quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Como ensinar no século XXI quando nos tiram horas?

Como ensinar hoje, neste século XXI?



Segundo Ausubel, o método expositivo é o melhor processo de ensino, já que o raciocínio indutivo e o método da descoberta, também eficazes, não podem ser sempre utilizados, porque exigem tempo que num sistema de ensino marcado pela pouca flexibilidade, rareia Desta forma, o método expositivo é encarado como um processo viável.
No entanto, o método preconizado por Ausubel parte de determinados princípios que determinam a actividade dos alunos.
Assim, o ensino deve partir de uma avaliação diagnóstica, para que possa ser adaptado à estrutura cognitiva preexistente no aluno. Segundo Ausubel os saberes preexistentes funcionam de ancoradores para outras aprendizagens. Desta forma, a aprendizagem tem que ser significativa. Devem existir, por outro lado, organizadores de ancoragem avançados ou índices de organização ou seja, uma comunicação introdutória da competência a adquirir. Segundo Antoine de La Garanderie é necessário que seja dito ao aluno que deve estar atento ao que se diz para no fim do discurso ele o possa reproduzir por palavras suas, fazer um trabalho escrito, responder a um questionário ou coisa do género. Este instrumento funciona como o verdadeiro meio de compreensão.[1]
Sobre este assunto, o autor acima citado defende: “Os alunos assim aconselhados, não podem mais cair no erro dum esforço voluntário falhado. Com efeito, os alunos terão na sua consciência o objectivo de reencontrar o discurso do professor, o que constitui a verdadeira finalidade da atitude de atenção. Nesse momento, graças a uma boa orientação, os alunos estarão à vontade para bem dirigir o seu esforço”[2]
Efectivamente este método não tem nada a ver com a memorização maquinal ou o decorar. O aluno tenta reter a ideia relacionando-a com os conhecimentos já adquiridos e procurando o seu sentido realiza, desta forma, uma aprendizagem inteligente.
Assim, “a aprendizagem receptiva - imitativa é uma reconstrução mental de um modelo, que se efectua no seio de uma interacção contextualizada entre o professor e o aluno.”
Este processo, além da motivação compreende a atenção; retenção e a reprodução.
Desta forma, é importante que o professor preveja diversos feed-backs ao longo da aula, para adaptar o seu discurso às características de descodificação dos alunos. Este factor leva-nos, então, a considerar a necessidade de diversas motivações ao longo da aula, a existência de um clima de à-vontade suficiente para que os alunos possam interromper regradamente o professor bem como uma constante interactividade.
Vigotsky chama a atenção para o facto do conhecimento dever estar na zona de desenvolvimento próximo, para que não seja absolutamente rejeitado pelo aluno.
Outros autores enfatizam a necessidade do professor conhecer os pré-conceitos, uns certamente mais próximos dos valores e difíceis de mudar, outros meros “ouvir dizer”, por isso facilmente desconstrutíveis, para que o aluno possa chegar ao verdadeiro conhecimento. Este pode ser um problema central em alguns meios e pressupõe o conhecimento prévio do pensamento dos alunos e famílias.

