quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Fábrica de Oscar Schindler torna-se museu

Notícias História Viva
21 de Dezembro de 2010

Fábrica de Oscar Schindler vira museu
Instalação na Polônia que pertenceu ao industrial e serviu de cenário para o fime de Spielberg é transformada em centro cultural

por Heloísa Broggiato


Escritório do industrial na fábrica que foi transformada em museu


Fábrica de Oscar Schindler vira museu
Instalação na Polônia que pertenceu ao industrial e serviu de cenário para o fime de Spielberg é transformada em centro cultural
por Heloísa Broggiato
Uma antiga fábrica de utensílios de cozinha tornou-se atração turística na cidade de Cracóvia, na Polônia. Mas não se trata de uma fábrica qualquer. O estabelecimento pertenceu a Oskar Schindler e foi ali que o cineasta Steven Spielberg filmou A lista de Schindler, em 1993. As instalações fabris foram recentemente transformadas em museu e o cenário do longa-metragem dedicado ao industrial alemão que protegeu centenas de judeus durante o Holocausto agora está aberto para visitação pública.
A primeira exposição permanente mostra como era a vida na cidade antes e durante a ocupação nazista, entre 1939 e 1945. Inclui também uma mostra sobre a biografia de Schindler e de seus 1.200 funcionários judeus que escaparam dos campos de concentração. Por meio de fotos, documentos e móveis originais, painéis de parede em tamanho natural e telas multimídia com recursos visuais e acústicos, o visitante é transportado para os tempos da guerra.
Durante a ocupação nazista, a fábrica de Schindler também passou a abastecer a produção bélica nazista. Com o final do conflito, o local passou a produzir material de telecomunicações e seguiu até 2002, quando a empresa fechou as portas.

Heloísa Broggiato é jornalista, tradutora, cientista política e mestre em política internacional e segurança pela Universidade de Bradford, na Inglaterra
Divulgação / Fabryka Emalia Oskara Schindlera

Ensino da História e as Tic

O ensino da História e os novos recursos tecnológicos 

Willian Spengler*
publicado em 12/02/2008
É público e notório que vivemos numa sociedade altamente tecnológica, onde a quantidade de conhecimentos acumulados pelo homem dobra em questão de poucos anos – muito diferente do que acontecia há cem ou duzentos anos atrás.
Isto tende a gerar um ambiente multi-cultural, sem fronteiras e imprevisível, onde as certezas absolutas perderam e perdem sua razão de ser, bem como as antigas fórmulas de resolução de problemas não mais se verificam com a exatidão tamanha com a qual se verificavam – num passado não muito distante.
Concomitantemente, o processo de tecnológico trouxe consigo um grande temor, advindo da excessiva mecanização da sociedade; contudo, hoje parece cada vez mais claro e evidente que o computador (símbolo máximo da automação) pode ser “humanizado”. É bem verdade que esta tecnologia, ao ser usada no setor produtivo da sociedade, gera desemprego e novas regras na relação entre capital e trabalho. Todavia, a tônica desta discussão passa pela maneira como o homem e a tecnologia se relacionam e interagem na construção de trabalhos e processos educativos, e não pelo impacto social decorrente do uso destes recursos.
Nesta perspectiva, o ensino da História deve estar atento para as mudanças advindas dessa nova realidade, possibilitando ao educando ser capaz de compreender, de ser crítico, de poder ler o que se passa no mundo, qualificando-o para ser, dentro deste processo, um cidadão pleno, consciente e preparado para as novas relações trabalhistas. Para que isto aconteça, a atividade de ensinar deve estar em sintonia com o nosso tempo.
“Oxigenar” a prática docente. Talvez seja esse o grande triunfo das novas tecnologias que se apresentam à educação. Entre elas, destaca-se o papel desenvolvido pela Educação à Distância. Contrariando os tradicionais modelos de transmissão do saber – que ainda insistem em se autodenominar “modernos” – os novos modelos – dos quais a Educação à Distância faz parte – tendem a ser se firmar como abordagens mais democráticas, flexíveis e dialéticas. O que ocasiona, portanto, um rompimento do monopólio do saber escolástico, acadêmico e formal, ou seja, a escola não é mais a detentora absoluta do saber, bem como o professor deixa de ser o único baluarte máximo do conhecimento humano.
Essa nova conjuntura confere a oportunidade do aluno seguir seu próprio caminho, ser o construtor e o maior responsável pela aquisição contínua do conhecimento que ele próprio julga necessário obter. Entretanto, o professor, precisa se adequar às novas regras do jogo, ou seja, precisa achar uma nova maneira e estratégia de readquirir sua importância – e este processo, naturalmente, não estará livre de estranhamentos iniciais, acidentes de percursos, erros, acertos, derrotas, vitórias, resistências, etc.
Mister se faz ressaltar que o interesse e motivação dos educandos aumentam sempre quando eles se tornam responsáveis pelo seu próprio processo de estudo. O ensino ativo permite que o aluno desenvolva a sua capacidade de ser crítico, de se expressar, de questionar, de criar e de ter uma auto-disciplina nas tarefas, contribuindo para que da atividade individual parta para a construção coletiva.
A metodologia ativa nesse contexto aplica-se também ao ensino de História que, ao pautar-se nas contribuições da Escola dos Annales que tem a preocupação de ter como eixo a aprendizagem desta área de conhecimento dando conta das experiências vividas pelos homens, valorizando a reflexão sobre o cotidiano, a sobrevivência, os prazeres e os patrimônios culturais. Cada aluno poderá perceber como esse cotidiano é um espaço de múltiplos projetos, lutas e disputas entre os homens. Estaremos, portanto, falando de um ensino não mais ligado aos grandes acontecimentos, nomes, datas e heróis, mas sim de um ensino onde seja considerado o homem no seu dia a dia, criando, dessa forma, condições para o educando se situar na história como um agente construtor do processo histórico.
Apesar da manutenção de um ensino ainda centrado em uma perspectiva conservadora e positivista da História, temos a possibilidade não só de contestar e romper com esta lógica estabelecida, mas, também, de propor mudanças de concepções que devem vir não só do professor, como da História, do homem, da sociedade e da prática pedagógica.
Estas mudanças podem acontecer com o uso das novas tecnologias, pois a multimídia como forma de comunicação, a rede mundial de computadores, como veículo, e a Educação à Distância como meio, têm a propriedade de democratizar as informações e de atingir comunidades maiores. Além disso, estas tecnologias vêm contribuindo decisivamente para a superação das distâncias geográficas no mundo, ao mesmo tempo em que aumenta, substancialmente, o interesse e a possibilidade de educar através da interação entre o emissor e o receptor, tornando o processo ativo em permanente diálogo.
Vejamos um exemplo:
Aprender história ficou mais fácil: já está disponível na Internet o portal do Centro de Pesquisa e Documentação de História (CPDoc) da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Os pesquisadores colocaram disponíveis na rede informações sobre um milhão de documentos provenientes de arquivos pessoais de políticos e homens públicos - como Getúlio Vargas, Tancredo Neves, Juscelino Kubitschek e Ulisses Guimarães. Também inseriram no site 35 mil fotos, entrevistas com personalidades e verbetes do Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro. O acesso ao endereço http://www.cpdoc.fgv.br/ é gratuito. De acordo com a diretora do CPDoc, Marieta de Moraes Ferreira, “o objetivo é conquistar um público novo, de gente que se interessa pela história contemporânea do Brasil mas não é pesquisador ou historiador. O portal pode ser uma ótima ferramenta de aprendizado”, afirma. Para facilitar as consultas, o portal tem um link intitulado Fatos e imagens, que oferece 200 pequenos resumos de fatos importantes da vida brasileira dos últimos 50 anos, ilustrados por 300 fotografias. Por esse link, atualizado mensalmente, é possível, por exemplo, descobrir o que foi o movimento tenentista, como começou o Estado Novo ou quem foram os articuladores da Proclamação da República. Os técnicos da FGV desenvolveram um software que permite o acesso a documentos tão diversos como cartas, discursos, memorandos, fotos e vídeos. Com isso, é possível, por exemplo, consultar on line os bilhetes escritos pelo líder comunista Luiz Carlos Prestes ou pelo ex-presidente Jânio Quadros[1].
Enfim, considerando os novos horizontes que se encontram, aos poucos, delineando e tomando forma, precisamos realizar um esforço conjunto a fim de conferir novos sentidos às práticas educativas, bem como realizar concomitantemente uma revisão profunda nos atuais processos de aquisição do conhecimento humano. Os professores precisam sair de uma posição defensiva, partindo para uma fase de autocrítica e de reconstrução de sua proposta pedagógica. Este, deve assumir seu papel de agente histórico de transformação da realidade educacional, articulando a realidade social mais ampla.
Assim, se realmente buscamos meios de adaptar a educação aos meios tecnológicos disponíveis – e que se encontram incessantemente surgindo – devemos ser capazes de, primeiramente, criar novas diretrizes e práticas capazes de promover novas significações em nossos atuais processos e modelos de transmissão do conhecimento, bem como compreender e conferir flexibilidade às novas relações interpessoais que derivarão destas transformações originadas.
Renovar o conteúdo programático curricular já desgastado e enfraquecido frente às realidades atuais é uma necessidade mais do que urgente. Até mesmo o mercado de trabalho demonstra mudanças drásticas, exigindo currículos mais flexíveis, que permitam a aquisição do conhecimento individual e independente, desafiando a filosofia educacional predominante. 
Necessário se faz lançar mão de tecnologias educacionais que ultrapassem os meios de comunicação – como o Rádio, a TV –, ampliando assim a possibilidade da educação ativa, onde a função professor e aluno é ampliada, é repensada. A Educação à Distância é peça-chave para tanto, pois com ela  o educando vai deixar de ser anônimo, podendo verbalizar sua posição sem receio de ser punido.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CUNHA, Maria Isabel da. O Bom Professor e Sua Prática. 2 ed. Campinas, SP, Papirus Editora, 1992.

