Mostrar mensagens com a etiqueta 25 de Abril. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta 25 de Abril. Mostrar todas as mensagens

quarta-feira, 25 de abril de 2018

25 de abril

 

&CONOMIA À 4ª

Abril tinha 3 D’s


Marco Capitão Ferreira 

Professor

25 ABRIL 2018 8:42

Para quem não se lembra – e hoje é um bom dia para lembrar – o Movimento das Forças Armadas traçou três objetivos à Revolução dos Cravos: Democratizar, Descolonizar e Desenvolver.

A Descolonização está nos livros de história, com os seus erros, tropeções e equívocos. Um dia, esperemos, as gerações que por ela não passaram conseguirão reencontrar na pátria da língua e da cultura mais o que as una do que o que as separe.

A Democracia está como Churchill nos disse que estaria: a pior forma de governo, à exceção de todos os outros já experimentados ao longo da história.

Sendo meu dever escrever aqui – vagamente, por vezes; bem sei, tenham lá paciência – sobre Economia vou olhar especialmente para o D de Desenvolver. O desenvolvimento de um País – como, aliás, a defesa da Democracia – são tarefas permanentes, em bom rigor nunca terminadas.

Somos mais, divorciamo-nos mais, temos 4 vezes mais idosos para cada jovem (e que desafio isso nos traz).

Temos o dobro das casas com água canalizada. Quase 100%, aliás.

Há cinco vezes menos analfabetos, dez vezes mais alunos no ensino secundário, e mais de metade dos doutorados são mulheres. Em 1974, elas eram cerca de 10%.

A mortalidade infantil caiu do triplo da média europeia para um valor um pouco abaixo dessa média.

Temos mais médicos. Mais professores. Mais polícias. Melhor rede viária. E fizemos o Alqueva. E ainda bem. Nem todas as ideias do Estado Novo eram más. Só a esmagadora maioria.

Temos um Serviço Nacional de Saúde que funciona mal, mas existe e é de nós todos e a todos nos protege nos momentos de maior vulnerabilidade.

Temos um sistema de Segurança Social imperfeito. Mas temo-lo. As reformas são baixas? São, mas acodem a todos, e não só a alguns.

Em 44 anos de Abril acertámos em muito e falhámos noutro tanto. Mas este País já não é aquele. Nunca ninguém disse que cumprir Abril era tarefa só dos nossos pais e avós. Não é. Onde eles falharam teremos nós de acertar. A responsabilidade é nossa. E dos nossos filhos e filhas.

Temos um país mais livre, mais justo, mais próximo do ideal de abril do que o país em que se fez abril.

Mas abril fez-se – também – por esta razão: não se aceita um país desigual, com demasiada pobreza, que falha muitas vezes aos mais frágeis. E o nosso ainda é demasiado assim. Não é preciso, hoje, uma revolução nas ruas. É preciso uma revolução em nós. Façamo-la.

 

https://expresso.pt/blogues/bloguet_economia/economia_quarta/2018-04-25-Abril-tinha-3-Ds

sábado, 26 de abril de 2014

25 de abril - diário de uma adolescente

Diário de uma adolescente, aluna de um liceu feminino em Abril de 1974






                                         QUINTA – FEIRA, 25 DE ABRIL DE 1974














Houve um golpe de estado!
Quando me comunicaram a notícia no liceu, não sabia o que pensar ou fazer! A minha reacção espontânea foi considerar tudo um boato e depois uma nova revolta como a das Caldas da Rainha, a dos oficiais que se revoltaram. Mas não, era verdade, um Golpe de Estado! Isto explicava muita coisa: a música sinfónica que se ouvia no rádio pela manhã, o carro de patrulhas no Campo 24 de Agosto …..

      Estávamos na biblioteca, algumas moças de outras turmas chegavam lá, faziam barulho, corriam à janela para verem o movimento de pais que vinham buscar as filhas.
-            A Susana entrou e pôs-se a saltar:
-     O meu pai não me vem buscar! – ria-se – e voltava-se para a Lúcia, admirada – com tudo isto e ainda estás a estudar! Nunca pude fazer tanto barulho na Biblioteca! Ah! Ah! Ah! – e não parava de rir!







                                                         Feira de Gondomar

Voltando ao dia de hoje, vejo tudo calmo, mas a titia contou-me que de manhã, na feira, as pessoas estavam assustadas, os comerciantes já pensavam em arrumar as coisas e fugir à revolução. Houve até uma senhora que afirmava ter ouvido tiros, o que alvoroçou as outras pessoas. Gerou-se algum movimento e algumas pessoas foram roubadas.
Ao mesmo tempo, o banco recebia ordem para fechar e as pessoas que aí estavam foram postas na rua, o que concorreu para aumentar o pânico.
   E a titia repetia sem parar:
- Eu sempre pensei que fosse o povo que inventasse a revolta!








