sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Ciências Humanas








 "Há uma crise geral das ciências do homem: todas elas se encontram esmagadas pelos próprios progressos, mesmo que isso seja devido apenas à acumulação de novos conhecimentos e à necessidade de um trabalho colectivo, cuja organização inteligente ainda está por estabelecer"         

                                                                                                Fernand Braudel


Como considera Maria do Céu Roldão “o aluno que não gosta (de História) perde, por isso, não só a oportunidade de aprender bem e agradavelmente, mas perde mais do que isso, (…) perde uma das possibilidades mais ricas e gratificantes de se entender como pessoa, de compreender a sociedade que é a sua no contexto multifacetado do mundo do seu tempo; de se posicionar com uma atitude crítica, curiosa e interessada face ao devir em que participa; perde alguma coisa essencial, não só à sua formação pessoal, mas também ao prazer de viver compreendendo”.

domingo, 15 de novembro de 2015

ESCOLA BÁSICAJÚLIO DINIS VÍRGULA GONDOMAR - SKTECH TEATRAL MULTIMÉDIA

Adulta Maria:
- Olá! Em que escola andas?
Jovem Nuno:
- Ando na escola básica Júlio Dinis, Gondomar
Adulta Maria:
- Essa é a de cima ou a de baixo?
Jovem Nuno:
- A de baixo, a que tem uma caixa bordeaux à entrada. É muito fixe!
Adulta Maria:
-Acredito. Eu andei na escola preparatória Júlio Dinis. Fui inaugurá-la. As aulas começaram a 9 de outubro de 1968. Funcionava onde é hoje a casa dos Linhos. Era só de raparigas. Os rapazes foram para a escola de cima que emprestou as instalações. Aquilo é que eram tempos. Quando convenci o meu pai a dar-me umas calças, fui chamada ao Diretor, Carlos Moreira, que me impediu de as levar para escola. Fiquei tristíssima, mas era assim, naquele tempo, os rapazes usavam calças e as raparigas saias.
Jovem Nuno:
- Era o tempo do Salazarismo, em que não havia liberdade, não era?
Adulta Maria:
- Já era o tempo da primavera marcelista. Marcelo Caetano tinha acabado de ascender ao poder em setembro, a tendência educativa era um pouco mais aberta do que em anos anteriores. Criou-se, na altura, o ensino preparatório do ensino secundário e a telescola, o ensino pela televisão para os jovens que não pudessem frequentar aquele ensino.
Jovem Nuno:
- Como assim?
Adulta Maria:
- Os transportes não eram fáceis e muita gente não se podia deslocar à escola. Teria, então, de frequentar locais mais próximos da sua residência, onde aprendiam através de aulas  transmitidas pela televisão!

Jovem Nuno:
- Que altamente! Isso nem era preciso sair de casa…
Adulta Maria:
- Claro que era, até porque pouca gente tinha televisão e nos centros da telescola havia um monitor.
Jovem Nuno:
- Ah, percebo.
Adulta Maria:
- …mas desviei-me do que te estava a contar: a Escola Júlio Dinis funcionou em duas secções: de meninas, na rua Dr. Oliveira Salazar, e de meninos na Escola Industrial, até 1973. Nesta data, fica construída a nova escola num local onde tinha funcionado o campo do Sport Clube de Gondomar!
Jovem Nuno:
- Então ficaram sem o campo?
Adulta Maria :
- Não, mudaram-no para o sítio onde estão hoje, e melhoram as instalações.
Jovem Nuno:
- Ah, já sei, essa escola tinha vários pavilhões e jardins interiores.
Adulta Maria:
-Essa mesmo!
Jovem Nuno
- Fui lá com os meus pais no dia das eleições!
Adulta Maria:
- É, lá funcionavam sempre todas as secções de voto de S. Cosme, fizeram-me muitas reuniões políticas e a grande feira de Gondomar, a Agrindústria, geralmente por altura do Rosário.
Em 1974, deixou de se chamar Júlio Dinis e passou a denominar-se Escola Preparatória de Gondomar.
Jovem Nuno:
- Este ano voltou a chamar-se Júlio Dinis, mas eu não sei porquê… Adulta Maria:
        