CRUZ, Marília Beatriz Azevedo. In: NIKITIUK, Sônia L. (org.) Repensando o ensino de História. São Paulo, Cortez, 1996.

FONSECA, Selva Guimarães. Caminhos da História Ensinada. Campinas, SP, Papirus, 1993.

GRAMSCI, Antônio. Concepção Dialética da História. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1978.

MICELI, Paulo. In: MORAIS, Regis de (org.). Sala de Aula: que espaço é esse? 7 ed. Campinas, SP, Papirus, 1994.

NUNES, Silma do Carmo. Concepções de Mundo no Ensino de História. São Paulo, Papirus, 1996.

ROCHA, Ubiratan. “Reconstruindo a História a partir do imaginário do aluno”. In: NIKITIUK, S.L (org.). Repensando o Ensino de História. São Paulo, Cortez, 1996.

SAVIANI, Dermeval. Educação e Questões da Atualidade, São Paulo, Cortez, 1991.

SILVA, Marcos A. da. História: o prazer em ensino e pesquisa. Brasiliense, São Paulo, 1995.
 
________________________________________
* Historiador e Professor. Especialista em Educação pela UFRJ e em História do Brasil pela FIJ/RJ. E-mail: tenwillian@gmail.com
[1]  Jornal O Globo – 30/11/2001.
http://www.partes.com.br/educacao/ensinodehistoria.asp . 19.11.2010

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Mensagem de Natal

Natal Digital

É Natal

O primeiro postal de Natal surgiu na Inglaterra, pelas mãos do pintor John Callcott Horsley (1817-1903), em Dezembro de 1843, a pedido de Sir Henry Cole (1808-1882), director do South Kensington Museum (hoje The Victoria and Albert Museum).
A inovação surgiu devido à substancial redução que os custos do envio de correio sofreram em meados do século XIX. Desta forma, era acessível a todos o envio das felicitações.
Em 1849 os primeiros cartões populares de Natal começaram a ser vendidos por um artista inglês chamado William Egly.

 Hoje é digitalmente que é mais fácil desejar Feliz Natal. Que o Pai Natal apareça mais vezes do que é esperado no próximo ano.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Natal: Israel alivia medidas de segurança em postos de controle

20 de dezembro de 2010 16h08 atualizado às 17h24

 
O Exército israelense recebeu uma ordem de facilitar a passagem de peregrinos cristãos nos postos de controle, incluindo palestinos dos Territórios ocupados e árabes israelenses, durante as festas de Natal, disse nesta segunda-feira uma fonte militar.
As tropas israelenses presentes nos Territórios Palestinos receberam folhetos pedagógicos que explicam a importância do Natal para os cristãos, sejam peregrinos estrangeiros ou da Terra Santa, e exortam os soldados a evitar qualquer confronto desnecessário nos postos de controle.
A cidade palestina de Belém, onde Jesus nasceu, segundo a tradição cristã, encontra-se além da barreira de segurança que Israel levantou na Cisjordânia. "Na época de Natal, o mundo cristão tem os olhos voltados para a cidade de Belém (...) As festas cristãs são amplamente cobertas pelos meios de comunicação locais e internacionais", afirma o folheto.
O manual previne os soldados sobre a vinda de "um grande número de visitantes, incluindo estrangeiros de alto escalão, como embaixadores, turistas e cristãos de Israel".
"Permitam que a população celebre essas festas com dignidade, que participe nas cerimônias tradicionais e que exerça sua liberdade de culto", diz o documento publicado pela administração militar israelense na Cisjordânia. Espera-se que milhares de peregrinos viajem para Israel durante o fim de semana de Natal.
 
