sábado, 25 de novembro de 2017

Black Friday- Fim de semana negro











Nós por cá continuamos com a sexta-feira preta que se estende ao fim de semana negro, enquanto as notícias sobre a situação dos professores aparecem aldrabadas por pessoas de responsabilidade, cambada de malandros que ganham acima da média europeia, os professores ou os políticos? Não sei o que se passa com as outras classes profissionais por isso não me pronuncio! Se partir da análise feita sobre os professores, também muita mentira deve ser dita sobre os outros! Nós cá vamos alegremente, enquanto uma chuvinha rega o jardim e o outono continua esplendoroso, porque todos os apelos feitos para que haja uma economia sustentável são vãos para as potências que mandam no mundo. As injustiças e escravização disfarçada ou não, relativas aos refugiados, são coisas normais. Nós vamos comprar tudo o que esteja a 50%, porque é uma boa compra, mesmo que o preço original tenha sido subido antecipadamente. O Infarmed vem para o Porto o que é explicado por umas narrativas que convencem os incautos! Muito mais havia a dizer, mas, sinceramente, acho que não percebo nada




domingo, 19 de novembro de 2017

Encontro com Nuno Higino



Hoje lembrei-me da minha mãe, como sempre acontece todos os 19 de novembro e afinal, todos os dias. No entanto, lembrei-me hoje através de Nuno Higino que, no dia 14 de novembro, dia do patrono Júlio Dinis, foi à minha escola. Tive o privilégio de uma colega do grupo de Português me convidar para levar uma das minhas turmas à admirável palestra, como todas as outras às quais já tinha assistido.Parabéns pela iniciativa. Obrigada grupo de Português. Obrigada Nuno Higino







O coração divisível das mães
“As mães são as mais altas coisas
 que os filhos criam…

Helberto Helder



O coração divisível das mães
“O olho imperturbável da noite vigia o sono leve das mães e elas
Sonham uma flor solitária; uma escarpa de chuva
Precipita-se no coração florido das mães; a mão divisível das mães
Dobra cada recanto da casa, cresce como uma escarpa
De chuva sobre a música aflita dos filhos; a mão roda a corda
Dos filhos e a noite vigia o sono leve das mães.
As mães dormem com o sono tatuado nos dedos, dormem
De frente para a parede branca dos filhos: sentem os dedos deslizar,
O lápis dos dedos  a deslizar sobre  a superfície branca da alma.
A mãe dos filhos é um diadema sobre o coração divisível
das mães, um diadema estelar para a floração imprevisível
das noites. As mães erguem-se na noite e descem a escarpa
dos filhos, aconchegam –lhes ao rosto o lençol da insónia e regressam
ao casulo imperturbável do sonho, ao olhar solitário da noite.

Mãe, Nuno Higino




Mãe

Eu vejo-te lá longe a fazer flores de papel e a organizar “Enterros de merendas”, recheados de teatro e poesia. Relembro a tua aflição porque eu não comia nada além dos bolinhos de festa, do caldo verde e do queijo. Quantas vezes me levaste me levaram ao médico e por não haver resolução,  na pá, dentro do forno para talhar o ougado, passaram por cima de mim, me barraram de carvão para talhar as bichas! No entanto, as linhas, os pontos, a tesoura e os livros foram sempre o meu mundo e eu misturava-me com as crianças a quem ensinavas para aprender. De comida, só lembro  a regueifa com queijo, na serra aonde nos levavas para me abrir o apetite. Olha se eu hoje precisaria disso!
Tive tanto orgulho em ti quando aflita, no exame da minha 4ª classe, a professora examinadora pegou numa flor que tinhas feito para enfeitar o tinteiro e a levou ao nariz para cheirar!
Sei que me protegias como a um ser de porcelana frágil o que enciumava o  meu irmão, robusto, a comer este mundo e o outro e a asneirar, fugindo de seguida para dentro do poço, sem água e com uma escadinhas por dentro, levando a minha mãe a afligir-se porque temia perdê-lo.
Soubeste-me a pouco porque devido à tua doença tiveste que ir para Lisboa, que naquela altura ficava muito mais longe do que hoje, para te tratar e nós, os teus filhos tivemos que ficar sem ti, temporariamente. Voltaste e foi a alegria plena que culminou na nossa profissão de fé!
 Apesar de rezarmos todos os dias o terço, altura em que te punha perguntas incómodas que evitavas responder, e eu ser tão religiosa que até a Nossa Senhora cheguei a ver no quintal, num buraco da parede, aquele momento em comum parecia o ideal para me satisfazeres a curiosidade!
Por fim, vem aquela madrugada. “A tua mãe quer-se despedir de ti!” E eu com um vestidinho azul marinho com gola branca lá fui, sem querer despedir-me dela!