- Júlio Dinis é um romancista importante do século XIX que escreveu várias obras de poesia, peças de teatro, ensaios literários e romances. Entre estes últimos, As Pupilas do Senhor Reitor; A morgadinha dos Canaviais, Uma família Inglesa e outras que deves gostar de ler porque, apesar de se passarem em cenários campestres reais e referência à política e vida da época, têm sempre histórias muito românticas, amores difíceis de concretização!
Jovem Nuno:
- Verdadeiras telenovelas de hoje?...
Adulta Maria:
- A brincar que o digas, se forem de qualidade!
Adulta Maria:
Júlio Dinis é o pseudónimo literário mais conhecido de Joaquim Guilherme Gomes Coelho que nasceu no Porto, a 14 de novembro de 1839 e morreu a 12 de setembro de 1871, na mesma cidade.
Formou-se em Medicina, mas foi um apaixonado escritor. As suas obras inscrevem-se na literatura de transição, entre o fim do Romantismo e o início do Realismo.
Como muita gente na sua época, Júlio Dinis foi atacado pela tuberculose e procurou refúgio no campo. Entre essas estadas de cura é tradição referir Fânzeres.
Jovem Nuno:
- Eu ouvi dizer que as Pupilas do Sr. Reitor foram inspiradas no Reitor de Fânzeres.
Adulta Maria
- Sim, há essa tese, mas não me parece. Ele era amigo de um padre de Fânzeres, mas quando lá foi passar um tempo já as Pupilas do Sr. Reitor tinham sido publicadas. É natural que a paisagem fanzerense  e a família de Montezelo o tivesse inspirado na redação de Os Fidalgos da Casa Mourisca.
Narrador Alberto:

No capítulo XI dos Fidalgos da Casa Mourisca, descreve uma casa que poderia ser muito fanzerense:


 “ aqui um monte de rama de pinheiro além duas ou três rimas de achas, acolá um tronco de laranjeiras partido, uma mó de moinho, dois carros desaparelhados, dornas, arados, pipas, canastras, escadas de mão, e várias outros utensílios de lavoura e de uso doméstico”.


Na cozinha ”longos espreguiceiros ao longo das paredes, no alto prateleiros pejados de louça nacional, de panelas e alguidares; nas traves os cabos de cebolas, no fumeiro a bem corada pá de presunto; o amplo forno vomitava labaredas pela boca escancarada e a cada instante engolia as novas e enormes doses de lenha que lhe ministravam; na masseira fumegava já da farinha ainda não levedada para a fornada da semana; e nela os braços valentes e roliços de duas frescas moças do campo enterravam-se até aos cotovelos”.


Segue-se a fórmula típica do pão que se leva a cozer.
Mariana e Beatriz vestidas de camponesa atravessam o palco com uma masseira com farinha a levedar. Fazem um cruz na massa e dizem ao mesmo tempo:
“S. Vicente te acrescente
S. Mamede te levede”


( remeiras posicionam-se no palco).
Narrador Alberto
Também é certo que Júlio Dinis descreve a marginal do rio Douro, entre o Porto e Valbom, no passeio de uma personagem de “Um família Inglesa”, Manuel Quintino:
( Manuel Quintino- Gonçalves - entra em cena e vai olhando o que que passa no palco, vai de um lado ao outro e pára do lado oposto observando a cena)
Narrador Alberto declama:
“ A primeira diversão operou-a só à vista do mercado de peixe, na ribeira.


As lanchas valboeiras tinham, naquele instante, chegado ao cais. As regateiras, os compradores particulares e os pescadores que vendiam, animavam o mercado com o movimento e vozearia.”


“Este espetáculo, cheio de vida comercial, não achou indiferente Manuel Quintino. Agradava-lhe aquele tráfego; examinava com olhos conhecedores a excelência do peixe, e informava-se curioso dos preços que regulavam o mercado.
(Manuel Quintino – Gonçalves-  vem até meio da cena e diz)
- Não há nada para o arranjo doméstico, como a pescada. É o peixe mais inocente que há. Com razão lhe chamam a galinha-do-mar. “

(Peixeira Beatriz apregoa o peixe):
- Olha a rica pescada fresquinha da linha.
Peixeira Mariana:
- Olha a sardinha de Espinho a saltar! Ó freguesa merque, leve  pescada que é galinha!

Narrador Alberto:
“ Chegou à quinta chamada da China – um dos passeios favoritos das classes populares portuenses.

 (Coreografia: Pessoas passam. Barqueiras de Avintes remam- Canção do mar-instrumental)

Narrador Alberto:
Desciam a rampa, que antecede o portão, alguns bandos de gente do povo, rindo, cantando, em plena festa; iam em direção ao rio. As barqueiras de Avintes aproximavam os barcos da margem para os receber; outras, ainda a grande distância, chamavam, com toda a força daqueles pulmões robustos, as pessoas que vinham por terra. Cruzavam-se os barcos, movidos por vigorosos braços destas engraçadas e joviais remeiras, e carregados com os frequentadores das diversões campestres do Areinho e da pesca do sável. Tudo era riso e cantigas no rio.