http://noticias.terra.com.br/mundo/noticias/0,,OI4853434-EI308,00-Natal+Israel+alivia+medidas+de+seguranca+em+postos+de+controle.html

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

José Saramago

José Saramago nunca morre

Saramago é considerado por muitos críticos um mestre no tratamento da língua portuguesa. Em 2003, o crítico norte-americano  Harold Bloom, no seu livro Genius: A Mosaic of One Hundred Exemplary Creative Minds - "Génio: Um Mosaico de Cem Exemplares Mentes Criativas", considerou José Saramago, o "Mestre",  "the most gifted novelist alive in the world today". Declarou ainda que Saramago é "um dos últimos titãs de um género literário que se está a desvanecer".
Oriundo de uma família de trabalhadores rurais, José Saramago nasce na aldeia ribatejana de Azinhaga (concelho de Golegã), em 1922. Faz estudos secundários; contudo, por razões económicas, não pode prosseguir estudos.
Exerce diversas profissões, como serralheiro, desenhador, editor e tradutor antes de se dedicar ao jornalismo e, a partir de 1976, totalmente à literatura. Colabora como crítico literário na revista Seara Nova, como comentador político no jornal Diário de Lisboa (1972/73). Em 1975 assumiu a direcção do Diário de Notícias (1975).
Entre as suas obras, destacam-se Memorial do Convento (1982), A Jangada de Pedra (1986), História do Cerco de Lisboa (1989), O Evangelho Segundo Jesus Cristo (1992), Ensaio sobre a Cegueira (1996), Todos os Nomes (1997) e A Caverna (2000), todas traduzidas em várias línguas.
José Saramago é comendador da Ordem Militar de Santiago de Espada, desde 1985, e cavaleiro da Ordem das artes e das Letras Francesas desde 1991. É galardoado com o Prémio Vida Literária, atribuído pela APE, em 1993; com o prémio Camões, em 1995 e, em 1998, é-lhe atribuído o Prémio Nobel da Literatura. Em 1999, é doutorado honoris causa pela Universidade de Nottingham, em Inglaterra.

Reivindiquemos também o dever dos nossos deveres

Naquele 10 de Dezembro de 1998, em que José Saramago recebeu o Prémio Nobel, assinalavam-se também os 50 anos da assinatura da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Saramago, por isso o escritor chamou a atenção para a efeméride e para as poucas acções efectuadas.
"Cumpriram-se hoje exactamente 50 anos sobre a assinatura da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Não têm faltado comemorações à efeméride. Sabendo-se, porém, como a atenção se cansa quando as circunstâncias lhe pedem que se ocupe de assuntos sérios, não é arriscado prever que o interesse público por esta questão comece a diminuir já a partir de amanhã. Nada tenho contra esses actos comemorativos, eu próprio contribuí para eles, modestamente, com algumas palavras. E uma vez que a data o pede e a ocasião não o desaconselha, permita-se-me que diga aqui umas quantas mais.

Neste meio século não parece que os governos tenham feito pelos direitos humanos tudo aquilo a que moralmente estavam obrigados. As injustiças multiplicam-se, as desigualdades agravam-se, a ignorância cresce, a miséria alastra. A mesma esquizofrénica humanidade capaz de enviar instrumentos a um planeta para estudar a composição das suas rochas, assiste indiferente à morte de milhões de pessoas pela fome. Chega-se mais facilmente a Marte do que ao nosso próprio semelhante.

Alguém não anda a cumprir o seu dever. Não andam a cumpri-lo os governos, porque não sabem, porque não podem, ou porque não querem. Ou porque não lho permitem aquelas que efectivamente governam o mundo, as empresas multinacionais e pluricontinentais cujo poder, absolutamente não democrático, reduziu a quase nada o que ainda restava do ideal da democracia. Mas também não estão a cumprir o seu dever os cidadãos que somos. Pensamos que nenhuns direitos humanos poderão subsistir sem a simetria dos deveres que lhes correspondem e que não é de esperar que os governos façam nos próximos 50 anos o que não fizeram nestes que comemoramos. Tomemos então, nós, cidadãos comuns, a palavra. Com a mesma veemência com que reivindicamos direitos, reivindiquemos também o dever dos nossos deveres. Talvez o mundo possa tornar-se um pouco melhor.

Não esqueci os agradecimentos. Em Frankfurt, no dia 8 de Outubro, as primeiras palavras que pronunciei foram para agradecer à Academia Sueca a atribuição do Prémio Nobel da Literatura. Agradeci igualmente aos meus editores, aos meus tradutores e aos meus leitores. A todos torno a agradecer. E agora também aos escritores portugueses e de língua portuguesa, aos do passado e aos de hoje: é por eles que as nossas literaturas existem, eu sou apenas mais um que a eles se veio juntar. Disse naquele dia que não nasci para isto, mas isto foi-me dado. Bem hajam portanto."
Eu, pessoalmente lembro com especial agrado o Memorial do Convento, que me marcou a juventude e porque não dizê-lo,  a vida.
A história de Memorial do Convento inicia-se cerca de 1711, três anos depois do casamento de D. João V com D. Maria Ana Josefa de Áustria, e termina vinte e oito anos depois (1739), aquando da realização do auto-de-fé que determina a morte de António José da Silva e de Baltasar Mateus Sete-Sóis.
Nesta época, D. João V dava continuidade à política absolutista, alimentada pelas remessas de ouro do Brasil.
É uma época de estabilidade onde se constroem inúmeros monumentos barrocos. D. João V para isso concorre mantendo-se afastado dos  problemas políticos europeus, nomeadamente da Guerra da Sucessão que ocorre em Espanha. .
A Portugal, chega, através dos estrangeirados, o movimento filosófico do Iluminismo, que visou difundir o racionalismo cartesiano e o experimentalismo de Bacon, ilustrado no romance pela construção da passarola.
No entanto, com o fito de travar estas ideias, a Inquisição reforça o seu poder. Vários estrangeirados foram contratados para desenvolverem obras em Portugal,  como  Nicolau Nasoni na arquitectura e Domenico Scarlatti na música. Na literatura, merece destaque o judeu António José da Silva e o  sermonário português, onde a nossa língua atinge um elevado grau de apuramento.
Na globalidade, os elementos históricos são respeitados na diegese do romance. É o que se passa com  os aspectos ligados à construção do Convento de Mafra. Outros pertencem à ficção. É o caso de Bartolomeu de Gusmão, na obra Bartolomeu Lourenço e as suas experiências voadoras, que na História são nebulosas, mas que na ficção nos aparecem de forma clara. A sua fuga para Espanha e a sua morte têm também alguns aspectos ficcionais.
O relato das práticas da Inquisição, dos acontecimentos populares religiosos (as procissões, por exemplo) e o casamento dos príncipes reais retratam bem o ambiente da época.  
A par destas personagens mais ou menos históricas, existem outras ficcionais, destacando alguns nomes que representam metonimicamente os cerca de 20 000 trabalhadores utilizados na construção do convento.
As personagens femininas são tratadas de forma especial. Blimunda, personagem de enorme força poética e filosófica com a sua capacidade extraordinária, quase mágica, de ver o que está no mundo e para além dele, mostra a corrupção da Igreja, os excessos da nobreza, o investimento caríssimo de D. João V na construção do Convento de Mafra, a acção da Inquisição, que zela pelos interesses da Coroa, através da expropriação dos bens dos judeus, enquanto o povo sofre a pobreza e a doença.
D. Maria Ana caracterizada como uma rainha triste e insatisfeita, com um casamento de aparência, onde as regras e formalidades se estendem até o leito conjugal, mostra um relacionamento amoroso com o rei frio, programado e indiferente. O seu maior objectivo é o milagre da fecundação, o que levou D. João V a fazer a promessa de mandar construir um convento em Mafra, caso a concepção ocorresse. É o que perpassa no seguinte extracto:
“Dona Maria Ana estende ao rei a mãozinha suada e fria, que mesmo tendo aquecido debaixo do cobertor logo arrefece ao ar gélido do quarto, e el-rei, que já cumpriu o seu dever, e tudo espera do convencimento e criativo esforço com que o cumpriu, beija-a como a rainha e futura mãe, se não presumiu demasiado frei António de São José. Restará à rainha sonhar com o cunhado e redimir-se dessa fraqueza, pela oração.
No entanto é a força de Blimunda que nos questiona sobre a importância de ver o mundo de forma verdadeira, sem máscaras, sem hipocrisia, e isso só é permitido a pessoas sensíveis, àquelas que entendem que nem sempre ter olhos é saber ver. " Usa cada qual os olhos que tem para ver o que pode ou lhe consentem, ou apenas parte pequena do que desejaria."