                                                                Quintã

Quando me vim embora do Liceu, ao passar ali a Quintã, o Guarda que está sempre à porta da Polícia, lá estava esfregando as mãos e desentorpecendo as pernas, como habitualmente
    Então existe um Golpe de estado e tudo permanece calmo e silencioso! Não percebo, sinceramente, nós tínhamos direito a saber!




                                           Rua Dr. Oliveira Salazar, casa

    São 17h 30m.
   O Zeca já chegou. Os militares foram lá à Caixa e mandaram-nos todos para casa. Dizem que o problema é só entre generais, o povo tem que se pôr a salvo, dentro de casa. O Zeca diz que o Marcelo Caetano está cercado e não se quer render.
Entretanto, o Belmiro chegou. Pusemos o rádio no Rádio Clube Português e, desde então, os comunicados chovem.
Em Lisboa, os membros do governo renderam-se assim como a Guarda Nacional no Carmo. O professor Marcelo Caetano, cercado no convento do Carmo acabou por apresentar a sua rendição incondicional ao general Spínola e o Almirante Américo Tomás e outros membros do governo refugiados em dois aquartelamentos estão cercados, esperando-se para breve a sua rendição.
… O mundo está com os olhos na “Revolução Portuguesa”, como lhes chamam.


                             SEXTA – FEIRA, 26 DE ABRIL DE 1974


Junta de Salvação Nacional


Ontem deitei-me tardíssimo, cerca das 2 horas e tal já do dia de hoje. O general Spínola falou, soltando as palavras arrastadas em tom de cansaço, que me fez lembrar o antigo chefe da república, Américo Tomás. Anunciou o êxito do movimento e apresentou os membros da Junta de Salvação Militar.



                                                        Camioneta a chegar ao Rainha




                                                                Rua António Carneiro

Hoje de manhã houve novo comunicado que exortava a população a retomar a vida normal. Fui para o liceu e foi grande o meu espanto ao ver a camioneta virar junto ao Liceu e meter pela Rua António Carneiro. Não podia continuar em frente, porque os soldados cercavam o edifício da PIDE-DGS que não se rendia e ameaçava matar os presos políticos que o novo movimento quer libertar. Deram-lhes um prazo até à 13 horas, senão deitariam mão da força e tomariam o edifício.

~
   Edifício Pide

  Povo junto ao edifício da PIDE


                                             Percurso do Liceu ao Edifício da PIDE.
                                                         

Soubemos isto no liceu, cerca do meio-dia, aquando de um aviso que anunciava não haver aulas de tarde. Algumas moças afligiram-se e até já ouviam tiros!

                                                             Programa do MFA

(…)
-            Agora, acabo de ouvir o programa do movimento das Forças Armadas, é belo demais para ser cumprido na íntegra, mas estou confiante que tudo vai  mudar para melhor


                                Domingo, 28 DE ABRIL DE 1974; 2. O povo está com o MFA



Em todos os lugares se ouvem discussões àcerca das Forças Armadas:
-          Concordas?
-          - Claro, viva Portugal!



     

  
                                                        Resistência dos PIDES

A Zinha veio cá ontem jantar, chegou tarde, porque junto ao Hotel Sagres, foi surpreendida pelo tiroteio dos PIDES e teve que pôr o Dany a salvo. O Nel com medo que o Dany sofresse algo, foi-se esconder de baixo de um carro!


                                                           Júbilo nas ruas

A Junta de Salvação Nacional tem chamado a atenção para não fazerem manifestações de jubilo às Forças Armadas porque “o momento é de festa, mas não para festas!”
A situação está normal, se não atendermos a que ainda muitos PIDES andam à solta e podem armar tiroteios.
Toda a gente está confiante no Futuro, um futuro melhor, Queira Deus!



       Nunca esquecerei aqueles carros de soldados que anteontem vi passar por mim à saída do Liceu com armas ao alto e um cravo vermelho espetado, lançando piropos às raparigas, iam participar no cerco ao edifício da DGS, junto ao Prado do Repouso.

QUARTA-FEIRA, 1º DE MAIO DE 1974




                                                           1º de Maio no Porto

Hoje, é feriado, o dia do trabalhador, festejado, este ano, pela primeira vez em Portugal. Em Lisboa há uma grande manifestação pública e no Porto, também, e, embora não tenha conhecimento, creio que elas surgirão em muitas mais cidades