Peixeira Beatriz:
- Olha o sável que bibo, bibinho!
Peixeira Mariana:
Que bom que é fritinho de sabolada!

( Um homem desce a tocar cavaquinho- Tiago Sampaio)
Barqueira Alexandra apregoa:

Embarque freguês lá pró outro lado!
Barca não tereis linda como esta.
A moça solteira cá deste lugar
É afoita e brejeira


A cantar e dançar
Que dança tão linda
Mesmo à nossa moda
Que volta ligeira
Certinha na roda!

Narrador Alberto:
Manuel Quintino via tudo isto, e escutava entretido o canto de uma barqueira, que dizia:
( Manuel Quinteiro, Gonçalves vai de um lado ao outro do palco a observar tudo o que se passa)
(Barqueira Alexandra canta música popular:)
As riquezas deste mundo
Para mim não têm valor;
Eu sou rica dos teus braços
Eu sou rica do teu amor.

A cantar e dançar
Que dança tão linda
Mesmo à nossa moda
Que volta ligeira
Certinha na roda!

Jovem Nuno:
Ah! Agora percebo como alguém se lembrou de nomear Júlio Dinis como patrono da primeira escola do Ciclo Preparatório de Gondomar, é justo que a Escola Básica de Gondomar, que lhe deu continuação, retome o seu nome, homenageando um autor que soube descrever a realidade do seu tempo tão cheio de contradições, como aliás o nosso, e, neste sentido, tão atual.

Todos:
Viva a Escola Básica Júlio Dinis vírgula Gondomar!


quarta-feira, 21 de outubro de 2015

IRENA SENDLER

Zegota (resgate)


Durante a 2ª Guerra Mundial, Irena conseguiu  autorização para trabalhar no Gueto de Varsóvia, como especialista de canalizações. Todavia, os seus planos iam mais além... Sabia quais eram os planos dos nazis relativamente aos judeus (sendo alemã!).

Irena trazia crianças escondidas no fundo da sua caixa de ferramentas e levava um saco de sarapilheira na parte de trás da sua caminoeta (para crianças de maior tamanho).

Também levava na parte de trás da camioneta um cão, a quem ensinara a ladrar aos soldados nazis quando entrava e saia do Gueto. Claro que os soldados não queriam nada com o cão e o ladrar deste encobriria qualquer ruído que os meninos pudessem fazer.
Enquanto pode manter este trabalho, conseguiu retirar e salvar cerca de 2500 crianças.

Por fim os nazis apanharam-na. Souberam dessas atividades e em
 20 de Outubro de 1943 Irena Sendler foi presa pela Gestapo e levada para a  prisãode Pawiak, onde foi brutalmente torturada.

Irena que sabia os nomes e moradas das famílias que albergavam crianças judias, suportou a tortura e negou trair os seus colaboradores ou as crianças ocultas. Quebraram-lhe os
 ossos dos pés e das pernas, mas não conseguiram quebrar a sua determinação. Já recuperada foi, no entanto, condenada à morte.

Enquanto esperava pela execução, um
 soldado alemão levou-a para um "interrogatório adicional". Ao sair, ele gritou-lhe em polaco: "Corra!".
Esperando ser baleada pelas costas, Irena, contudo, correu por uma porta lateral e fugiu, escondendo-se nos becos cobertos de neve até ter certeza de que não fora seguida. No dia seguinte, já abrigada entre amigos, Irena encontrou o seu nome na lista de polacos executados que os alemães publicavam nos jornais.

Os membros da 
organização Żegota("Resgate") tinham conseguido deter a execução de Irena, subornando os alemães e Irena continuou a trabalhar com uma identidade falsa.

Irena mantinha um registo com o nome de todas as crianças que conseguiu retirar do Gueto, guardadas num frasco de vidro enterrado debaixo de uma árvore do seu jardim.

Depois de terminada a guerra tentou localizar os pais sobreviventes e reunir a família. A maioria tinha sido levada para as câmaras de gás. Para aqueles que tinham perdido os pais, ajudou a encontrar casas de acolhimento ou pais adotivos.

Em 2006 foi proposta para receber o Prémio Nobel da Paz... mas acabou por o receber foi Al Gore pela sua ação contra o sobre o Aquecimento Global.

Não permitamos que alguma vez esta Senhora seja esquecida!!


Irena Sendler deve continuar a ser recordada em memória dos 6 milhões de judeus, 20 milhões de russos, 10 milhões de cristãos (inclusive 1.900 sacerdotes católicos ), 500 mil ciganos, centenas de milhares de socialistas, comunistas e democratas e milhares de deficientes físicos e mentais  que foram assassinados, massacrados, violados, mortos à fome e humilhados.

