sábado, 9 de novembro de 2019

Desculpem mas não tenho saudade da infância

 


 

Sei que fui criada com amor, do pai à sua maneira tímida e pouco efusiva, da mãe de forma abnegada, mas dado os problemas de doença, talvez, numa agonia constante de impotência de tudo querer dar e não conseguir, dos meus titios e primos com gestos de verdadeira fraternidade e acolhimento.

Os meus primos, sobretudo, deram-me a conhecer um mundo alargado em múltiplas direções, a leitura que devorava dia e noite e da qual tirava notas refletidas  ajudou, também.

No entanto, apesar de ir sozinha e a pé para a escola, brincar na rua, ou no quinteiro do Couto, às vezes brincadeiras perigosas que ninguém superintendia e nunca nada aconteceu de monta, a não ser coisas divertidas, não esqueço o dia em que que me obrigaram a  “dar um bolo”  a uma amiga da 3ª classe, quando eu andava na primeira, e sabia o que ela não sabia, o que ocasionou, “apanhar” eu; as redações coletivas em que todos escrevíamos o mesmo sobre os passarinhos, o ter de decorar aqueles mapas, que, por acaso, o meu tio tinha no escritório e diziam respeito a terras que ele conhecia lá de África, mas que eu nunca tinha visto e aquele dia, já em 1973, em que a professora de Geografia, no seu ditado para o caderno, referiu os países da Cortina de Ferro e eu, que nunca tinha ouvido falar em tal, pus o dedo no ar e perguntei respeitosamente: “ é capaz de me explicar o que é a Cortina de Ferro?” Nunca imaginaria  a pergunta  sacrílega e que pudesse resultar numa ameaça de expulsão. Saudades disso? Não tenho nenhumas.