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Como ensinar no século XXI quando nos tiram horas?

Como ensinar hoje, neste século XXI?



Segundo Ausubel, o método expositivo é o melhor processo de ensino, já que o raciocínio indutivo e o método da descoberta, também eficazes, não podem ser sempre utilizados, porque exigem tempo que num sistema de ensino marcado pela pouca flexibilidade, rareia Desta forma, o método expositivo é encarado como um processo viável.
No entanto, o método preconizado por Ausubel parte de determinados princípios que determinam a actividade dos alunos.
Assim, o ensino deve partir de uma avaliação diagnóstica, para que possa ser adaptado à estrutura cognitiva preexistente no aluno. Segundo Ausubel os saberes preexistentes funcionam de ancoradores para outras aprendizagens. Desta forma, a aprendizagem tem que ser significativa. Devem existir, por outro lado, organizadores de ancoragem avançados ou índices de organização ou seja, uma comunicação introdutória da competência a adquirir. Segundo Antoine de La Garanderie é necessário que seja dito ao aluno que deve estar atento ao que se diz para no fim do discurso ele o possa reproduzir por palavras suas, fazer um trabalho escrito, responder a um questionário ou coisa do género. Este instrumento funciona como o verdadeiro meio de compreensão.[1]
Sobre este assunto, o autor acima citado defende: “Os alunos assim aconselhados, não podem mais cair no erro dum esforço voluntário falhado. Com efeito, os alunos terão na sua consciência o objectivo de reencontrar o discurso do professor, o que constitui a verdadeira finalidade da atitude de atenção. Nesse momento, graças a uma boa orientação, os alunos estarão à vontade para bem dirigir o seu esforço”[2]
Efectivamente este método não tem nada a ver com a memorização maquinal ou o decorar. O aluno tenta reter a ideia relacionando-a com os conhecimentos já adquiridos e procurando o seu sentido realiza, desta forma, uma aprendizagem inteligente.
Assim, “a aprendizagem receptiva - imitativa é uma reconstrução mental de um modelo, que se efectua no seio de uma interacção contextualizada entre o professor e o aluno.”
Este processo, além da motivação compreende a atenção; retenção e a reprodução.
Desta forma, é importante que o professor preveja diversos feed-backs ao longo da aula, para adaptar o seu discurso às características de descodificação dos alunos. Este factor leva-nos, então, a considerar a necessidade de diversas motivações ao longo da aula, a existência de um clima de à-vontade suficiente para que os alunos possam interromper regradamente o professor bem como uma constante interactividade.
Vigotsky chama a atenção para o facto do conhecimento dever estar na zona de desenvolvimento próximo, para que não seja absolutamente rejeitado pelo aluno.
Outros autores enfatizam a necessidade do professor conhecer os pré-conceitos, uns certamente mais próximos dos valores e difíceis de mudar, outros meros “ouvir dizer”, por isso facilmente desconstrutíveis, para que o aluno possa chegar ao verdadeiro conhecimento. Este pode ser um problema central em alguns meios e pressupõe o conhecimento prévio do pensamento dos alunos e famílias.

A exposição – um método entre vários
Na verdade, a Exposição vem completar, de forma inteligente, o método de pesquisa e descoberta. É fundamental nas fases de apresentação, síntese e estruturação do saber.
No entanto, é preciso completar a informação verbal com outros suportes.
Hoje o método expositivo tem que ter em conta determinados factores sem os quais corre o risco de provocar a desmotivação e o aborrecimento por parte dos alunos.
A exposição, bem como qualquer actividade pedagógica deve pressupor, segundo João Amado  “o diálogo; a criação de situações de autonomia e de livre iniciativa; a formulação de objectivos pessoais e colectivos; a formulação colectiva e aplicação responsável de estratégias de auto-controlo, auto-avaliação e auto-reforço.”, caso contrário pode sobreviver o desinteresse dos alunos.[3]
A exposição deve ser clara, interessante e facilmente descodificável pelos alunos. A
utilização de recursos variados desde o mapa e cronologia para localização do acontecimento histórico e treino da competência de espacialidade e temporalidade, passando por  documentos de vários tipos desde escritos, iconográficos; materiais; áudio e vídeo que amenizarão a aula e possibilitarão o trabalho das competências essenciais da História, ajudarão a tornar a aula atraente e evitar a indisciplina.
Assim, a exposição deve, ainda, ser organizada tendo em linha de conta os interesses, a cultura, o nível etário e psicológico dos alunos
Efectivamente, a Psicologia ensina que a forma como o indivíduo encara o meio sofre modificações ao longo da sua vida.
Segundo Piaget, no 1º ciclo, o meio funciona como projecção do seu mundo interior: o real é concebido em termos afectivos muito simples, através de oposições binárias: bons/maus; triste/contente. O passado não é visto ainda em termos de tempo mas sim como cenário de histórias nas quais projecta o seu mundo interior.
 A exposição, nesta fase, terá que ser baseada em narrações voltadas para a aventura e o pormenor, capazes de suscitar o processo de identificação do aluno. 
No final do 1º ciclo, início do 2º,  a perspectiva do real modifica-se, o decréscimo do egocentrismo é acompanhado de uma crescente objectivação do mundo que se procura conhecer em pormenor e em extensão. A curiosidade só fica satisfeita quando a informação é exaustiva e é direccionada para os limites máximos e mínimos (o maior, o menor....). 
A acção e a aventura continuam a ser os grandes códigos de leitura da realidade passada.
Há o fascínio pelas colecções e pelo desconhecido, pelo distante, no espaço e no tempo, pelo exótico e pelo mágico. No entanto, é apenas capaz de compreender sequências temporais curtas que necessita de rechear de histórias.
 Se os alunos a nível do 2º ciclo se ligam à fase piagetiana das operações concretas e no 3º ciclo, se encontram já na génese ou estrutura das operações formais (11 aos 14 e dos 13 aos 16), todos eles ainda se ligam muito ao concreto.
Torna-se, então, fundamental, em todo o ensino básico, trabalhar os conteúdos de forma a torná-los vivos e concretos. Se nos remetermos para abstrações que decepcionam e desinteressam os alunos, sobreviverá o fracasso.  
 Ao longo do 2º e 3º ciclo as técnicas de trabalho mais eficazes terão que equacionar o envolvimento emocional e a chamada de atenção às mudanças, conflitos e descobertas.
Pode ser estimulada a capacidade investigativa na procura de elementos que enriqueçam os conhecimentos duma época, facto, personagem, mas não deve, ainda usar-se o método científico com todas as suas etapas e exigências de tipo cognitivo, já que o aluno não possui ainda os instrumentos mentais necessários à sua compreensão.