Agora, mais do que nunca, com o recrudescimento do racismo, da discriminação e os massacres de milhões civis em conflitos e guerras sem fim em todos os continentes, é imperativo assegurar que o Mundo nunca esqueça estas PESSOAS E AS SUAS AÇÕES. 



"A razão pela qual resgatei as crianças tem origem no meu lar, na minha infância.
Fui educada na crença de que uma pessoa necessitada deve ser ajudada com o coração, sem importar a sua religião ou nacionalidade." - Irena Sendler
 

"







sábado, 17 de outubro de 2015

ATRAVÉS DE LOURDES DOS ANJOS - HOMENAGEM AOS PROFESSORES

                               Lourdes dos Anjos, Associação Recreativa e Desportiva da Mó.
                                                                    16.10.2015


Não há quem seja agradecido aos seus professores? Ontem presenciei um quadro totalmente diferente. A professora em questão, mulher fogosa e lutadora marcou de certeza pela positiva os seus alunos. No entanto, há quem o não faça dessa forma, mas num estilo muito mais sub-reptício, mas também valoroso!
Quantas professoras e professores ensinaram os seus alunos a gostarem de si próprios, a curar as feridas e a acreditar num futuro melhor que procurado tem que existir? Quantos professores receberam provas de dedicação dos seus alunos, numa rua, num telefonema no Natal, numa revisita à escola. Muitos não o dizem mas guardam sempre no coração, porque isto de ser professor está enraizado no sangue!

É difícil, claro que é e também há muita incompreensão, mas são estes pequenos momentos que dão força para continuar na trilha até ao fim. Quando este chegar, como diz Lourdes dos Anjos “ não quero orações”, apenas que lembrem o brilho dos meus olhos!

terça-feira, 13 de outubro de 2015

Possíveis trabalhos ligados à vida e obra de Júlio Dinis

Servindo-te dos elementos que te disponibilizo neste blogue e outros que encontrares, proponho-te um trabalho sobre Júlio Dinis, seguindo o seguinte roteiro:



Grupo 1. - Biografia de Júlio Dinis

a) - Nascimento
b) - Vida
c) - Obra

d) - Ligação a Gondomar: Fânzeres e Valbom.



Grupo 2. Vida rural em algumas passagens de Júlio Dinis: Casa ou Cozinha Campestre


a) descrição de uma casa de campo
b) Descrição  de uma cozinha do campo
c) Utilidade dos objetos.


Grupo 3. Solar de Montezelo

a) Descrição do Solar
b) Por que razão o Solar pode ser o Solar dos "Fidalgos da Casa Mourisca"


Grupo 4. Passeio de Manuel Quintino da obra "Uma família Inglesa"

a) Descrição do que observa Manuel Quintino
b) O que observaria hoje
c) Conclusão


Grupo 5. Tuberculose

a) História da doença

b) O século XIX e a tuberculose

c) Tuberculose hoje


Grupo 6. A Moda no século XIX

a) A moda masculina
b) A moda feminina


Grupo 7.  Histórias de amor

a) relato de histórias de amor retiradas dos romances de Júlio Dinis.
b) inserção no contexto histórico-cultural do século XIX.

Grupo 8. Monumento a Júlio Dinis em Parada Leitão

a) Descrição
b) Simbologia
c) Restauro

Grupo 9. Roteiro denisiano

Imagina uma viagem onde passes por todos os lugares ligados à vida de Júlio Dinis.

Grupo 10. Levantamento de nomes de ruas e instalações com nome Júlio Dinis, em Gondomar; no Porto; em Grijó e em Ovar.


Grupo 11. As quintas de Valbom


a) Levantamento das quintas ainda existentes em Valbom que foram residências de fim de semana da burguesia portuense que aí vinha a ares.

Consulta: Biblioteca - Monografia de Valbom

Fotografar Quintas.


Grupo 12- História da Escola

a) Escola Preparatória Júlio Dinis
b) Escola Básica do 2º e 3º ciclo de Gondomar
c) Escola Básica Júlio Dinis, Gondomar



Os trabalhos devem ser apresentadas em formato A3, O texto deve ter corpo  Arial ou Tahoma 14 no mínimo. Podem ser usados outros estilos mas nunca abaixo deste corpo. Deve ser dado relevo à imagem.