Mãe!



sexta-feira, 17 de novembro de 2017

Janela













"O que é uma janela? (…) Uma janela debruça-nos sobre o espanto (…) através delas o tempo, esse elemento tão misterioso e esquivo, mostrou-se inteiro na transparência do visível; através delas compreendemos que o que primeiro nos parecia apenas uma perceção sensorial do que está fora era afinal uma sonda preciosa para viajarmos internamente."

José Tolentino de Mendonça, "O pequeno caminho das grandes perguntas"

quarta-feira, 1 de novembro de 2017

Pão por Deus








Esta tradição que remonta a práticas celtas, foi como outras cristianizada, estando documentada no século XV.
No ano seguinte ao terramoto de Lisboa de 1 de novembro de 1775, fez-se o pedido do “pão por Deus” para socorrer à miséria dos vivos, lembrando, ao mesmo tempo os mortos.
Na verdade, esta tradição substitui a Celta que cria que nesta época de morte da natureza, os mortos voltavam à terra e era preciso apaziguá-los  com pão, bolos, vinho e outros alimentos.
Mais recentemente, no dia 1 de novembro, Dia de Todos-os-Santos em Portugal, as crianças costumavam  juntar-se em grupos  para pedir o “ Pão por Deus” ou bolo de porta em porta.
“Pão por Deus,
Fiel de Deus,
Bolinho no saco,
Andai com Deus”

A coca, abóbora ou cabaça a lembrar caveira iluminada também remonta à mesma tradição Celta do Samhain.

Uma receita de Pão por Deus

3Kg de batatas
3Kg de farinha para bolos
1,750Kg de açúcar
10 Ovos
½ Litro de leite (morno)
½ Litro de Óleo/azeite
1 Colher de sopa fermento Royal
Raspa de um limão (ou mais a gosto)
Canela e erva-doce (a gosto)
Fruta seca (nozes, avelas, sultanas etc.) as nozes e as avelas partidas


Passe a puré a batata já cozida junte-lhe os restantes ingredientes mexendo bem sendo que os frutos secos são no fim.
Faça pequenas bolas e leve ao forno em tabuleiro forrado com farinha
Depois de cozido retirar e limpar o excesso de farinha com um pano embebido em óleo.

sábado, 14 de outubro de 2017

Mãe









Oh mãe!
Como tenho tão presente
os doces momentos
em que me afagavas os cabelos
 e dizias baixinho:
- Minha filhinha!
É por isso que às vezes te chamo
e tu sais da moldura, sorrindo
- Minha filhinha, sobe a montanha!
No ar rescendem rosas
e eu subo!
Se pudesse encostar-me a ti
E chorar!
Mas tu voltas à moldura
e continuas a sorrir!
É assim que o meu sorriso revive
também!


domingo, 1 de outubro de 2017

E tu que achas? Miguel Ángel Guerra
















Educar não é subjugar,
Não é seduzir.
Não é impor, a todo o custo,
Os valores de cada um,
Os seus princípios e crenças. (…)
Educar é ajudar a formar em liberdade,
Pessoas de correta consciência.
Não se trata de pensarem
O que eu penso ou queria
Que os meus alunos pensassem.
Trata-se de saberem
Procurar a verdade sozinhos, ou juntamente com outros (…)


Miguel Ángel Guerra, Uma pedagogia da libertação




sexta-feira, 15 de setembro de 2017

Anja








A minha Anja sentou-se na cadeira
perto da minha cama.
Como a sua mão de luz
tocou-me os olhos e despertou-me.

A minha Anja veio visitar-me no sono
e mostrou-me por dentro os meus sonhos.
Veio com o seu véu de medusa
a esvoaçar perto do meu rosto.
A minha Anja moveu-me os seus lábios de ros
e revelou-me um segredo
que como uma brisa
refrescou a minha alegria.

