terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Aos meus alunos 2014/2015



Cheguei a um tempo que a relação com os alunos é de grande ambivalência: incompreensão da sua forma de estar, "sem valores"; "sem responsabilidade", por outro de grande compreensão pelo contexto em que ocorrem as suas ações e de uma enorme vontade de construir algo de diferente, de lhes dar perspectivas e motivação, para lutarem por objetivos concretizáveis. Tudo isto, no nosso mundo, é tão difícil!


Por tudo isto, foi com enorme emoção que recebi dos meus alunos,  que me fazem andar com a cabeça à roda, esta prenda:





Obrigada por este momento. Todos vocês são inesquecíveis.  Um abraço do tamanho do mundo.




sábado, 25 de outubro de 2014

1ª GUERRA MUNDIAL EM GONDOMAR







Como se viveu a 1ª guerra em Gondomar?

Foto de Guedes de Oliveira, com farda e máscara de combatente, na casa da Levada, Rio Tinto, cocumento da família Guedes de Oliveira, inserido na Monografia de Rio Tinto., p. 148.

     Os soldados portugueses além de defenderam o território nacional, com o arquipélago dos Açores e Madeira incluído,  estiveram presentes em Angola, em 1914-1915; em Moçambique, entre 1914 e 1918 e em França, em 1917 e 1918. Houve combates em todas as frentes, mas o CEP só participou numa batalha, a Batalha de La Lys, na Flandres, no dia 9 de Abril de 1918.
    As forças portuguesas  partiram para a guerra em situação muito deficitária, sem instrução suficiente, armamento e equipamento muito desatualizado.
    Apesar de tudo, pode-se dizer que o CEP, lutando heróicamente, cumpriu os seus objetivos: Portugal  conservou os territórios coloniais e teve assento na Conferência de Paz.

O sentimento de guerra em Gondomar

   De início, em Gondomar, como certamente em muitos pontos do país, predominava a opinião de que a guerra não tinha muito a ver com Portugal. Só começou a preocupar as pessoas quando as colónias ultramarinas foram atacadas pelos beligerantes,
  A partir do momento que Portugal decide participar na guerra, a situação muda.  Sente-se a necessidade de proteger os soldados que faziam parte do Corpo expedicionário português (CEP).
   Em 1915, com o sentimento de guerra mais entranhado, o Clube Gondomarense organiza um espetáculo a favor do CEP e descerra o retrato de Jeremias Gaudêncio das Neves, expedicionário em África e sócio do Clube. O ato foi acompanhado pelo canto do Hino do Clube e pela orquestra de José Moura. Fez-se, também, teatro infantil.
  Neste mesmo ano, o Grupo de Mocidade Valvoense, lamenta-se pelo facto do Carnaval ser insípido, “apenas uns grotescos e ridículos mascarados que faziam os transeuntes sorrir de desdém e nojo”. Contra o costume, a Escola Dramática e Musical Valvoense decide não promover festas carnavalescas “associando-se assim à dor que domina as consciências do Universo”. [1] Por seu lado, o Clube Gondomarense acha que os lucros da realização de uma festa podem reverter em benefício dos  soldados portugueses e para esse fim promove a sua realização.
   Organiza-se, então, uma cruzada para recolha de fundos.[2] Sobretudo mães e namoradas temem e expressam, de forma mais evidente, esse sentimento de receio, dor e saudade.
   Oficialmente, a Câmara Municipal de Gondomar, em vinte e sete de abril de 1916, “colocou-se ao lado do Governo, que, como representante da Nação, aceitou a declaração alemã de hostilidade” [3]
  Neste mesmo ano, há grande adesão  à Cruzada das Mulheres Portuguesas, presidida por Elzira Dantas Machado [4] a fim de dar assistência aos soldados portugueses que estavam a combater na guerra e aos seus familiares.
   Por esta altura, a Junta de Paróquia de S. Cosme lamentando as vítimas portuguesas que tombavam em África, devido à guerra, aprova uma subscrição para socorrer as vítimas deste conflito.
  A pouco e pouco o sentimento de guerra vai dominando e em 1917, os sócios expedicionários do Clube Gondomarense são isentos de cotas. Esta associação cancela, mesmo, um espetáculo “devido à tristeza reinante”.[5]   Em 1917, um espetáculo, do Grupo Dramático e Recreio da Mocidade Valboense, com alguns elementos “a servir a Pátria”, com suporte orquestral  e representado na Escola Dramática é denominado “Alemães e Franceses” e “baseado em comoventes episódios da guerra actual”. [6]
   Em 1918, depois da batalha de La Lys, um fado que lamenta o infortúnio dos soldados portugueses, torna-se popular:

9 de Abril, meu amor
Triste data em que eu ditei,
Quando eu em ti pensei
Ó minha adorada flor.
São pecados da minha dor
E fatalidades da vida.
Ao escrever-te estas linhas.
Eu só choro, meu coração
Por serem palavras tão minhas
Só as letras as não são.
Olha leva à minha mãe
Muitos beijos e carícias
E diz que de mim tens notícias
Que estou vivo e estou bem
Minhas pobres irmãzinhas
Que inocentes, coitadinhas
Que só sentem, como tu sentes,
Diz-lhes que não és tu quem mentes
Porque as palavras são minhas
Fui ferido e perdi um braço
Numa chuva de metralha
Arranja outro namorado
Que eu sou um homem mutilado
E futuro algum te oferece.



Que consequências resultaram?   

    Se no total, Portugal perdeu 7.760 homens e contou com 16.000 feridos e mais de 13.000 prisioneiros e desaparecidos, em Gondomar, Camilo de Oliveira refere o nome de sete soldados que morreram em França e um em Moçambique. Os seus corpos ficaram por essas paragens, o que era comum.
   Com o incentivo da Liga dos Combatentes da Grande Guerra (LCGG), há algum  empenho de diversas entidades na criação de espaços nos cemitérios locais destinados aos combatentes da 1ª Guerra capazes de afirmarem a sua coragem e prestarem, desta forma, o devido agradecimento pelo sacrifico que fizeram pelo seu país. Forma-se, mesmo, um grupo nacional, o CPGG que, depois de conseguir em 1921 a exumação e trasladação  de  dois Soldados Desconhecidos, um proveniente de África, outro da Flandres ( as duas frentes de combate onde houve maior intervenção portuguesa), para o Mosteiro de Santa Maria Vitória, na Batalha, se bate pela  consagração de novos rituais e símbolos, procurando organizar e celebrar regularmente,  o ‘9 de Abril’ e o ’11 de Novembro’. Este grupo, com a colaboração da Liga dos Combatentes da Grande Guerra,  sensibiliza, também, as entidades locais para a criação de espaços nos cemitérios exclusivamente destinados aos homens que pereceram em defesa da Pátria.




 Desta forma, no dia vinte e um de agosto de 1927 foram inaugurados, nos cemitérios de Valbom, S. Cosme, Fânzeres e Rio Tinto, os canteiros a fim de recolher os restos mortais dos soldados que pereceram durante a 1ª Guerra Mundial .[7] Hoje ainda lá figuram embora, alguns com modificações sensíveis.

Talhão de Valbom - foto de Maria de Fátima Gomes




Memorial S. Cosme - foto de Vítor Neves


Memorial  de Fânzeres - Foto de Fátima Gomes


Ramo da Liga dos Combatentes colocado em todos os memoriais em 1 de novembro de 2014, cumprindo o ritual que vem da década de 1920.

 Foto de Fátima Gomes









Memorial  de Rio Tinto - Fotos de Fátima Gomes e Vítor Neves

Memorial moderno construído em substituição do primitivo que ficava no terreno onde está hoje a capela mortuária.Fica contíguo ao espaço destinado aos combatentes da guerra colonial.



Memorial de S. Pedro da Cova - Foto Vítor Neves





Perpétua a lembrar a saudades dos que se foram.