Durante o 3º ciclo, o aluno adquire a capacidade de interpretar, organizar e estruturar os elementos que foram apreendidos anteriormente de forma descritiva, factual, personalizada e múltipla. A pouco e pouco, irá estruturando um sistema lógico, formal e abstracto da compreensão do real que será quanto mais sólido quanto mais rico tiver sido o caminho anterior.  
 Nesta fase, as interpretações e teorias ainda são absolutas. No entanto, o aluno deve ser estimulado para a abertura a diversas perspectivas, à tolerância, à concepção do carácter relativo e provisório do conhecimento, e do saber como um questionamento nunca terminado. No final do secundário estas atitudes poderão já ter sido estruturadas.
Efectivamente, só no final do 3º ciclo e início do secundário, o aluno é capaz de abordar criticamente a realidade e então requestionar os factos já sabidos numa abordagem diferente. É, então, capaz de pôr em prática o método científico de forma entusiasmada e aliciante.
Ao longo deste processo, a utilização de métodos activos, favorecendo a expressão e a troca de opiniões, a relativização dos conhecimentos, o investimento na tomada de consciência das capacidades, favorece o acesso ao pensamento formal em oposição aos ambientes educativos dogmáticos e autoritários.
A abordagem dos conteúdos a partir das vivências do aluno e do meio no qual se movem, impõe-se, então, como fundamental à aprendizagem em qualquer idade.
 Aquela poderá começar por uma exposição baseada em relatos recheados de peripécias onde os bons se movimentam contra os maus e acabar por ser a concretização de um projecto de investigação. 
Por outro lado, ainda, cada indivíduo sente, hoje em dia, a angústia da procura de uma identidade pessoal, aspecto único e irrepetível da sua liberdade, cada vez mais restringida por comportamentos e normas de massa. Interroga-se, então, sobre si próprio, na busca das raízes que o justifiquem e o liguem a algum processo integrador – quem sou? De onde venho?
Sociedades e nações atravessam, também, uma crise de valores.
 Este problema coloca-se hoje com a maior acuidade já que a cultura portuguesa sofre com mais intensidade o fenómeno de aculturação provocada, quer pela globalização da sociedade, quer pela integração europeia.
A sociedade actual experimenta o vazio inerente à  perda ou enfraquecimento de rituais – dos religiosos aos familiares – que integravam naturalmente o indivíduo no colectivo, concebido como uma identidade herdade e que era necessário projectar através do tempo.
 O recurso ao meio como factor configurador do currículo funciona como um trabalho  capaz de projectar ou sublimar necessidades deste tipo, nem sempre consciencializadas ao nível racional.
 Impõe-se, então, a necessidade de realçar os temas capazes de inculcarem  sentimentos de integração e identidade.
O tema do património surge, então, hoje como uma problemática que exige da escola uma resposta adequada e um tratamento pedagógico didáctico que motive os alunos para o estudo das realidades capazes de formarem atitudes de cidadania que se traduzam na defesa e preservação do que constitui parte integrante e significativa do percurso temporal da sociedade em que se inserem.
 Torna-se fundamental encarar os bens patrimoniais na sua vertente histórico-cultural, natural, física e biológica, como veículo de desenvolvimento cultural e despertar a sensibilidade para a sua fruição como indicador da qualidade de vida das populações, já que constituem suportes da memória colectiva, quadro de referência e de valores.
Neste contexto, podemos afirmar que a natureza e a cultura do aluno foi respeitada.
Resta esperar que o aluno se entusiasme e aprenda a conhecer o que o envolve e o identifica. Será um passo para amar o que o rodeia e daí partir para aprendizagens mais generalistas.


[1] . La Garanderie, Antoine de,  Pedagogia dos Processos de Aprendizagem, Ed. Asa, p.. 39
[2] .  idem, ibidem
[3] . Amado, João da Silva, A construção da disciplina na escola – Suportes teóricos práticos,  Cadernos investigação e práticas, CRIAPASA, Porto , 2001, p. 16.

Conclusão
Se já não é defensável a panaceia da investigação como a base de toda a motivação, torna-se fundamental a exposição clara e bem feita, baseada naquilo que o aluno conhece bem e motivadora de uma atitude activa por parte do aluno capaz mesmo de o levar a mudar os seus pontos de vista iniciais.
Hoje o método expositivo mantém toda a sua validade, no entanto torna-se cada vez mais necessário não utilizar permanentemente as mesmas metodologias, já que num mundo em mudança o que cativa é o que aparece como novidade. Desta forma o professor tem de partir das características dos alunos e investir de forma criativa na variedade e no inesperado, nas tecnologias, não esquecendo, no entanto de explicitar sempre de forma clara e concreta o problema a trabalhar; a tarefa a realizar bem como os objectivos que se pretendem alcançar.
Torna-se, também importante sublinhar o discurso com o registo no quadro das suas ideias essenciais. Efectivamente, há que ter em linha de conta a rapidez deste método. A palavra é pronunciada com rapidez, a mente assimila as ideias com facilidade, mas o que é óbvio num momento pode ser esquecido de seguida se não for registado no caderno. E uma imagem vale por mil palavras, já lá dizia Santo Agostinho.
Inculcar no aluno o hábito de tirar apontamentos durante a explicação é motivar a participação do aluno, estimular a sua capacidade de análise, de crítica, de síntese bem como a expressão escrita do compreendido. Desta forma, de maneira nenhuma se deve desprezar a prática destas competências de compreensão e comunicação, essenciais no ensino da História e transversais no ensino básico e de forma nenhuma se deve confundir este método  com o ditado de apontamentos que determinará a mera acumulação de dados.
Por fim, resta sublinhar que para que haja ensino - aprendizagem  é necessário que o professor goste do que ensina e reflicta na maneira mais adequada aos alunos, que deve conhecer bem, e à melhor forma de dos levar a apreender os conteúdos em causa.