A minha Anja está perto de mim
Como eu perto do mar
e as suas pequenas vagas
fazem mover o meu coração.
A minha Anja
a de hálito azul
trouxe-me o sorriso fresco das manhãs
e ensinou-me a cor confiante da espera.

A minha Anja deixou-me uma pena
da sua asa. Nela voarei
para colher o canto azul dos pássaros.


Nuno Higino, “A Anja de hálito azul”







sexta-feira, 8 de setembro de 2017

Louva a Deus







MONGE VERDE

Atormentado estava em labirinto,
sentei-me a meditar em meu jardim,
e os sonhos se fizeram de cetim
de um perfumado em rosa, qu’inda eu sinto.

E o monge se sentou perto de mim,
mãos postas, patas verdes, ser distinto,
falou-me o louva-a-deus, juro, não minto,
mimetizado à relva do capim:

“Por que tanta inquietude, amigo moço?
Soubésseis que esta vida é breve história,
jamais vós sofreríeis em sine die…

Que a morte em seu Mistério engole o poço,
e tudo o que levardes n’alma em glória
será o que viveis em carpe diem!”

Paulo Urban
http://www.amigodaalma.com.br/2011/04/22/eu-e-o-louva-a-deus/


domingo, 30 de abril de 2017

Maias

De um modo geral, o cenário das várias celebrações cíclicas compreende cerimónias de véspera. A colocação de giestas faz-se no dia 30 de abril para que as casas estejam floridas no momento em que começa o dia, para o «Maio», o «Carrapato» ou o «Burro» não entrar. O «Maio» ou o «Burro» são entidades nocivas, cujo malefício se pretende conjurar com uma barreira de flores.
A tradição de colocar Maias, nas entradas das casas, no dia 30 de abril para 1 de maio  perde-se no tempo.  Segundo alguns, originariamente, a Maia era uma boneca de palha de centeio, em torno da qual se faziam danças toda a noite do primeiro dia de Maio.
Também podia ser uma menina vestida de branco coroada com flores, sentada num trono florido e venerada, todo o dia, com danças e cantares.
Esta festa foi proibida várias vezes, como aconteceu em Lisboa no ano de 1402, por Carta Régia de 14 de Agosto, onde se determinava aos Juízes e à Câmara "que impusessem as maiores penalidades a quem cantasse Maias ou Janeiras e outras coisas contra a lei de Deus...".
Outra teoria liga o nome do mês de Maio a Maia, mãe de Mercúrio, e a ele está ligado o costume de enfeitar as janelas com flores amarelas.
Todos estes rituais estão ligados a antigos ritos de fertilidade do novo ciclo da natureza, à celebração da Primavera ou ao início de um novo ano agrícola.
A Igreja sacralizou esta tradição, ligando-a  à  Festa da Santa Cruz ou ao Corpo de Deus. Esse facto pode basear-se na lenda segundo a qual Herodes, sabendo que a Sagrada Família, em fuga para o Egito, pernoitaria em determinada aldeia, teria mandado matar todas as crianças. No entanto, alguém sugere que se assinale a casa do Menino Jesus para evitar tal mortandade. Todavia, quando os soldados se dirigem para a habitação assinalada, encontram todas as casas decoradas com giesta.

Enfim, todas estas práticas lembram, de forma obscura, a necessidade humana de esconjurar o mal, face à insegurança da vida e à omnipresente ameaça do que nos faz mal.


segunda-feira, 20 de março de 2017

PRIMAVERA



Na altura em que havia roupa de domingo e roupa de semana, a minha Professora Primária costumava anunciar que em determinado dia aprazado, ia visitar-nos à escola uma Senhora, e por isso, devíamos ir com a roupa domingueira e alegre. A minha mãe, no tempo em que o podia fazer, em conivência com a professora, moldava flores de papel tão belas que pareciam reais para serem espetadas nos tinteiros. A sala transformava-se num campo de hidranjas, cravos, rosas artificiais mas artísticas e nós que tínhamos uma escola severa, aproveitávamos aquela aberta para receber a Senhora Prima Vera!




