Critérios de avaliação:

60% - correção científica

20% - apresentação

20% - criatividade

Terá Fânzeres inspirado Júlio Dinis - os Fidalgos da Casa Mourisca

No capítulo XI dos Fidalgos da Casa Mourisca, Júlio Dinis descreve uma casa que poderia ser muito bem fanzerense:


 “ aqui um monte de rama de pinheiro além duas ou três rimas de achas, acolá um tronco de laranjeiras partido, uma mó de moinho, dois carros desaparelhados, dornas, arados, pipas, canastras, escadas de mão, e várias outros utensílios de lavoura e de uso doméstico”.
Na cozinha ”longos espreguiceiros ao longo das paredes, no alto prateleiros pejados de louça nacional, de panelas e alguidares; nas traves os cabos de cebolas, no fumeiro a bem corada pá de presunto; o amplo forno vomitava labaredas pela boca escancarada e a cada instante engolia as novas e enormes doses de lenha que lhe ministravam; na masseira fumegava já da farinha ainda não levedada para a fornada da semana; e nela os braços valentes e roliços de duas frescas moças do campo enterravam-se até aos cotovelos”.

Segue-se a fórmula típica do pão que se leva a cozer:

“S. Vicente te acrescente
S. Mamede te levede”


No capítulo XIII, Júlio Dinis descreve um caminho que bem poderia localizar-se numa qualquer aldeia no verão, porque não em Fânzeres?


“A companhia foi seguindo os acidentados caminhos da aldeia, cantando, saltando, pondo em confusão as lavadeiras moças que ensaboavam nas presas, abraçando à força na estrada as raparigas que, vergadas sob molhos de erva ou de milho cortado, mal lhes podiam fugir; visitando todas as tabernas, fazendo correrias a galinhas, porcos ou vacas que se lhes deparavam na passagem, calcando campos e escalando muros com o desassombro de senhores.”

No capítulo XIV, fala-nos do brasão enegrecido dum solar arruinado.



Na verdade, neste solar onde vivia Joaquim Araújo de Rangel, alferes, fidalgo da Casa Real, vereador da Câmara do Porto dotado de um notável espírito poético, mas ideal conservador, Miguelista, está presente na assinatura da Convenção de Évora-Monte.
 A quinta de Montezelo está, na verdade, nesta altura, a precisar de remodelações, que não são regateadas, mas feitas com recurso a hipotecas e outras operações bancárias.
“Os Fidalgos da Casa Mourisca” refletem as lutas entre liberais regeneradores e outras forças conservadoras. Aí, Fr. Januário é um administrador que amaldiçoa as mudanças. O abade Pinto do Outeiro desconfia da política moderna.

No romance, da janela do solar via-se luz na janela do agricultor Tomé. Na verdade, na altura em que Júlio Dinis esteve em Fânzeres, existia uma casa de lavoura de António Sousa Neves, que, com cerca de 37 anos, com espírito empreendedor, emparcela veigas, alarga caminhos, compra terrenos para uma escola, faz prosperar as três casas de lavoura que possui. 