                                           Grupo de colegas com bata

Ontem no Liceu, as moças que tinham afixado cartazes na parede do bar, lançando vivas à liberdade e morte aos PIDES, convocaram todas as alunas para uma reunião. Não fui porque não soube a tempo, mas gostava de ter ido. Debateram-se muitos problemas. O de maior importância foi: “Queremos uma sala de convívio capaz”. Ora a solução  dessas meninas era pegar nas estantes que estão na sala dos alunos e deitá-las fora!
A Graça, da minha turma, levantou-se e propôs:
- Concordo que necessitamos de uma sala conveniente mas porque razão não vamos falar do problema à Srª Reitora?
 Parece que a palavra Srª Reitora era algo medonho para elas, mostraram-se horrorizadas. Disseram que a Reitora era como uma de nós que se as tratasse por tu, elas fariam o mesmo. A Graça chamou a atenção para a diferença de idades mas não as convenceu! Pronunciaram-se contra as batas e o equipamento de ginástica!
Em resumo: são umas criancinhas irresponsáveis que nem sequer são capazes de assinar os cartazes.
     Houve reacção em todo o Liceu. Ficou combinado fazermos, nós, também, um cartaz a convocar as pessoas para discutir o assunto. Já redigi o texto, a Júlia ficou de fazer o mesmo, talvez outras mais o façam, depois em conjunto veremos o que fica aprovado. Daremos conhecimento do nosso propósito à Srª Reitora (o que a cobardia das outras não o permitiu!)



                                                              1º de Maio

… A manifestação do primeiro 1º de Maio foi “vermelha de alegria”! Oxalá todos nós nos responsabilizemos na construção do amanhã. Que ele seja melhor!
   O “povo unido jamais será vencido”!


                                                 Sábado, 4 de Maio



                                                     Ordem de trabalhos


Fui à reunião de delegados (fui escolhida pela turma), a discussão foi animada, aprovou-se um certo número de coisas que estão aqui nesta ordem de trabalhos que vou anexar. A Júlia foi escolhida para representar o nosso ano na mesa da reunião geral onde a Comissão Gestora vai ser aprovada.

A 4 de Maio de 1974, realizou-se a 1ª RGA, no Liceu rainha Santa Isabel:
Ordem de trabalhos
       1. Problemas a exigir soluções imediatas:
       A – de ordem administrativa:
-           Participação das alunas numa Comissão Gestora do Liceu proposta por um grupo de professoras com intervenção nos serviços de cantina, bar e papelaria;
-           Criação de grupos de trabalho constituído por pessoal auxiliar;
-           Participação mais activa e esclarecedora dos serviços de secretaria.
B – de orgânica interna:
-           Necessidade de criação de um novo ambiente de convívio nomeadamente uma biblioteca e discoteca ou estação de rádio com música nos intervalos, sala de ping-pong, bem apetrechada e uma sala de fumo bem arejada…
-           Acesso a um serviço de PBX eficiente e não vigiado;
-           Criação de um órgão interno de informação (jornal)
-           Liberdade de colocar cartazes de qualquer natureza, visando uma consciencialização de todas as alunas para problemas internos e de ordem político-social;
-           Abolição das justificações de faltas e dos cartões de saída;
-           Abolição do cargo de chefe de turma;
-           Livre utilização pelas alunas de todas as vias de acesso ao liceu e às diferentes salas dentro do mesmo;
-           Abolição do pagamento de qualquer multa na secção de “perdidos”
C – de ordem pedagógica
-           Discussão de métodos de  ensino
-           Aulas de recuperação e turnos de trabalho prático, gratuitos;
-           Melhoramento do ginásio, sala de línguas, gabinetes de Geografia e Ciências;
-           Frequentes viagens de estudo:
-           Discussão do serviço de exame e propostas para o seu melhoramento
2- PROBLEMAS A PERMITIR SOLUÇÕES A LONGO PRAZO
a)        Libertação da tarde de Sábado de qualquer serviço obrigatório;
b)       Preenchimento de horas livres com actividades informo-culturais orientadas.
c)        Planeamento das actividades culturais extra-curriculares dentro de um espírito democrático;
- participação numa discussão a nível do problema”EXAMES”, com vista à sua futura abolição, e substituição por ouro sistema de avaliação
Porto, Liceu da Rainha Santa Isabel, 6 de Maio de 1974
As questões A e B foram todas aprovadas. A questão C e o ponto 2 ficaram para discussão posterior


A Srª Reitora fica por unanimidade.





E pronto, foi este o meu testemunho pessoal ilustrado que partilhei, ontem, no espetáculo que a colega Fátima Pinto, com a maior parte das turmas de 9º ano e eu com o meu 9ºA dinamizamos na Escola E. B. 2. 3. de Gondomar.










quarta-feira, 25 de abril de 2012

25 de Abil




Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo.
                                                           Sofia de M.B. Andersen








Tão longe!!!











segunda-feira, 25 de abril de 2011

25 de Abril sempre


25 de Abril

Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo




Revolução
Como casa limpa
Como chão varrido
Como porta aberta

como puro inícío
Como tempo novo
Sem mancha nem vício


Como a voz do mar
Interior de um povo


Como página em branco
Onde o poema emerge


Como arquitectura
Do homem que ergue
Sua habitação

                                                                             Sofia Mello Breyner