A exposição – um método entre vários
Na verdade, a Exposição vem completar, de forma inteligente, o método de pesquisa e descoberta. É fundamental nas fases de apresentação, síntese e estruturação do saber.
No entanto, é preciso completar a informação verbal com outros suportes.
Hoje o método expositivo tem que ter em conta determinados factores sem os quais corre o risco de provocar a desmotivação e o aborrecimento por parte dos alunos.
A exposição, bem como qualquer actividade pedagógica deve pressupor, segundo João Amado  “o diálogo; a criação de situações de autonomia e de livre iniciativa; a formulação de objectivos pessoais e colectivos; a formulação colectiva e aplicação responsável de estratégias de auto-controlo, auto-avaliação e auto-reforço.”, caso contrário pode sobreviver o desinteresse dos alunos.[3]
A exposição deve ser clara, interessante e facilmente descodificável pelos alunos. A
utilização de recursos variados desde o mapa e cronologia para localização do acontecimento histórico e treino da competência de espacialidade e temporalidade, passando por  documentos de vários tipos desde escritos, iconográficos; materiais; áudio e vídeo que amenizarão a aula e possibilitarão o trabalho das competências essenciais da História, ajudarão a tornar a aula atraente e evitar a indisciplina.
Assim, a exposição deve, ainda, ser organizada tendo em linha de conta os interesses, a cultura, o nível etário e psicológico dos alunos
Efectivamente, a Psicologia ensina que a forma como o indivíduo encara o meio sofre modificações ao longo da sua vida.
Segundo Piaget, no 1º ciclo, o meio funciona como projecção do seu mundo interior: o real é concebido em termos afectivos muito simples, através de oposições binárias: bons/maus; triste/contente. O passado não é visto ainda em termos de tempo mas sim como cenário de histórias nas quais projecta o seu mundo interior.
 A exposição, nesta fase, terá que ser baseada em narrações voltadas para a aventura e o pormenor, capazes de suscitar o processo de identificação do aluno. 
No final do 1º ciclo, início do 2º,  a perspectiva do real modifica-se, o decréscimo do egocentrismo é acompanhado de uma crescente objectivação do mundo que se procura conhecer em pormenor e em extensão. A curiosidade só fica satisfeita quando a informação é exaustiva e é direccionada para os limites máximos e mínimos (o maior, o menor....). 
A acção e a aventura continuam a ser os grandes códigos de leitura da realidade passada.
Há o fascínio pelas colecções e pelo desconhecido, pelo distante, no espaço e no tempo, pelo exótico e pelo mágico. No entanto, é apenas capaz de compreender sequências temporais curtas que necessita de rechear de histórias.
 Se os alunos a nível do 2º ciclo se ligam à fase piagetiana das operações concretas e no 3º ciclo, se encontram já na génese ou estrutura das operações formais (11 aos 14 e dos 13 aos 16), todos eles ainda se ligam muito ao concreto.
Torna-se, então, fundamental, em todo o ensino básico, trabalhar os conteúdos de forma a torná-los vivos e concretos. Se nos remetermos para abstrações que decepcionam e desinteressam os alunos, sobreviverá o fracasso.  
 Ao longo do 2º e 3º ciclo as técnicas de trabalho mais eficazes terão que equacionar o envolvimento emocional e a chamada de atenção às mudanças, conflitos e descobertas.
Pode ser estimulada a capacidade investigativa na procura de elementos que enriqueçam os conhecimentos duma época, facto, personagem, mas não deve, ainda usar-se o método científico com todas as suas etapas e exigências de tipo cognitivo, já que o aluno não possui ainda os instrumentos mentais necessários à sua compreensão.