                                                    Memorial  de S. Pedro da Cova - Foto de Fátima Gomes


Crise económica e social

     A crise económica perpassa por todo este período, particularmente no que se segue à Primeira Guerra Mundial. Na verdade, quer os jornais, quer as atas da Câmara fazem referência à falta de géneros.
Até ao fim de 1915, vive-se dos stocks de antes da guerra. As primeiras falhas iniciam-se em 1916. Os preços aumentam, já que a mão-de-obra é menor e mais cara, as matérias-primas encarecem e por sua vez arrastam os transportes.
Em 1915, a Associação dos Operários Marceneiros de Valbom decide não comemorar o 1º de Maio devido à “enorme crise que assoberba as classes trabalhadoras.”[8]
O povo sente cada vez mais a carestia da vida. Em 1917, há um comício na Associação de Classe dos Operários Marceneiros de Valbom para eleger uma comissão com elementos de diversas profissões capaz de pedir, junto do Administrador do Concelho, o cumprimento do decreto que proibia que o milho ultrapassasse o preço de 1$20 os 20 litros. No entanto, no dia aprazado, o grupo foi primeiro recebido por uma força de cavalaria que gerou uma sessão de pranchadas e baionetas e depois pelo Administrador que declarou que tal feito caberia a uma comissão prestes a constituir-se. [9]
As iniciativas das juntas sucedem-se como é o caso em Valbom do ofício de vinte e um de junho de 1918, que solicita ao presidente da Comissão de Subsistência que seja fornecido à freguesia, milho e centeio. [10] No mesmo ano, em S. Cosme, discute-se o regulamento dos celeiros municipais que pretendiam fazer face à crise.
Outra tentativa reside na venda de milho a baixo preço, em Valbom. O Pároco de Rio Tinto organiza, mesmo, uma Caixa de Socorros, tendente a acabar com a mendicidade
As moedas são entesouradas porque o valor do seu metal ultrapassa o valor facial, o que leva  várias instituições e até autarquias a emitir cédulas para serem usadas em pequenas transações.



                                                     Documento pessoal
     No entanto, as lutas mais aguerridas no concelho de Gondomar, acontecem em S. Pedro da Cova, dado as condições de trabalho desumano que lá existiam, que incluía o trabalho descriminado de menores e mulheres. Com salários baixos, a alimentação dependia do maior ou menor crédito que se tinha nas lojas. Podia constar de broa, legumes, peixe e por vezes carne. Com o objetivo de defender os interesses dos operários mineiros, cria-se em 1914, a Associação de Classe de Operários Mineiros e Anexos. Em 1915, ocorre nova greve mineira em S. Pedro da Cova, pela melhoria dos salários.
     A opinião pública republicana estranha que a ” autoridade Administrativa se colocasse abertamente ao lado da empresa exploradora”. O Administrador manda encerrar a Associação de Classe e prender toda a Comissão delegada, “trazendo para a República, o critério monárquico de fazer política”.  Um comício de trabalhadores é invadido pela força das autoridades e são presos, no Aljube, os principais oradores.
  Do mesmo modo, um comício tentado em Valbom, é impedido pela força das armas.[11]
  Nesta altura, a Associação dos Operários Marceneiros de Valbom decide  não comemorar o 1º de Maio devido à “enorme crise que assoberba as classes trabalhadoras[12] Em 24 de Julho de 1916, funda-se o Sindicato Agrícola de S. Cosme de Gondomar
     Em 1917, os mineiros de S. Pedro da Cova empreendem mais uma greve, devido aos baixos salários que auferiam e à carestia de vida, sobretudo do pão. Esta greve, que se arrasta por várias semanas é duramente reprimida. Vários mineiros são mortos.[13] O patronato tenta arrastar alguns mineiros a furar a greve acenando-lhes com prémios pecuniários chorudos e alicia-os a lutarem contra os seus companheiros de trabalho, gerando-se, desta forma, enorme confusão. As forças armadas intervêm e não poupam nem mulheres nem crianças que são massacradas.
     Em 1918, a Junta de Freguesia de S. Cosme oficia à Câmara de Gondomar a solicitar que seja suspenso o imposto sobre as mobílias que passam as barreiras da cidade do Porto devido à crise de trabalho dos marceneiros e ao elevado preço das madeiras.[14]