Terá Fânzeres inspirado Júlio Dinis? A Quinta de Montezelo

O Solar de Montezelo ostenta na porta a data de 1636. Acabou por ir parar à família Rangel Pamplona. João Tomás de Araújo Rangel e Castro é referido como “fidalgo da Casa de sua Majestade” casou com Josefa Leonarda de Mesquita Pereira e tiveram os seus filhos em Fânzeres. Esta senhora foi enterrada na capela mor de Fânzeres, lugar destinado às pessoas importantes, neste tempo em que os indivíduos eram enterradas dentro da igreja ou no adro, conforme a posição. Outra pessoa de destaque desta família, foi Joaquim de Araújo Rangel Pamplona, natural do Porto, que faleceu, em Fânzeres e está sepultado na capela de Montezelo. Foi poeta e escritor, coronel agregado ao regimento de milícias da Maia. Publicou “Os meus versos”. Foi signatário da Convenção de Évora Monte por parte dos derrotados miguelistas. Por casamento, os Pamplona acabam por se ligar aos Van Zeller, importante família portuense (uma das que fundou a sociedade que construiria o Palácio de Cristal). Estes mostram-se grandes dinamizadores da modernização agrícola de Montezelo, para o que recorrem ao crédito bancário.
Foi palco de muitos retiros da JOC e de outras cerimónias
No entanto, a casa acaba por ser vendida a a Fanzerenses e cair no abandono, até que em 1981, Alexandre Rangel Pamplona a compra de novo e a transmite à filha Margarida.
O portão possui o brasão dos Araújos Rangel (talvez do século XVIII) 
No interior há uma tapeçaria com o mesmo brasão. O símbolo da esquerda dos Araújo Rangel é uma aspa azul com cinco basantes bordados a ouro sobre o fundo de prata. À direita, as romãs lembram a origem da família. ( já que ramos de romãzeira teriam protegido os seus familiares em tempo da reconquista cristã contra os mouros).
O Solar continha uma varanda de pedra e escada. As casas, cinco salas para poente “com janelas de peitoril e assentos de pedra. A nascente, possuía três salas com seus quartos e cozinha. Contava, ainda, com lojas grandes, um pátio com suas portas fronhas (típicas das casas de lavoura); cortes de gado, eira, poço e quinteiro. As oliveiras forneciam o azeite que a casa necessitava. Um jardim alegrava o ambiente e a ramada dava sombra e o vinho. Possuía, ainda murtas, limoeiro, uma devesa com pinheiros, sobreiros e carvalhos, laranjeiras, castanheiros e “árvores com vides”. Nos campos de cultivo semeava-se centeio e algum milho. A água para a rega vinha do monte da Cavada.
   Fina d´Armada crê que Júlio Dinis teria estadeado aqui, já que há uma descrição na Morgadinha dos Canaviais que corresponde a uma paisagem que ainda hoje pode ser observada em Montezelo.
   Possui uma Igreja dedicada a Nossa Senhora da Conceição de influência barroca, datada de 1703. Destaca-se à entrada uma pia de água benta . O interior tem uma só nave, possui um altar de talha policromada . O nicho central dedicado a Nossa Senhora da Conceição (original) é separado das imagens do Senhor dos Passos e de S. João por duas colunas salomónicas de tom castanho. Outras colunas semelhantes rematam o altar, lateralmente. Conta, ainda, com um pequeno coro de madeira. O chão é forrado por quatro lajes de ardósia negra que cobrem os túmulos de familiares dos proprietários. A fachada é rematada por um frontão triangular interrompido ao longo de pilastras. No centro possui um sino integrado num arco vazado. É rematada, lateralmente, por dois pináculos. Por cima da porta possui um óculo que ilumina o coro. À direita da porta da entrada, vê-se uma cruz de pedra que integrava a Via Sacra de Montezelo.
Fonte:
Fina d´Armada e outros, Monografia da Vila de Fânzeres, Junta de Fânzeres, 2005; Maria de Fátima Gomes, Temendo a Morte, Alguns aspetos da vida em Gondomar, Porto, FLUP, 1996
Excerto do Artigo de opinião do Filósofo José Gil, na Visão. intitulado "O roubo do Presente".

http://jardimdasdelicias.blogs.sapo.pt/85090.html

terça-feira, 6 de outubro de 2015

Júlio Dinis - roteiro biobliográfico

" O homem positivo e frio recolhe de qualquer excursão à pátria com a carteira cheia de apontamentos; o entusiasta e poeta nem uma data regista. Viu menos, sentiu mais. " Júlio Dinis

 





"Não tenteis a louca empresa de aniquilar o sentimento, espíritos áridos que infundadamente o temeis, como coisa desconhecida à vossa alma seca e estéril. Quem deveras confia nos destinos da humanidade não tem medo das lágrimas. Pode-se triunfar, com elas nos olhos."
                                      Júlio Dinis, A Morgadinha dos Canaviais - Capítulo XXI.







Joaquim Guilherme Gomes Coelho nasceu no Porto a 14 de Novembro de 1839 dias e aos quatro dias de idade foi batizado na igreja de S. Nicolau desta cidade.

Era filho de José Joaquim Gomes Coelho, natural de Ovar e médico-cirurgião pela Escola Médico-Cirúrgica do Porto e de Ana Constança Potter Pereira, natural do Porto, mas de ascendência britânica.
Teve oito irmãos que faleceram de tuberculose. A mãe, também, foi vitimada pela mesma doença, quando Júlio Dinis tinha cerca de seis anos de idade. Ele próprio acabou por morrer de tuberculose.
A sua infância foi vivida em Miragaia, na Rua do Reguinho uma rua e casa que foi destruída, aquando da construção da Rua Nova da Alfândega, a partir de medos do século XIX. Dela, resta, apenas, hoje, o troço da Rua de S. Francisco.







http://aportanobre.blogspot.pt/2011_09_01_archive.html






                 Porto de Miragaia e estaleiros, fora da cidade do Porto. Visível Porta Nobre.

                                                                                                 Porta Nobre












Frequentou a escola primária de Miragaia e em 1853, depois de concluir o curso preparatório do Liceu, ingressou na Academia Politécnica do Porto, onde concluiu as cadeiras de química, matemática, física, botânica e zoologia com boas classificações e onde conviveu com Soares dos Passos.


Edifício da Academia Politécnica em 1822, onde ficou instalada a Universidade do Porto.




Matriculou-se, depois, no ano letivo de 1856-57,  na Escola Médico-Cirúrgica do Porto, altura em que dois irmãos seus morrem, vítimas da tuberculose. Por essa altura, entrou para um grupo de teatro, o "Cenáculo", e escreveu as suas primeiras peças de teatro, que viriam a ser postumamente reunidas nos três volumes do Teatro Inédito, em 1946-1947.