sábado, 4 de dezembro de 2010

Revistas de História

Numa época em que as revistas de História para o grande público vão rareando, aqui fica um endereço  de uma das que existem no Brasil.:

http://www2.uol.com.br/historiaviva/


Embora não de História, mas com artigos interessantes para a História que se quer total, temos a edição portuguesa da National Geografic:
http://ngm.nationalgeographic.com/

Na de Dezembro, aparece Pai Natal, na rúbrica "Visões da Terra"

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Para pensar



Para pensar, hoje que se fala tanto em inteligências múltiplas.

domingo, 28 de novembro de 2010

A 1ª República em Gondomar

http://www.slideshare.net/armi2006/gondom1arrepblica?qid=2c61cf42-41bf-4550-8309-9fa76c45d278&v=default&b=&from_search=3

Temos vergonha da nossa História

"Como temos vergonha da nossa História, não temos memória" - Padre Fermando Ventura





O meu obrigada à Júlia  que me chamou a atenção para o vídeo

domingo, 21 de novembro de 2010

Estamos haciendo história





Formatação: Maria de Fátima Gomes

"Dos pequenos actos que se ejecutan son mejores que todos aquellos grandes que se planean" George Marshall

Letra e música: Alberto Escobar

Mientras más puedi conocer
lo qu el passado en la memoria nos dejó
mejor comprendo lo que soy,
ya que la historia dá sentido
a lo que pasa y pasará, ahora
em mi país, entre nosotros.

Este país tiene dos alas
mar de culturas, una herencia
cruz de caminos y un destino
y estamos haciendo historia.

Cuando más puedo conocer
mejor comprendo lo que pasa y lo que soy
y así la historia seguirá
llena de vida conla fuerza
que le demos al andar ... ahora
fuerte la voz, mano con mano

Viejas costumbres, nuevos moldes
viejos rencores, nievas formas
viejas creencias aún latentes
y estamos haciendo ...
estamos haciendo hiostoria.

Todo sucede paso a paso
un paso empuja, otro concreta,
y es con la suma de los pasos
que estamos haciendo ...
estamos haciendo historia.

sábado, 20 de novembro de 2010

Geografia-História

Face às esperadas alterações ao curriculum, no que respeita à História e Geografia, A Associação de Professores de Geografia apresenta no seu site o seguinte comunicado:



 PARECER  ALTERAÇÕES CURRICULARES AO 3º CICLO - Julho 2010
1. Preâmbulo

Na sequência da referência feita pela Senhora Ministra da Educação, na Assembleia da República, da existência de um projecto de alterações ao 3º ciclo, a Direcção da Associação de Professores de Geografia considerou relevante emitir o seguinte parecer.
Pensa ainda a esta Associação lançar, juntamente com outras instituições, uma petição sobre a relevância da Educação Geográfica para o desenvolvimento harmonioso e sustentável do nosso país.
2. A Educação Geográfica – Fundamento e Estrutura Curricular