DOENÇA
    Em1915, o médico de Medas pede soro anti-diftérico para fazer face à doença que afeta essa região.[15]
    Em 1918, grassa na freguesia de S. Cosme, mas também em todo o concelho, uma epidemia de tifo exantemático.[16] Chegou a constituir-se um cordão humano pela Fonte da Saúde, para impedir a circulação da população entre Porto e Valongo.
   No mesmo ano desenvolve-se, a gripe infeciosa[17] ou gripe pneumónica. Pensa-se mesmo em ocupar a Vila Leopoldina para internamento hospitalar, decisão que preocupa a população, já que esta casa se localizava no então centro cívico de Gondomar. 
   No que respeita a doenças respiratórias e músculo esqueléticas eram, então, procuradas as termas. Encontramos referência à estada de Novais da Cunha nas termas de Entre-os-Rios.[18] As de Caldelas, [19]também aparecem referidas. Nas Atas da Junta de S. Pedro da Cova, há registo de requerimento de certificados de pobreza para cura nas termas, no Instituto Pasteur, no Hospital Joaquim Urbano, o que pode evidenciar doenças ligadas a parasitas e à tuberculose. Em todas as freguesias, são inúmeros os pedidos de atestados para cura no Hospital de Santo António.
    É que em Gondomar não há asilos, parteiras municipais, dispensários, creches, assistência infantil ou pavilhão para tuberculosos.
    Projeta-se a construção de um hospital e para tal fim, o Clube Gondomarense chega a promover um espectáculo para angariação de fundos, mas o projeto é abandonado.

Conclusão
    A primeira guerra foi bem sentida em Gondomar, sobretudo a nível das suas consequências económicas  e  certamente junto dos familiares dos que participaram no CEP. O sentimento de possibilidade de perda que as condições deficitárias dos equipamentos do CEP  agravavam, eram sentidas com temor, sobretudo pelas mulheres mais chegadas aos que participaram na primeira guerra, mas também pela população em geral.  


BIBLIOGRAFIA:

FONTES MANUSCRITAS:

ARQUIVO DA CÂMARA MUNICIPAL DE GONDOMAR :
Livro de Registo das Actas das Sessões de Vereação da Câmara de Gondomar , Livro nº 13 e 14.
Arquivo da Junta de S. Cosme de Gondomar: A.J.S.G. –  Actas da Junta da Paróquia de S. Cosme de Gondomar, Livro nº 3; 4; 5 e 6.
Arquivo da Junta de S. Pedro da Cova :
Actas da Junta da Paróquia da freguesias de S. Pedro da Cova – Livro nº 5; 6; 7.
Arquivo da Junta de S. Veríssimo de Valbom :
      Actas da Junta da Paróquia da freguesias de Valbom – Livro nº 4; 5; 6.
Diário Manuscrito de António Fereira da Fonseca, S. Pedro da Cova.

FONTES IMPRESSAS:

BIBLIOTECA PÚBLICA MUNICIPAL DO PORTO
      Jornal de Notícias – várias datas
      Periódicos gondomarenses:  
A Voz de Gondomar, nº 3
Terra Portuguesa
O Alho .

FIGUEIREDO, Silvino, Clube Gondomarense – Resumo da História do Clube – 1908 a 1958 – 1ª , ed. C. Gondomarense
FIGUEIRAS, Paulo de Passos Figueiras, S. Veríssimo de Valbom, Subsídios para uma Monografia, 1ªed. Centro Social e Cultural da Paróquia de S. Veríssimo de Valbom, Gondomar, Gondomar 1998.
MAGALHÃES, Albano, SILVA, Fátima, D´Armada, Fina, LOPEs, Licínia, CORREIA, Natália, CASTRO, Olga, Rio Tinto – Apontamentos Monográficos, 2 vols, ed. J.F. R. Tinto, 1999.
MAGALHÃES, Albano, D´Armada, Fina, CORREIA, Natália, Monografia da Vila de Fânzeres, ed. J.F. Fânzeres, 2005.
OLIVEIRA; Camilo de,O Concelho de Gondomar-  Apontamentos Monográficos, Vol  IV, Imprensa Moderna  Lda, 1936
ROSAS, Fernando, ROLLO, Maria Fernanda, História da primeira República Portuguesa, Tinta da China, Lisboa, 2009


FONTES ORAIS:
Maria Nogueira de Queiroz, 1980
José Martins Gomes, 1980
Serafim Martins Gomes, 1980