                                   Hospital da Misericórdia onde funcionou a 1ª escola médico-cirúrgica.




















Em 1860, começou a utilizar o pseudónimo Júlio Dinis ao enviar textos de poesia para a revista Grinalda. Nos textos publicados no Jornal do Porto, utilizou o pseudónimo "Diana de Aveleda".
Em 1861, defendeu a dissertação, intitulada Da Importância dos Estudos Meteorológicos para a Medicina e Especialmente de Suas Aplicações no Ramo Cirúrgico, estudo que terá a ver com a doença que vitimou a sua família.

Em 1865, conseguiu o lugar de demonstrador da Escola Médico Cirúrgica onde se tinha formado.
Por várias vezes teve que fazer temporadas no campo, Grijó, Ovar, Fânzeres, Madeira, locais limpos de ares, e que se consideravam propícios à cura da tuberculose que o vitimava.
Sob o pseudónimo de Júlio Dinis, terá escrito As Pupilas do Senhor Reitor (1867), depois de uma estada em Grijó e Ovar, daí o romance poder refletir ambientes aí bebidos. O mesmo pode ser dito de A Morgadinha dos Canaviais, escrito em 1868, talvez em Ovar.
Aqui ficava na casa modesta da sua tia Rosa Zagalo. De Ovar aprendeu a gostar. A sua ida ao Furadouro inspirou-o a escrever  “O Canto da Sereia.









Em Ovar encontrava-se, com frequência com Ana Simões, uma das filhas de Tomé Simões, cuja casa Júlio Dinis passou a frequentar com regularidade. A Ana ofereceu um coração de madrepérola com a seguinte dedicatória: “Venceste meu coração com subtil arte de amor”.  Retrataria, talvez esta senhora na Margarida de “As Pupilas do Senhor Reitor”.
Este coração de madrepérola encontra-se entre o acerbo de Júlio Dinis instalado no Museu de História da Medicina “Maximiano Lemos” (na sala José Carlos Lopes, na Faculdade de Medicina do Porto, no 6.º piso do Hospital de S. João, no Porto).
Quanto às cartas enviadas por Júlio Dinis a D. Ana Simões, teriam sido queimadas por pedido desta a sua filha porque esta, sentindo a vida extinguir-se, pediu à sua filha Emília que as queimasse. As cartas contribuiriam para elucidar o enigma, que alguns negam, da possível paixão do escritor por D. Ana.
Uma Família Inglesa, com o subtítulo “Cenas da vida portuense” foi editado em 1868. Aí, a personagem Manuel Quintino, descreve a paisagem e a faina do Douro, fazendo referência, aos saveiros e valboeiros, às remeiras que atravessavam as pessoas desde a Ribeira a Valbom para Avintes, bem como às quintas de Valbom.
Em 1869, faz uma estada em Fânzeres, onde terá começado a escrever “Os Fidalgos da Casa Mourisca”, talvez inspirados nos fidalgos de Montezelo, que terá concluído na Madeira em 1871. Esta última obra não chegou a ser totalmente revista pelo autor que faleceu antes de a concluir. Foi primo seu que o ajudou nesta tarefa que a concluiu.













Escreveu, ainda Serões da Província (1870), e  só  Poesias (1873).  Inéditos e Esparsos (1910), Teatro Inédito (1946-47) foram publicados postumamente.
 O único romance citadino é Uma Família Inglesa, baseado na literatura inglesa, pelo que pode ser defendido que Júlio Dinis foi  percursor desta corrente literária no nosso país, o que levou a que fosse apelidado de inaugurador da escola naturalista.
Foi o criador do romance campesino e as suas personagens, baseadas, na sua maioria, em pessoas com quem viveu ou contactou na vida real, estão imbuídas de grande naturalidade.É o caso da tia Doroteia, de «A Morgadinha dos Canaviais», inspirada por sua tia, em casa de quem viveu, quando se refugiou em Ovar, ou de Jenny, para a qual recebeu inspiração da sua prima e madrinha, Rita de Cássia Pinto Coelho.
É autor de poesias, peças de teatro, textos de teorização literária, mas destaca-se sobretudo como romancista. Júlio Dinis viu sempre o mundo pelo prisma da fraternidade, do otimismo, dos sentimentos sadios do amor e da esperança. Quanto à forma, é considerado um escritor de transição entre o romantismo e o realismo.
Além do pseudónimo, Júlio Dinis usou também o de Diana de Aveleda, com o qual se iniciou nas letras e assinou pequenas narrativas ingénuas como «Os Novelos da Tia Filomena» e o «Espólio do Senhor Cipriano», publicados em 1862 e 1863, respetivamente. Serviu-se de  Diana de Aveleda para assinar, também, pequenas crónicas no Diário do Porto.
Joaquim Guilherme Gomes Coelho morreu na madrugada de 12 de Setembro de 1871, depois de algum tempo de prostração, em casa de seu primo José Joaquim Pinto Coelho, na Rua Costa Cabral, n.º 323, no Porto, onde, nos últimos momentos, teve a presença do seu amigo Custódio Passos, irmão do poeta portuense ultrarromântico Soares de Passos.