quarta-feira, 8 de março de 2017

Mulheres lutadoras em Gondomar

Como o dia da Mulher tem na sua origem a luta das mulheres pela diminuição da jornada de trabalho, lembrei-me que Gondomar conta com algumas mulheres que lutaram como verdadeiras cidadãs que eram, apesar de não lhes ser reconhecida a cidadania. Pesquisei algumas com ideais republicanos ou que viveram no período da 1ª República.
 Luisa Rosa de Oliveira, de Valbom, em janeiro de 1888, tinha apelado num comício para que fosse revogado o decreto-lei de julho do ano anterior que impunha a cobrança de impostos, dentro da cidade do Porto, dando origem aos mais calorosos protestos de mulheres de Valbom e de outras localidades.
O Jornal de Notícias, em cinco de abril de 1899, noticia grande motim no enterro civil de Luisa Rosa de Oliveira,  de Valbom, que era mãe do propagandista das ideias sociais, António de Oliveira. Populares arremessando pedras tentaram impedir a saída do cortejo para o Cemitério do Prado do Repouso. Luísa Rosa estava ligada à Associação Propagadora da Lei do Registo Civil e desta forma o seu funeral constitui um cortejo cívico de propagação dos ideais sociais a que a defunta se tinha dedicado.
Em S. Cosme, a professora regente, da escola do Souto, durante o período da Traulitana (monarquia do norte) é obrigada a restituir a bandeira que tinha guardado em casa, o que a professora se recusa pelo que é convidada a tirar férias forçadas. Creio que se trata de Dona Emília Augusta Lopes d´Araújo que faz parte da comissão de recenseamento das crianças em idade escolar em 1918, mas, ainda, não encontrei o seu processo.
Como chama a atenção Fina d´Armada, em “Republicanas quase desconhecidas”, obra na qual tive um humilde contributo, as professoras tinham um papel importante na divulgação de ideais republicanos. O mesmo pode ser dito na divulgação de ideais de democracia, muito mais abrangentes.
Com efeito, em 1910, as mulheres não tinham direitos políticos, não se podiam filiar em partidos ou associações sem prévia autorização dos maridos. Várias sociedades recreativas e culturais punham, mesmo, restrição às mulheres, embora as deixassem participar nas comissões de festas e corpo cénico.
Por exemplo, a Escola Dramática de Valbom possuía uma comissão de senhoras para a realização de festas ou movimentos de carácter altruísta. D. Maria da Glória Barreto Costa, esposa do médico, denominado “João Semana de Valbom” pela sua bondade e dedicação, cognominada “avozinha da escola Dramática”, presidiu, várias vezes a essas comissões.
O Clube Gondomarense integrava após a república, republicanos de elevada instrução e intervenientes na política local, que procuravam cumprir a divisa do seu estandarte “Fiat Lux”, ou seja uma busca de luz e conhecimento, vinda da antiga filosofia iluminista liberal. Possuía um corpo cénico que procurava cumprir o tema da conferência proferida naquele clube por Camilo de Oliveira: “ O Teatro e a Escola como Fontes de Civilização”. Dele faziam parte senhoras como D. Leopoldina Ramos Cardoso, D. Margarida Dias e D. Albertina Pereira.
Durante a 1ª Grande Guerra, sobretudo mães e namoradas ao temerem e expressarem de forma mais evidente o seu sentimento de receio, dor e saudade, aderem à Cruzada das mulheres portuguesas, presidida por Elzira Dantas Machado a fim de dar assistência aos soldados portugueses que estavam na guerra e aos seus familiares.
A 1ª República não satisfez o sonho das mulheres como não satisfez outros sonhos e por isso se perdeu.
De qualquer forma, a mulher, em Gondomar, tal como noutros locais, teve oportunidade de lutar por um ideal, praticar a intervenção cívica e aprender a tolerância.
Em 2010, Fânzeres homenageou as mulheres republicanas com uma placa. Usando as palavras de Fina d´ Armada:” no fundo é plantar a República, que significa plantar a Democracia, a qual exige perpetuamente ser replantada e regada por ideais de esperança.”