A Educação Geográfica deve ser uma componente fundamental do currículo nacional, dada a importância do reconhecimento da identidade espacio-temporal de Portugal, no contexto europeu e mundial, na medida em que a nossa matriz cultural e o nosso lugar no conjunto dos povos e das nações só pode ser entendida se houver uma compreensão da identidade acima referida. Para a identidade de um povo, de uma nação, é fundamental o reconhecimento da importância da sua matriz territorial. Nenhum povo, nenhuma nação vive num espaço isomorfo ou neutro. As culturas dos povos e das nações alicerçam-se também no seu património territorial, seja ele natural ou cultural, por mais desenvolvidos que sejam tecnologicamente. 2 | P á g i n a
Um povo que não conheça e não estime o espaço que é matriz da sua cultura e vida quotidiana, terá grande dificuldade em entender a importância da sua gestão planeada e ordenada. 1
1 Alguns dos problemas que afectam Portugal no que diz respeito ao Ordenamento do Território poderão estar relacionados, justamente, com o facto de as políticas educativas não terem em conta a importância do contributo do conhecimento do território português, a diferentes escalas de análise. Veja-se o relatório "Portugal 2010" da McKinsey Global Institute, que identifica o ordenamento do território como um factor de competitividade nacional.
2 Existe actualmente um conjunto relativamente vasto de materiais didácticos para utilização de mapas digitais, disponibilizados online, através de um protocolo entre o Ministério da Educação, a Associação de Professores de Geografia e o Instituto de Geografia e Ordenamento do Território
Constituindo o nosso Território uma mais valia fundamental para o desenvolvimento económico e social de Portugal, quer pelo seu valioso património natural, histórico e cultural, quer pela posição geográfica e geopolítica do nosso país, torna-se fundamental o seu conhecimento aprofundado.
Num espaço que cada vez mais se contrai, em que fenómenos ambientais, populacionais, sociais, culturais, entre outros, têm causas e consequências multifacetadas que ultrapassam as fronteiras é fundamental desenvolver uma educação geográfica que problematiza, que questiona e procura equacionar cenários e inventariar soluções para as complexas situações que ocorrem no Mundo, desde as catástrofes naturais, aos contrastes no desenvolvimento, passando pelo aquecimento global, as migrações, o envelhecimento demográfico, a composição multipolar do sistema-Mundo, só para citar alguns dos temas constantes dos programas da disciplina de Geografia.
A evolução das TIC aplicada ao território tem crescido a um ritmo vertiginoso sendo já comum a utilização do termo TIG (Tecnologias de Informação Geográfica) que está presente na simples operação de consulta das coordenadas geográficas através de um GPS ou o visionamento de espaços em qualquer parte do Mundo no Google Earth até operações mais complexas como a manipulação de Websigs, nomeadamente os que já estão disponibilizados em “opensource” em vários sites portugueses. A disciplina de Geografia tem sido responsável pela introdução destas temáticas no ensino2 que são cada vez mais fundamentais ao cidadão comum.
A Geografia na Educação Básica
A Educação Geográfica desenvolve-se ao longo dos três ciclos da Educação Básica através da aprendizagem de conceitos, procedimentos e atitudes, no sentido do desenvolvimento de competências que permitam às crianças e aos jovens uma 3 | P á g i n a
consciência de pertença a um território, uma cidadania activa e ainda, uma cultura para o ambiente e desenvolvimento sustentável, para a cooperação e a interculturalidade, que lhes permita intervir criticamente no ordenamento do território e ter um olhar atento no que diz respeito ao bem-estar dos povos e das nações. O enunciado das competências geográficas do ensino básico está plasmado no Currículo Nacional do Ensino Básico e aprofunda a síntese anteriormente feita.
Ao contrário do que sucede em sistemas educativos como, por exemplo, o inglês, não há orientações por parte do Ministério da Educação relativamente ao número de horas lectivas anuais que devem ser dedicadas à aprendizagem das competências geográficas no pré-escolar e no 1º ciclo 3 (espera-se que o projecto de construção de Metas de Aprendizagem a implementar pelo Ministério contribua para um melhor ensino das competências geográficas nestes níveis de escolaridade).
3 Recorde-se, a propósito, como durante o tsunami de Dezembro de 2004, uma criança inglesa salvou diversas vidas, graças aos conhecimentos geográficos aprendidos na escola.
Neste momento, os professores que, no 2º ciclo, leccionam a disciplina de História e Geografia de Portugal, não têm qualquer formação inicial em Geografia. Acontece mesmo que os professores profissionalizados em Geografia têm apenas habilitação suficiente, ao passo que professores com licenciaturas em Filosofia ou Línguas têm habilitação própria, o que, em algumas escolas, tem impedido a leccionação desta disciplina por docentes do grupo de recrutamento de Geografia.
No 3º ciclo, a disciplina de Geografia dispõe de um total de 3 blocos e meio ou só 3 blocos para os três anos – 7º, 8º e 9º (dependendo este meio bloco da divisão de horas, em cada escola, entre a História e a Geografia) o que se, por questões de calendário, coincidir com dias feriados, introduz uma redução significativa no número de horas lectivas (num total de 32 blocos por ano).
Esta distribuição horária conduz ainda à situação de professores de Geografia com 11 turmas, cerca de 300 alunos, o que inviabiliza um acompanhamento sistemático dos discentes e portanto é um factor negativo na qualidade das aprendizagens.
A Geografia e a História são duas ciências complementares, mas com objectos, métodos e procedimentos bem distintos. Aliás, em muitos países, nomeadamente de influência 4 | P á g i n a
anglo-saxónica, os departamentos de Geografia, no ensino superior, estão inseridos nas Faculdades de Ciências, em estreita ligação com as outras Ciências da Terra.
Dada a especificidade de cada um destas ciências, os bons resultados ao nível das aquisições de competências pelos alunos só são possíveis quando o professor domina claramente não só os saberes essenciais mas também os métodos e procedimentos que lhe são próprios e, uma das orientações da nossa política educativa deve ser, sem dúvida, a promoção da qualidade da educação e do ensino, o que passa, necessariamente, por professores com boa formação, quer a nível científico quer a nível didáctico.
A Geografia no Ensino Secundário
No Ensino Secundário a Geografia é disciplina de opção nos Cursos de Ciências Socioeconómicas e Línguas e Humanidades, estando matriculados cerca de 20.000 alunos no 10º Ano (é a 5ª disciplina com mais alunos com exame nacional, sendo apenas ultrapassada pelas disciplinas de Português, Matemática, Biologia e Geologia e Físico-Química). É ainda opção no Curso de Ciências e Tecnologias no 12º ano.
O programa de Geografia no ensino secundário, no 10º e 11º anos têm como objecto espacial Portugal, abordando um conjunto vasto de temáticas, desde a meteorologia, a climatologia, o estudo do subsolo, dos recursos hídricos, e do mar (10º ano) até às cidades, rede urbana, agricultura, transportes e telecomunicações, ambiente e inserção na União Europeia (11º ano).
Como se pode deduzir do respectivo programa, os conhecimentos necessários para uma abordagem científico-didáctica nas componentes referenciadas são exigentes e requerem uma visão aprofundada dos mesmos, que nos parece não ser exequível com os 50 créditos necessários para a sua leccionação para os licenciados em História que seguem para o Mestrado em Ensino da História e Geografia, nomeadamente no que diz respeito à Geografia Física.
4. Proposta de Medidas
Atendendo aos anteriores considerandos, a Associação de Professores de Geografia considera fundamentais as seguintes medidas: 5 | P á g i n a

Na organização curricular do 3º ciclo

- As disciplinas de Geografia e História devem ser leccionadas separadamente;
- A Geografia deve ter uma carga horária semanal de, pelo menos, 1 bloco e meio de 90 minutos, ao longo de cada um dos três anos;
- Em alternativa, se a escola optar pelo regime semestral, a carga horária deve ser de, pelo menos, 3 blocos de 90 minutos por semestre em cada um dos anos;
- No âmbito da autonomia das escolas, estas organizarão a distribuição anual ou semestral da área que englobe as disciplinas de Geografia e História.
Na Habilitação para a Docência

Revisão do Decreto-Lei n.º 43/2007 de 22 de Fevereiro (que define o regime jurídico da habilitação profissional para a docência na Educação Pré-Escolar e nos Ensinos Básico e Secundário) para que:
- Só possam leccionar Geografia ou História no ensino secundário os professores que, ao adquirirem a sua habilitação na licenciatura, tenham realizado o “Major” na respectiva área científica;
- Se equacione a possibilidade de alteração da combinação obrigatória de formação conjunta em História e Geografia para a docência na Educação Pré-Escolar e nos Ensinos Básico e Secundário, alterando o Decreto-Lei acima mencionado;
- A prova de ingresso na carreira docente tenha uma componente científico-didáctica e tenha o parecer de entidades independentes. A Associação de Professores de Geografia deverá ser parceira na monitorização destas provas.
Lisboa, 10 de Julho de 2010
                                                                                A Direcção da Associação de Professores de Geografia

História e Geografia

No site da Associação de Profesores de História, encontramos o seguinte editorial:




Revalorize-se a História!!!
Em 16 de Março de 2010, na Fundação Calouste Gulbenkian, ficou decidido que a APH tentará, em conjunto com parceiros do Ensino Superior, Institutos de Investigação e outros intelectuais, promover uma campanha em defesa da História. Constituiu-se uma plataforma intitulada História, Cidadania e Desenvolvimento e, mais do que revalorizar esta área científica e disciplinar, pretende-se que um movimento de opinião alargado consiga persuadir a opinião pública e o poder político da sua relevância inquestionável, evitando futuras decisões que a coloquem em causa, que a desvalorizem.