Durante o 3º ciclo, o aluno adquire a capacidade de interpretar, organizar e estruturar os elementos que foram apreendidos anteriormente de forma descritiva, factual, personalizada e múltipla. A pouco e pouco, irá estruturando um sistema lógico, formal e abstracto da compreensão do real que será quanto mais sólido quanto mais rico tiver sido o caminho anterior.  
 Nesta fase, as interpretações e teorias ainda são absolutas. No entanto, o aluno deve ser estimulado para a abertura a diversas perspectivas, à tolerância, à concepção do carácter relativo e provisório do conhecimento, e do saber como um questionamento nunca terminado. No final do secundário estas atitudes poderão já ter sido estruturadas.
Efectivamente, só no final do 3º ciclo e início do secundário, o aluno é capaz de abordar criticamente a realidade e então requestionar os factos já sabidos numa abordagem diferente. É, então, capaz de pôr em prática o método científico de forma entusiasmada e aliciante.
Ao longo deste processo, a utilização de métodos activos, favorecendo a expressão e a troca de opiniões, a relativização dos conhecimentos, o investimento na tomada de consciência das capacidades, favorece o acesso ao pensamento formal em oposição aos ambientes educativos dogmáticos e autoritários.
A abordagem dos conteúdos a partir das vivências do aluno e do meio no qual se movem, impõe-se, então, como fundamental à aprendizagem em qualquer idade.
 Aquela poderá começar por uma exposição baseada em relatos recheados de peripécias onde os bons se movimentam contra os maus e acabar por ser a concretização de um projecto de investigação. 
Por outro lado, ainda, cada indivíduo sente, hoje em dia, a angústia da procura de uma identidade pessoal, aspecto único e irrepetível da sua liberdade, cada vez mais restringida por comportamentos e normas de massa. Interroga-se, então, sobre si próprio, na busca das raízes que o justifiquem e o liguem a algum processo integrador – quem sou? De onde venho?
Sociedades e nações atravessam, também, uma crise de valores.
 Este problema coloca-se hoje com a maior acuidade já que a cultura portuguesa sofre com mais intensidade o fenómeno de aculturação provocada, quer pela globalização da sociedade, quer pela integração europeia.
A sociedade actual experimenta o vazio inerente à  perda ou enfraquecimento de rituais – dos religiosos aos familiares – que integravam naturalmente o indivíduo no colectivo, concebido como uma identidade herdade e que era necessário projectar através do tempo.
 O recurso ao meio como factor configurador do currículo funciona como um trabalho  capaz de projectar ou sublimar necessidades deste tipo, nem sempre consciencializadas ao nível racional.
 Impõe-se, então, a necessidade de realçar os temas capazes de inculcarem  sentimentos de integração e identidade.
O tema do património surge, então, hoje como uma problemática que exige da escola uma resposta adequada e um tratamento pedagógico didáctico que motive os alunos para o estudo das realidades capazes de formarem atitudes de cidadania que se traduzam na defesa e preservação do que constitui parte integrante e significativa do percurso temporal da sociedade em que se inserem.
 Torna-se fundamental encarar os bens patrimoniais na sua vertente histórico-cultural, natural, física e biológica, como veículo de desenvolvimento cultural e despertar a sensibilidade para a sua fruição como indicador da qualidade de vida das populações, já que constituem suportes da memória colectiva, quadro de referência e de valores.
Neste contexto, podemos afirmar que a natureza e a cultura do aluno foi respeitada.
Resta esperar que o aluno se entusiasme e aprenda a conhecer o que o envolve e o identifica. Será um passo para amar o que o rodeia e daí partir para aprendizagens mais generalistas.


[1] . La Garanderie, Antoine de,  Pedagogia dos Processos de Aprendizagem, Ed. Asa, p.. 39
[2] .  idem, ibidem
[3] . Amado, João da Silva, A construção da disciplina na escola – Suportes teóricos práticos,  Cadernos investigação e práticas, CRIAPASA, Porto , 2001, p. 16.

Conclusão
Se já não é defensável a panaceia da investigação como a base de toda a motivação, torna-se fundamental a exposição clara e bem feita, baseada naquilo que o aluno conhece bem e motivadora de uma atitude activa por parte do aluno capaz mesmo de o levar a mudar os seus pontos de vista iniciais.
Hoje o método expositivo mantém toda a sua validade, no entanto torna-se cada vez mais necessário não utilizar permanentemente as mesmas metodologias, já que num mundo em mudança o que cativa é o que aparece como novidade. Desta forma o professor tem de partir das características dos alunos e investir de forma criativa na variedade e no inesperado, nas tecnologias, não esquecendo, no entanto de explicitar sempre de forma clara e concreta o problema a trabalhar; a tarefa a realizar bem como os objectivos que se pretendem alcançar.
Torna-se, também importante sublinhar o discurso com o registo no quadro das suas ideias essenciais. Efectivamente, há que ter em linha de conta a rapidez deste método. A palavra é pronunciada com rapidez, a mente assimila as ideias com facilidade, mas o que é óbvio num momento pode ser esquecido de seguida se não for registado no caderno. E uma imagem vale por mil palavras, já lá dizia Santo Agostinho.
Inculcar no aluno o hábito de tirar apontamentos durante a explicação é motivar a participação do aluno, estimular a sua capacidade de análise, de crítica, de síntese bem como a expressão escrita do compreendido. Desta forma, de maneira nenhuma se deve desprezar a prática destas competências de compreensão e comunicação, essenciais no ensino da História e transversais no ensino básico e de forma nenhuma se deve confundir este método  com o ditado de apontamentos que determinará a mera acumulação de dados.
Por fim, resta sublinhar que para que haja ensino - aprendizagem  é necessário que o professor goste do que ensina e reflicta na maneira mais adequada aos alunos, que deve conhecer bem, e à melhor forma de dos levar a apreender os conteúdos em causa.