[1] A. B. P. M. P.  O Alho, nº 17, 27.05.1917, p. 3
[2] A. B. M. P. O Alho, 21.02.1915, p. 1
[3] OLIVEIRA; Camilo de, O Concelho de Gondomar, Apontamentos Monográficos, vol IV, p. 256
[4] Cruzada fundada em 1916, pela esposa de Bernardino Machado
[5] FIGUEIREDO, Silvino, Clube Gondomarense – Resumo da História do Clube – 1908 a 1958 – 1ª , ed. C. Gondomarense
[6]  A. B. M. P. O Alho nº 16, 20 .01.1917
[7]  OLIVEIRA; Camilo de,O Concelho de Gondomar, Apontamentos Monográficos, vol IV, p. 258
[8] B.P.M.P., Terra Portuguesa, nº 1, 21 de Fevereiro de 1915, p. 2
[9] B.P.M.P., O Alho, nº 2, 16.09.1917
[10] A. J.F. V.,  Acta da Junta da paróquia Republicana de Valbom de21.04.1918
[11] A. B. P. M. P Terra Portuguesa, nº 23, 28 Novembro de 1915
[12] A. B. P. M. P Terra Portuguesa, nº 1, 21 de Fevereiro de 1915, p. 2
[13] A. B.M.P., O Alho, nº 8, 01.09.1917, p. 1 e nº 10, 30.09.1917, p. 1/2
[14]  A. J. F. S. C. , Acta da Junta da Paróquia de 21.04.1918
[15] A. J. F. S. C. Actas da Junta da Paroquia de S. Cosme, 22 de Dezembro de 1915
[16] A. J. F. V. Actas da Junta da Paroquia de Valbom, 5 de Maio de 1918
[17] A. J. F. S. C. Actas da Junta da Paroquia de S. Cosme, 29 de Setembro de 1918
[18] A.B.P.M. P., O Progresso de Gondomar, nº 20, 28.08.1910, p.2
[19] [19] A.B.P.M. P, A Voz de Gondomar, nº 3, 20.09.1925, p. 3

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Novo ano letivo








Um novo ano se inicia hoje com toda a sua carga de esperança nos objetivos delineados, de ansiedade e determinação de persistir nos valores em que acredito.
Ensinar a despertar a curiosidade é para mim mais importante do que tudo.
Hoje a História pode ser fastidiosa quando tem que ser dada a correr, pelo menos em alguns conteúdos, mas se ficou o bichinho do querer saber mais, teremos ganho a batalha. Quem me dera conseguir isso, a minha grande meta. Depois, despertar a empatia entre mim e os alunos e entre uns e outros seria a realização completa.
Mais uma vez, recorro a Sebastião da Gama quando diz: “Para ser professor, também é preciso ter  as mãos purificadas. A toda a hora temos de tocar em flores. A toda a hora a Poesia nos visita.
O aluno acredita em nós e não deve acreditar em vão. Impõe-se-nos que mereçamos, com a nossa, a pureza dos nossos alunos; que a nossa alimente a deles, a mantenha.
Sejamos a lição em pessoa – que é isso mais importante e mais eficaz que sermos o papel onde a lição está escrita; e possamos dizer, sem constrangimento: Deixai-as vir a mim as criancinhas....” ( muitos de criancinhas, têm pouco, mas estes jovens são dignos da nossa compreensão. Haja em nós paciência suficiente para os compreendermos, nestes tempos tão conturbados!)

Já agora o pensamento de  Tihamer Toth:

Semeia um pensamento e
colherás um desejo; semeia um
desejo e colherás a ação; semeia
a ação e colherás o hábito;
semeia o hábito e colherás
o caráter.

Depois, o desejo de valorizar a solidariedade, a entre ajuda, como nos aparece tão bem demonstrada nesta narrativa:
“Um antropólogo propôs um jogo para crianças numa tribo africana. Colocou uma cesta cheia de frutas perto de uma árvore e disse às crianças que quem chegasse lá em primeiro lugar, ganharia todos os frutos. Quando deu ordem de partida, as crianças deram as mãos umas às outras e correram juntas, sentando-se, depois, também juntas, desfrutando das suas guloseimas. 
   Quando o antropólogo perguntou por que tinham feito aquilo, uma vez que a primeira poderia ter todos os frutos, elas responderam: 'UBUNTU, como pode uma de nós ficar feliz se todos as outros estão tristes? "(" UBUNTU " na cultura Xhosa significa:. "Eu sou porque nós somos)"

                                                        Osani, The Circle Game....
                                               http://www.connectingdotz.com


Hoje nem tudo é tão linear, nem tudo é tão fácil, tantos os constrangimentos externos. Possamos todos ultrapassá-los e caminhar da melhor maneira para a colheita final.”Ubuntu!”