Desvalorização essa que começou, nunca é demais repetir, com a instituição do Decreto-Lei nº 43/2007 de 22 de Fevereiro, relativo à habilitação profissional nos domínios da docência. Professores licenciados em Geografia, com uma formação em História que não seja inferior a 50 créditos, podem candidatar-se ao Mestrado em Ensino da História e da Geografia para o Terceiro Ciclo do Ensino Básico e Ensino Secundário, sendo o contrário válido também para os licenciados em História. Tal como referiu Olga Magalhães, no encontro de 16 de Março, “a adequação da formação de professores de História a Bolonha, não contribuirá para a criação de um profissional científica e pedagogicamente preparado para desenvolver nos seus alunos as competências históricas que o mundo globalizado exige”.

Parece que adivinhávamos. Semanas depois surgiram hipóteses para que, ao abrigo da autonomia, a Direcção de cada Escola possa vir a optar pela semestralização das disciplinas de História e de Geografia.

Questionamos: existe investigação realizada noutros países europeus sobre a aplicação e os resultados da semestralização de algumas áreas científicas e disciplinares que permitam colocar esta hipótese como viável?

Estejamos atentos. Empenhemo-nos na revalorização da História, todos nós.

Estamos a preparar uma petição on-line e em papel. Contamos consigo!


A Direcção da APH  




terça-feira, 16 de novembro de 2010

Em favor do ensino da História

Para:Sociedade civil, Professores, Investigadores


Considera que o ensino da História é um instrumento fundamental para que os portugueses possam compreender a realidade envolvente, procurar a realização pessoal, contribuir para o desenvolvimento sustentável e para o aprofundamento da democracia?
Sabe que, para além das reduções do peso curricular impostas nas últimas décadas, as disciplinas anuais de História podem vir a dar lugar a unidades curriculares semestrais de História e Geografia?
Tem conhecimento de que, actualmente, para aceder aos Mestrados em Ensino da História e da Geografia no 3º Ciclo do Ensino Básico e no Ensino Secundário basta ter realizado, numa Licenciatura de três anos (180 ECTS), dois anos (120 ECTS) em ambas as áreas disciplinares (nenhuma das quais com menos de 50 ECTS)?
Subscreva a petição proposta pela Plataforma “História, democracia e desenvolvimento”, dinamizada pela Direcção da Associação de Professores de História, pelo Departamento de História, Arqueologia e Artes da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra; pelos investigadores e docentes António Borges Coelho, António Manuel Hespanha, Filomena Pontífice, Isabel Barca, João Paulo Avelãs Nunes, Marília Gago, Olga Magalhães, Raquel Pereira Henriques e ainda por Artur Santos Silva.


Manifesto “História, democracia e desenvolvimento”

As reformas dos Ensinos Básico e Secundário, Politécnico e Universitário concretizadas em Portugal nas últimas décadas contribuíram para a diminuição do peso quantitativo e qualitativo da historiografia — da história, da arqueologia, da história da arte e das tecnologias delas derivadas — nos currículos escolares. Complementarmente, as sucessivas reformas do sistema de ensino e de formação profissional têm implicado a perda de oportunidades de divulgação e de rentabilização deste conjunto de saberes como vectores fundamentais para o aprofundamento da democracia e para a promoção do desenvolvimento sustentável.
Entre outros exemplos de desvalorização da importância da história no âmbito escolar, salientam-se a menor presença ou a ausência de módulos ou disciplinas de história em muitas das ofertas curriculares, as alterações introduzidas em 2007 na formação inicial de professores (“Processo de Bolonha” e Decreto-Lei nº 43, de 22 de Fevereiro) e a continuada precariedade da formação contínua, a simplificação redutora do perfil funcional dos professores e a sistemática menorização das actividades extra-lectivas e extra-curriculares (visitas de estudo, clubes de actividade, exposições ou núcleos museológicos, modalidades de ligação à comunidade, programas de intercâmbio, etc.).
Devido às transformações entretanto ocorridas — níveis crescentes de integração social global e, ao mesmo tempo, de desigualdade entre regiões e países —, a história é, cada vez mais, um saber indispensável para os indivíduos e para as comunidades. A sua natureza estruturante e carácter extensivo, as múltiplas correlações com a realidade actual pressupõem e justificam, quer uma formação particularmente exigente dos professores, quer um contacto regular dos estudantes com a área de saber em causa. As disciplinas de história podem, assim, contribuir para a promoção de competências gerais, transversais e específicas; para combater a hegemonia da cultura de massas e do absentismo cívico.
Mau grado o suposto acesso universal à informação, a escola e, nesta, as disciplinas de história continuam a desempenhar um papel essencial na aquisição de capacidades de rastreio, selecção e interpretação de dados, experiências de vida e memórias. Porque trabalha com a multiplicidade das facetas das sociedades humanas no espaço e no tempo, a história facilita, pois, o contacto com instrumentos de análise que potenciam o combate às assimetrias socioculturais, que permitem uma efectiva capacidade individual de escolha.
Os saberes de matriz historiográfica são, ainda, economicamente relevantes. Garantem uma base sólida para tecnologias como a didáctica da História e o jornalismo, a arqueologia industrial e o património cultural, a museologia e o turismo cultural, a arquivologia e a biblioteconomia, a conservação e o restauro, a cultura organizacional e a diplomacia, o design e a publicidade, o cinema e a produção de conteúdos multimédia. Enriquecem, também, a generalidade dos outros desempenhos profissionais. Instituições públicas e organizações privadas; empresários e profissionais liberais, gestores e quadros superiores, chefias intermédias e trabalhadores são mais adaptáveis e imaginativos, eficazes e responsáveis, geram maior valor acrescentado de forma continuada quando adquirem, formal ou informalmente, competências históricas.
Quando encaradas de forma objectivante, as disciplinas de história podem, igualmente, contribuir para a formação e a consolidação de uma consciência social aberta, democrática e participativa. Fazem-no contextualizando fenómenos complexos; viabilizando posturas menos alienantes face às problemáticas da multiculturalidade e das identidades (locais, regionais, nacionais e globais; sexuais e etárias, socioeconómicas e socioculturais, político-ideológicas e étnico-religiosas); treinando-nos para lidar com as diferenças e as semelhanças, as mudanças e as permanências, a cooperação e a conflitualidade, as situações de crise ou estagnação e de progresso; tornando conjecturável o relacionamento entre o passado, o presente e eventuais cenários futuros.
Para que o ensino da história corresponda a estas expectativas é, no entanto, relevante que se baseie nos pressupostos epistemológicos, nos conceitos teóricos, nas metodologias de reconstituição e interpretação da “nova historiografia”; numa didáctica promotora da qualidade, da criatividade e da autonomia; numa escola de intervenção globalizante. Urge, deste modo, inverter a tendência descrita e encontrar soluções alternativas, debatendo, nomeadamente, planos curriculares, formação inicial e contínua de professores, legislação de enquadramento da escola e da profissão docente.


Lisboa, Maio de 2010

Os signatários

Assina a petição
http://www.aph.pt/inicio.html