Foi sepultado no cemitério que então havia junto da Igreja de Cedofeita.

Com a extinção deste cemitério, em 20 de Agosto de 1888 foram transladados os restos mortais do escritor, assim como os de seu irmão José Joaquim Gomes Coelho Júnior, para o jazigo n.º 58 do cemitério privativo da Ordem de São Francisco em Agramonte, onde já estava sepultado seu pai José Joaquim Gomes Coelho, irmão daquela Ordem, da qual também fora médico. (O pai faleceu em Lisboa, em casa de sua neta Ana, no dia 21 de Julho de 1885


  



                      Cemitério de Agramonte, Porto, na secção da Ordem Terceira de São Francisco






·         Identificador 335005
·         Código parcial F.P:CMP:9:125:2-4
·         Arquivo
·         Documento compostoEnsaio duma biografia iconográfica Júlio-Denisiana
·         Notas
Cota antiga do positivo : MNL 13/B-258.
·         Dimensões
0,130 x 0,180 m
·         Local de consulta
Arquivo Histórico
·         Cotas
F-P/CMP/9/125(2); F-P/CMP/9/125(3); F-P/CMP/9/125(4)




MONUMENTO A JÚLIO DINIS – LARGO PARADA LEITÃO











 O Monumento é constituído por busto em bronze, da autoria de João da Silva (1880 – 1960), que assenta sobre plinto em granito. O conjunto é complementado com elegante figura feminina que presta homenagem através de deposição de grinalda de flores junto ao busto do poeta. O conjunto resultou de uma homenagem da Faculdade de Medicina do Porto e oferta do monumento à Câmara Municipal da mesma cidade. Foi inaugurado em 1 de dezembro de 1926. Foi restaurado pelo CRERE entre Maio e Julho de 2012.



                                                                                               















Vários aspetos do monumento a Júlio Dinis, no jardim da praça de Parada Leitão, antigo largo da Escola Médica. Zona da Cordoaria.
Fotografia de Teófilo Rego.

·         Série
·         Identificador 315014
·         Código parcial F.P:CMP:10:440
·         Arquivo
·         Notas
Cotas antigas dos negativos: MNL 9/B''-168-170
Cota antiga do positivo: MNL 13/B'-1457
·         Dimensões
0,090 x 0,120 m; 0,180 x 0,240 m
·         Local de consulta
Arquivo Histórico
·         Cotas
F-NP/CMP/7/3582; F-NP/CMP/7/3583; F-NP/CMP/7/3584; F-P/CMP/10/440















































Fotos Maria de Fátima Gomes, 24.10.2015




























Title: 
O monumento a Julio Dinis : Será solenemente inaugurado no proximo dia 1 de Dezembro
Alternative title: 
The monument to Julio Dinis will be officially inaugurated on 1 December
Issue Date: 
1926-11-28
Abstract: 
News about the official inauguration of the monument to Júlio Dinis, on 1 December.Notícia acerca da inauguração solene do monumento a Júlio Dinis, a 1 de Dezembro.
Description: 
Documento
Subject: 
Source: 
O Comércio do Porto
Series: 
472 - Arquivo Noticioso
Document Type : 
Rights: 
open access
Appears in Collections:


WEBGRAFIA:

http://aportanobre.blogspot.pt/2011_09_01_archive.html - 1 de outubro de 2015




http://www.infopedia.pt/$julio-dinis 1 de outubro de 2015



                                                                                                                          

Leia mais: http://quemdisse.com.br/especial.asp?QDCOD=TLF393SFXDKM3SLTXD1E#ixzz3nJ49HRs8  - 3 de outubro de 2015


http://gisaweb.cm-porto.pt/topics/5784/documents/ - 1 de outubro de 2015




http://muralhasdacidade.blogs.sapo.pt/ - 3 de outubro de 2015



http://www.cm-ovar.pt/www//Templates/GenericDetails.aspx?id_object=1483&divName=634s131s726s1822s1824s809&id_class=809 - 5 de outubro