Já agora, aproveito a oportunidade, para homenagear Fina d´Armada que elevou bem alto o farol da igualdade, “caminho aberto, raiz da árvore da liberdade” que urge plantar cada vez mais forte. 

quarta-feira, 1 de março de 2017

O CARNAVAL E A QUARESMA - Fânzeres




Combate  Caranaval-Quaresma de Bruegel



O Padre Agostinho Barbosa, reitor de Fânzeres, em 1861, referindo não possuir bens a não ser o seu património e umas casa, na Viela dos Gatos, no Porto, velhas e arruinadas, obriga os seus herdeiros, o irmão padre Manuel F. Barbosa e os seus sobrinhos a uma pensão de 400 reis gasta anualmente “ enquanto o mundo for mundo”, do seguinte modo: “um sermão désmola de 2400 reis depois das trez horas da tarde do dia vulgo chamado de entrudo, vespora de quarta feira de cinzas, em cujo sermão se exortem os Fiéis a prepararem-se para uma bôa desobriga e santificação do tempo quaresmal, e que existem os folguedos do carnaval, a que quis atender chamando nesse dia os fieis ao santo templo para os desviar dos ditos folguedos”.
Efetivamente, nesse dia deveriam os seus fregueses estar a deitar carrapatos, folguedos jocosos de crítica social ou a preparar o “Enterro do João”, tradição pertencente às antigas terras da Maia, na qual um boneco, o João, homem completo, símbolo do Carnaval, vai dar origem a uma tremenda choradeira pelo fim da folia e início da Quaresma, inspirando as mais variadas “deixas” críticas.
O legado do padre Agostinho ( A.C. G. A. C. L. 11. T 34, ff. 73v a 75v) inscreve-se na determinação clerical de combate a todas as formas de irrisão, ao mundo e aos bailes, pela defesa da ortodoxia religiosa.
No entanto, o padre Agostinho vai mais longe ao legar, ainda: “1200 reis anuais a 12 pobres dos mais necessitados desta freguesia a 100 reis a cada um, em o dia de Quinta feira Santa de manhã em memória do Lavapedes e paixão de nosso Senhor Jesus Cristo, mais 400 rs para uma missa resada celebrada pelo parocho desta freguesia, ou por quem quizer, aplicada por minha alma e de todos os seus parentes em o dia de Entrudo”. Este legado devis ser vigiado pela Santa Casa da Misericórdia do Porto a quem, também, institui herdeira.
A esta doação, acrescenta o irmão Manuel Ferreira Barbosa, no seu testamento de 1870, a Exposição do Senhor, desde as 9 horas até ao sermão da tarde, pelo que solicita ao pároco da freguesia, a confirmação das indulgências concedidas pelos sumos pontífices “tal dia de tentação carnal, aos fieis visitantes procurando a casa do Senhor e fugindo aos divertimentos mundanos” ( A.C. G. A. C. L. 25. T 59, ff. 7394v a 103v).
Esta prática que pretende afastar a alma dos seus inimigos, desviando os indivíduos da festa carnavalesca,  inscreve nitidamente nas propostas pós-tridentinas e que mantém, ao que parece, todo o seu vigor, ainda, no século XIX.
Com o mesmo objetivo, o padre António Pinto do Outeiro deixa um legado composto de inscrições, para que, dos juros se fizesse face à despesa dos Lausperes e missa, a realizar, pelas “Almas em geral do fogo do Porgatório” (A.J.F.F. Actas da Junta da Paróquia de Fânzeres, sessão de 17.09.76, L2, f.42)


terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

DEIXAS DO JOÃO - O ENTERRO DO JOÃO




No Entrudo, vale tudo!
No Carnaval, ninguém leva a mal!

                                         Esta vida são dois dias e o carnaval três.


 Deixas:


Diz o padre:

O João já morreu
Vai agora a enterrar
Ele e o Carnaval
Passaram a vida a gozar!

Agora no seu testamento
Ele diz que deixa, deixa
Deixou uma escola falida
Uma tampa que não fecha

O tabelião (notário) abre o testamento e lê:

Estão aqui os meus amigos
Todos juntos pra me enterrar
À espera do testamento
Quando o funeral acabar

Estão aqui os meus amigos
Todos tristes a chorar
Todos querem saber
O que lhes vou deixar!

Para as minhas mulheres
Quero que seja sabido
Que lhes deixo o meu retrato
Para se lembrarem do marido!

A todos os acompanhantes
Deixo uma caixa de gritaria
Para gritarem bem alto
Todos juntos em histeria!
Deixo-vos boa educação
Para saberem pensar
Mais tempo às Humanidades
Para os valores poderem formar

Deixo mais horas de História
E também de Geografia
Para que os alunos
Não percam a Memória
Nem deixem a Terra vazia!


