Como o dia da Mulher tem na
sua origem a luta das mulheres pela diminuição da jornada de trabalho,
lembrei-me que Gondomar conta com algumas mulheres que lutaram como verdadeiras
cidadãs que eram, apesar de não lhes ser reconhecida a cidadania. Pesquisei
algumas com ideais republicanos ou que viveram no período da 1ª República.
Luisa Rosa de Oliveira, de Valbom, em janeiro
de 1888, tinha apelado num comício para que fosse revogado o decreto-lei de julho
do ano anterior que impunha a cobrança de impostos, dentro da cidade do Porto, dando
origem aos mais calorosos protestos de mulheres de Valbom e de outras
localidades.
O Jornal de Notícias, em
cinco de abril de 1899, noticia grande motim no enterro civil de Luisa Rosa de
Oliveira, de Valbom, que era mãe do propagandista
das ideias sociais, António de Oliveira. Populares arremessando pedras tentaram
impedir a saída do cortejo para o Cemitério do Prado do Repouso. Luísa Rosa
estava ligada à Associação Propagadora da Lei do Registo Civil e desta forma o
seu funeral constitui um cortejo cívico de propagação dos ideais sociais a que
a defunta se tinha dedicado.
Em S. Cosme, a professora
regente, da escola do Souto, durante o período da Traulitana (monarquia do
norte) é obrigada a restituir a bandeira que tinha guardado em casa, o que a
professora se recusa pelo que é convidada a tirar férias forçadas. Creio que se
trata de Dona Emília Augusta Lopes d´Araújo que faz parte da comissão de
recenseamento das crianças em idade escolar em 1918, mas, ainda, não encontrei
o seu processo.
Como chama a atenção Fina
d´Armada, em “Republicanas quase desconhecidas”, obra na qual tive um humilde
contributo, as professoras tinham um papel importante na divulgação de ideais
republicanos. O mesmo pode ser dito na divulgação de ideais de democracia,
muito mais abrangentes.
Com efeito, em 1910, as
mulheres não tinham direitos políticos, não se podiam filiar em partidos ou
associações sem prévia autorização dos maridos. Várias sociedades recreativas e
culturais punham, mesmo, restrição às mulheres, embora as deixassem participar
nas comissões de festas e corpo cénico.
Por exemplo, a Escola
Dramática de Valbom possuía uma comissão de senhoras para a realização de
festas ou movimentos de carácter altruísta. D. Maria da Glória Barreto Costa,
esposa do médico, denominado “João Semana de Valbom” pela sua bondade e
dedicação, cognominada “avozinha da escola Dramática”, presidiu, várias vezes a
essas comissões.
O Clube Gondomarense
integrava após a república, republicanos de elevada instrução e intervenientes
na política local, que procuravam cumprir a divisa do seu estandarte “Fiat
Lux”, ou seja uma busca de luz e conhecimento, vinda da antiga filosofia
iluminista liberal. Possuía um corpo cénico que procurava cumprir o tema da
conferência proferida naquele clube por Camilo de Oliveira: “ O Teatro e a
Escola como Fontes de Civilização”. Dele faziam parte senhoras como D.
Leopoldina Ramos Cardoso, D. Margarida Dias e D. Albertina Pereira.
Durante a 1ª Grande Guerra,
sobretudo mães e namoradas ao temerem e expressarem de forma mais evidente o
seu sentimento de receio, dor e saudade, aderem à Cruzada das mulheres
portuguesas, presidida por Elzira Dantas Machado a fim de dar assistência aos
soldados portugueses que estavam na guerra e aos seus familiares.
A 1ª República não satisfez o
sonho das mulheres como não satisfez outros sonhos e por isso se perdeu.
De qualquer forma, a mulher,
em Gondomar, tal como noutros locais, teve oportunidade de lutar por um ideal,
praticar a intervenção cívica e aprender a tolerância.
Em 2010, Fânzeres homenageou
as mulheres republicanas com uma placa. Usando as palavras de Fina d´ Armada:”
no fundo é plantar a República, que significa plantar a Democracia, a qual
exige perpetuamente ser replantada e regada por ideais de esperança.”
Já agora, aproveito a
oportunidade, para homenagear Fina d´Armada que elevou bem alto o farol da
igualdade, “caminho aberto, raiz da árvore da liberdade” que urge plantar cada
vez mais forte.