Combate Caranaval-Quaresma de Bruegel
O Padre Agostinho Barbosa, reitor de Fânzeres,
em 1861, referindo não possuir bens a não ser o seu património e umas casa, na
Viela dos Gatos, no Porto, velhas e arruinadas, obriga os seus herdeiros, o
irmão padre Manuel F. Barbosa e os seus sobrinhos a uma pensão de 400 reis
gasta anualmente “ enquanto o mundo for mundo”, do seguinte modo: “um sermão
désmola de 2400 reis depois das trez horas da tarde do dia vulgo chamado de
entrudo, vespora de quarta feira de cinzas, em cujo sermão se exortem os Fiéis
a prepararem-se para uma bôa desobriga e santificação do tempo quaresmal, e que
existem os folguedos do carnaval, a que quis atender chamando nesse dia os
fieis ao santo templo para os desviar dos ditos folguedos”.
Efetivamente, nesse dia deveriam os seus
fregueses estar a deitar carrapatos, folguedos jocosos de crítica social ou a
preparar o “Enterro do João”, tradição pertencente às antigas terras da Maia,
na qual um boneco, o João, homem completo, símbolo do Carnaval, vai dar origem
a uma tremenda choradeira pelo fim da folia e início da Quaresma, inspirando as
mais variadas “deixas” críticas.
O legado do padre Agostinho ( A.C. G. A. C. L. 11. T 34,
ff. 73v a 75v) inscreve-se na determinação clerical de combate a todas as
formas de irrisão, ao mundo e aos bailes, pela defesa da ortodoxia religiosa.
No entanto, o padre Agostinho vai mais longe ao
legar, ainda: “1200 reis anuais a 12 pobres dos mais necessitados desta
freguesia a 100 reis a cada um, em o dia de Quinta feira Santa de manhã em
memória do Lavapedes e paixão de nosso Senhor Jesus Cristo, mais 400 rs para
uma missa resada celebrada pelo parocho desta freguesia, ou por quem quizer, aplicada
por minha alma e de todos os seus parentes em o dia de Entrudo”. Este legado
devis ser vigiado pela Santa Casa da Misericórdia do Porto a quem, também,
institui herdeira.
A esta doação, acrescenta o irmão Manuel Ferreira
Barbosa, no seu testamento de 1870, a Exposição do Senhor, desde as 9 horas até
ao sermão da tarde, pelo que solicita ao pároco da freguesia, a confirmação das
indulgências concedidas pelos sumos pontífices “tal dia de tentação carnal, aos
fieis visitantes procurando a casa do Senhor e fugindo aos divertimentos
mundanos” ( A.C. G. A. C.
L. 25. T 59, ff. 7394v a 103v).
Esta prática que pretende afastar a alma dos
seus inimigos, desviando os indivíduos da festa carnavalesca, inscreve nitidamente nas propostas pós-tridentinas
e que mantém, ao que parece, todo o seu vigor, ainda, no século XIX.
Com o mesmo objetivo, o padre António Pinto do
Outeiro deixa um legado composto de inscrições, para que, dos juros se fizesse
face à despesa dos Lausperes e missa, a realizar, pelas “Almas em geral do fogo
do Porgatório” (A.J.F.F.
Actas da Junta da Paróquia de Fânzeres, sessão de 17.09.76, L2, f.42)