Deixo ao Ministro da Educação
Uma boa dose de Inteligência
Para dosear as disciplinas
A dar aos alunos experiência!


Deixo ainda aos bons alunos
Tempo para projetar
As suas aspirações
E o mundo transformar.


À escola do futuro
Deixo o euro milhões
Para dar aulas na rua
E abrir todos os portões


Aos funcionários deixo
Muita sorte no futuro
Para auxiliarem na educação
E não limparem o muro.


Aos administrativos
Deixo uma grande missão
Trabalharem com alegria
Prá papel ter coração!


2º Tabelião:


Aos “stores”que são seca
Deixo a net a funcionar
Para mostrarem o mundo
Com o rato a clicar.


Deixo aos alunos das turmas
Onde um agride e outro esfola
Um grande rol de direitos
Para construírem a Escola!

Deixo aos professores de Português
Um compêndio de poesia
Escrito sem acordo
Para ensinar com alegria


Aos professores de Física Química
Uma caixa de tubos de ensaio
E reagentes para experienciar
Desde setembro até maio.

Às professoras de Visual
Deixo o armário cheio
De empenho e criação
Para nada ficar a meio!
.

Deixo às professoras de História
Para o programa finalizar
Mais um tempo semanal
Pra nas fontes navegar.


Deixo aos professores de Matemática
Números e cálculos para jogar
Num treino bem divertido
Os rankings poderem ultrapassar!

Deixo às professoras de Francês
Um crepe muito saboroso
Para provar que esta língua
Tem um saber apetitoso!

Deixo aos professores de Inglês
Uma bela família real
Para viajar pelo mundo fora
Numa forma especial!



Tabelião ajudante:

Deixo à Directora de Turma
Um montão de paciência
Porque para os conflitos mediar
É preciso muita experiência!


Deixo à professora de Português
Um saco de paciência
Prá nunca desanimar
E corrigir a nossa fluência

À professora de Física Química
Deixo muitos tubos de ensaio
Para poder ensaiar à vontade
De setembro até maio..

Ao professor de Visual
Deixo um armário cheio
De materiais sem igual
Pró esforço não ser só meio.

Deixo à professora de História
Que se aplica com afinco
Para ao fim do programa chegar
Mais um tempo semanal
Pra nas fontes podermos nadar.

Deixo à professora de Matemática
Para os jogos bem jogar
Uma caixa de x e y
E os rankings ultrapassar.

Deixo à professora de Francês
Muitos crepes saborosos
Pra provarem que a língua é importante
Para todos os não ociosos!


Deixo à professora de Inglês
Uma grande família real
Para quando se portarem mal
Não dar gritos de terror!



Aos professores de Geografia
Mais um tempo semanal
Para grafar toda a terra
De uma maneira natural.

Deixo aos professores de Ciências
Um novo organigrama
Para mostrar toda a natureza
Que está prevista no programa!

Aos professores de Moral
Deixo uma grande moralidade
Somos imaturos adolescentes
É esta a nossa verdade!

Deixo aos professores de Educação Física
Um fortificante para aguentarem
Os exercícios e as dispensas
Andarem abaixo e acima sem fartarem.

Aos professores de Tecnologias
Deixo uma varinha de condão
Para nos maravilharem
Com performances de explosão.

Deixo à professora de TIC
Uma escola bem informatizada
Computadores e projetores
Sempre muito sincronizados.

Aos professores de Música
Deixo uma nova pauta
Para sempre poderem ensinar
A magia da flauta!

Aos professores de Educação Especial
Muitos louvores quero dar
Tanta freima e atenção
Para todos no mundo integrar.

Aos serviços de psicologia
Muito vigor e discernimento
Para atenderem tanto menino
Que precisa de alimento

À professora bibliotecária
Que sempre motiva a ler
Um dia de 36 horas
Para todos os projetos fazer.

À Direção desta escola
Só posso deixar paciência
Para gerir a geringonça
Com saber e experiência!

Ao nobre Conselho Geral
Só posso deixar muita luz
Para saber discernir
Entre tanto ponto de cruz!


Padre :

Estão aqui os seus amigos
Todos tristes a chorar
O seu enterro é agora
O Carnaval vai acabar!
               Gondomar, 2017
































Escola E.B. 2.3. de Gondomar


                          





enterro joão

Enterro do João













Carnaval 2006