tantos ou mais insucessos.
Bati-me pela inteligência, pela criatividade, pelo rigor, pela cultura e por
uma ética educativa. Vi esta profissão como um compromisso social em que tinha
a sorte de participar e em que o retorno do trabalho diário podia ser observado
de forma directa e verdadeira, dia-a-dia.
Nunca percebi bem a "carreira docente", sempre me chocou a
ausência de uma avaliação minimamente séria do meu trabalho, os concursos
parecem-me um mecanismo da época da revolução industrial, tantas vezes os
professores também.
Mas conheci professores incríveis, alunos que me ensinaram tudo, escolas
dignas, que cumpriam funções maiores, para além de assegurarem currículos, pais
dedicados e responsáveis, funcionários empenhados.
A profissão transformou-se, a espaços, em projecto de vida, confundindo-se
com tudo o resto, vivida com sentido de compromisso e de responsabilidade.
Houve, durante uma fase do país, mecanismos e instrumentos para uma
(r)evolução fulcral na Educação. Alguns dos tais senhores do
"eduquês", como diz o Sr. Ministro da Educação e Ciência, entregaram
à Escola portuguesa ideias simples e óbvias, como a de que se aprende melhor
quando se está motivado, de que a criatividade e a adaptabilidade são as
grandes metas educacionais do futuro, de que a cultura da empatia na escola faz
sentido. Mas não entregaram só as ideias, deram à Escola algumas ferramentas
curriculares e administrativas para esta se empenhar nessas tarefas e conseguir
resultados.
Falhou-se muitas vezes, exagerou-se muitíssimas, apareceram obstáculos criados
por professores, pais, alunos, directores e estruturas do ministério. Mas acima
de tudo, não se discutiu, não se reflectiu, não se avaliou, não se adaptou, não
se agiu o suficiente, para que agora pudéssemos estar noutra situação.
É por isso que o braço de ferro entre professores e ministério me
parece cada vez mais um episódio inócuo e essencialmente triste desta nossa
novela portuguesa.
Como a rã na panela, deixámos passivamente que a água fervesse, enquanto
víamos serem afastados alguns dos melhores e mais dedicados professores,
cancelados alguns dos bons projectos pedagógicos, deixadas caír disciplinas
práticas e artísticas estruturantes, ideias simples e eficazes como a Área de
Projecto ridicularizadas. Fervemos, com uma escola globalmente orientada para
que turmas gigantes repitam exercícios de exame (em duas disciplinas), com uma
escola ela própria ingénua, sem capacidade de auto-crítica, auto-análise,
auto-reflexão, mecanizada nas burocracias inúteis e tantas vezes patéticas de
um enorme e pesado sistema, com a autonomia por uma trela e um respeito obtuso
por todo e qualquer ditame da administração central. Cozemos agora numa escola
que não soube sair dos paradigmas mais retrógrados, que condiciona futuros
cidadãos ao som da campaínha, que caminha agora para os antípodas do que a
evolução social, económica e tecnológica propõem.
Deixo a profissão de
professor-da-escola-pública com a mágoa de ver uma área estruturante do
desenvolvimento da democracia, com um potencial decisivo, tratada desta forma.
Aqui já não se pode agir, arriscar, reflectir, educar. Aqui coze-se em lume
brando.
Agora no P3: http://p3.publico.pt/node/8401