domingo, 14 de setembro de 2014

Os Maias - o filme de João Botelho






Gabriel Vilas Boas no seu blogue “ Os sete pecados (i) mortais” faz uma interessante análise do filme “Os Maias” do realizador João Botelho. Quase posso dizer que me tirou as palavras da boca, ou do pensamento. Fui ver o filme com uma pessoa da minha idade e malta jovem a quem o filme dá jeito para aprofundar ou mesmo não ler “Os Maias”, conforme cada caso.
Gostaram. O meu filho, estudante de música, achou a música de fundo adequada ao tempo e a queda de Maria Eduarda junto do cartaz que anuncia a Ópera “La Traviata”, a mulher caída, com inúmeros pontos de contacto com a vida de Maria e da mãe, muito bem pensada, aliás, um indício trágico, tal como Eça os engendrou, dando aos episódios da vida romântica um clima de verdadeira tragédia. Neste aspeto, o filme peca por míngua. Existe a cabeça de S. João Batista, na Toca, que causa horror a Maria Eduarda; o reposteiro carmim e pesado que cai, o fio de água que pinga sem força, quando Afonso se apaga exangue e se me não falha a memória, pouco mais.
Quanto à peça tocada por Maria Eduarda, “Raindrop prélude” de Chopin,  bem enquadrada na ação, tem uma pauta  para quem não percebe nada de música, muito interessante, porque as notas desenham uns círculos, o que chama a atenção. Questionando o meu filho sobre a pauta, diz-me que não corresponde à música. É uma pauta que permanece no piano para enfeitar. É essa a intenção, ou não houve aconselhamento musical de forma à pauta corresponder à música?
A música está presente no filme e é, tal como  em “Os Maias”, livro, um instrumento de crítica de um povo ignorante que não reconhece a sonata Patética de Beethoven e pensa que foi o seu executante que a compôs, acabando por lhe chamar pateta, deturpando o nome pronunciado por Carlos, ao mesmo tempo que aplaude uma poesia declamada com profusão de gestos e rimas. Revemo-nos hoje, ainda, nesta cena.
Gostei do filme, no seu todo e ouvi vários risos, quando a situação do país de então/ agora, era mostrada pelo Cohen, Gouvarinho ou mesmo pelo Ega. “Os Maias” é uma obra extraordinária onde Eça brame a sua espada crítica de forma acutilante. Esse aspeto foi respeitado por João Botelho.
O tão propalado bom desempenho de Pedro Inês é na verdade excecional, tão igual ao Ega imaginado por quem já leu “Os Maias” uma dúzia de vezes. Quanto à atriz Maria Flor, no papel de Maria Eduarda está aquém de deusa  grega, como é apelidada por Eça. Esperava ver uma Afrodite plena de  sensualidade e beleza e vi uma beleza singela que só ultrapassa um pouco esta simplicidade na cena do incesto.
Graciano Dias, bom ator, sem dúvida, também ficou aquém do que eu esperava de um Carlos da Maia. Muita fleuma, pouco arrebatamento que o levam a ir para junto do avó caído com uma apoplexia, como se vai para junto de um velho sentado no banco do jardim a ler o jornal.
Os cenários exteriores dão, sem dúvida, a ideia de que tudo é uma opereta onde as palavras contrariam os atos, tiram movimento, mas não desgosto. Comparo com a mini série de Moita Flores realizada para televisão e aí o movimento é outro e mais cativante para o grande público, mas quem quer, mais uma vez, encontrar Eça, como o narrador de livro aberto, no início do filme faz antever, nota que o cenário se adequa muito bem à cena. Quase não há figurantes, mas as personagens principais e secundárias lá estão fortes, como no romance, à exceção do Eusébiozinho, o paradigama da educação antiga, que quase não aparece a não ser para levar um murro e ficar estatelado numa rua de areia sem calçada.
Já o Douro reduzido a painel, como afirma Gabriel Vilas Boas, sabe a pouco, aspira-se a mais beleza.
Com Ega e Carlos , tal como na obra de Eça a jurarem que não sairiam daquele passo lento para nada, vencidos que estavam pela vida madrasta, mas a correr para o americano, acaba o filme, tal como o livro, mas aquele, sem dar aquelas duas horas e dezanove minutos por perdidas, a provocar uma certa fome por algo mais!
Talvez a versão longa anunciada para novembro contribua para uma maior saciedade!