Junho é o mês
dos Santos Populares com festas e arraiais por todo o país nas noites de Santo
António, de São João e de São Pedro.
As principais são as Festas de Lisboa, de 12 para 13 de junho, dia de Santo António, e as
do Porto, na noite de 23 para 24 de junho,
quando se celebra o S. João. São festas duma grande animação, em que o povo vem
para a rua comer, beber e divertir-se pelas ruas dos bairros populares,
engalanadas com arcos, balões coloridos e cheiros de manjerico.
Em Lisboa as
marchas populares de cada bairro desfilam pela Av. da Liberdade, enchendo aquela
artéria de centenas de figurantes, música, colorido e muito público. Mas a
enchente e a animação não são menores nas ruas desses bairros, com destaque
para Alfama,
mas também para a Graça,
Bica, Mouraria ou Madragoa. Nos largos e vielas medievais,
come-se caldo verde e sardinha assada, canta-se e baila-se noite dentro. Outro
momento alto é a procissão de Santo António, que no dia 13 sai da sua igreja,
situada em Alfama, junto à Sé, no local onde este santo nasceu, cerca de 1193
https://www.visitportugal.com/pt-pt/node/210955
S.
João e o Porto
S.
João torna-se feriado da cidade do Porto depois do povo assim o ter decidido.
E
tudo graças a um decreto republicano de 1911 como resposta a um referendo aos
portuenses, promovido pelo Jornal de Notícias. A história é curiosa e mostra o
protagonismo que, já na altura, a Comunicação Social tinha no modus vivendi
urbano.
Em
Janeiro de 1911 o Governo Provisório redefiniu os dias feriados em Portugal.
Por decreto, a República instituiu como feriados nacionais o 31 de Janeiro
(primeira tentativa - falhada - de revolução republicana, em 1891, no Porto), o
5 de Outubro (instauração da República) e o 1º de Dezembro (restauração da
independência em 1640), para além do Natal e do Ano Novo. O mesmo decreto
impunha, a cada município do país, a escolha de um dia feriado próprio:
"As câmaras ou commissões municipaes e entidades que exercem commissões de
administração municipal, proporão um dia em cada anno para ser considerado
feriado, dentro da area dos respectivos concelhos ou circumscripções,
escolhendo-os d'entre os que representem factos tradicionaes e característicos
do município ou circumscripção". Desta forma, a Comissão Administrativa do
Município do Porto reuniu a 19 de Janeiro de 1911. Segundo o relato do Jornal
de Notícias, o "velho e conceituado republicano, sr. Henrique Pereira
d'Oliveira" logo sugeriu a data de 24 de Junho para feriado municipal.
No
entanto, esta sugestão foi contestada, não havendo consenso. Então, "o sr.
dr. Souza Junior lembrou, inspirado n'um alto princípio democrático, que não
devia a Commissão deliberar nada sem que o povo do Porto, por qualquer forma,
se pronunciasse em tal assumpto".
Desta
forma sugere-se ao Jornal de Notícias que
organize um referendo popular para escolher o feriado municipal. Assim, no dia
21 de Janeiro dois dias após a reunião da Comissão Administrativa, foi colocado
na primeira página do jornal o anúncio da "Consulta ao Povo do
Porto", explicando toda a situação e a forma de participação. As pessoas
teriam que enviar, até ao dia 2 de Fevereiro,
"um
bilhete postal ou meia folha de papel dentro de enveloppe" para a redação
do jornal, com a indicação do dia preferido. Para recompensar o trabalho dos
leitores, o Jornal de Notícias oferecia "dez valiosos premios" - o
mais valioso era de 10 mil réis, cerca de cem escudos - a serem sorteados de
entre todos aqueles que votassem.
A
vitória foi quase só discutida entre o dia de S. João, já com larga tradição na
cidade, e o 1º de Maio, Dia do Trabalhador, a que não será alheio o facto de a
cidade do Porto ser considerada "a capital do trabalho".
A
4 de Fevereiro de 1911, foram publicados os totais finais da consulta popular:
o dia 24 de Junho foi o mais votado, com 6565 votos, seguido pelo 1º de Maio,
com 3075 votos, o dia de Nossa Senhora da Conceição, com 1975 votos, e o dia 9
de Julho, com oito.
No
entanto, os resultados do referendo não
eram vinculativos, mas foram usados na sessão camarária de 2 de março de 2011
como argumento favorável à escolha do 24 de junho. Aquando da aprovação, a ata
da sessão mostra que o feriado foi aprovado “não como dia de São João, mas como
de festa da natureza”, mostrando o cuidado dos republicanos em associar a
escolha à festa do solstício e não a uma celebração religiosa.
Quem
é S. João?
Há quem defenda que S. João é natural do Porto,
nasceu no século IX, vivendo a sua vida eremítica na região de Tuy, onde
foi sepultado. No séc. XVII ainda aí se conservavam as suas relíquias, de
grande veneração entre os fiéis que acreditavam que S. João os salvaria das
febres.
Diz
a tradição que a cabeça de S. João do Porto terá sido trazida pela Rainha Dona
Mafalda no século XII para a Igreja de São Salvador da Gandra e que parte dessa
relíquia teria sido transportada posteriormente para a capela da “Santa Cabeça”
da Igreja de N ª Sra. da Consolação, na Cidade do Porto.
A
versão mais popular para o celebrado S. João, é a de São João Baptista que nasceu perto de Jerusalém,
na mesma altura de Cristo e seu primo. Pregador judeu do início do século I,
citado pelo historiador Flávio Josefo e os autores dos quatro Evangelhos da
Bíblia, João terá nascido pela mesma altura de Jesus Cristo.
São
João é reconhecido por Cristo como o maior dos profetas terrenos
João
Baptista batizou Jesus, embora achasse que ele é que deveria ser batizado por
Jesus. Morreu com cerca de 30 anos, decapitado a mando de Herodes Antipas.
Por
que é celebrado a 24 de junho?
A
24 de junho celebra-se a natividade, ou nascimento, de João Baptista. Um
nascimento que, tal como o de Jesus Cristo, também resulta de um milagre. Como
se pode ler no Evangelho de São Lucas, o sacerdote Zacarias e a sua mulher
Isabel não tinham filhos porque Isabel era estéril. Já em idade avançada,
Isabel recebeu a visita do Anjo Gabriel, que anunciou que ela iria conceber um
bebé chamado João. Seis meses mais tarde, a sua prima Maria visita-a para lhe
contar o mesmo milagre. A prima a que nos referimos é a Virgem Maria e a
criança que ela iria dar à luz, também por a anúncio do Anjo Gabriel,
chamar-se-ia Jesus.
No
entanto 24 de junho coincide com o
solstício de verão (o dia com o maior número de horas de luz solar do ano),
logo altura de celebrar a natureza, as
colheitas e mostrar adoração ao deus do Sol. A igreja católica ao converter os
povos pagãos, cristianizou a festa.
FESTA
A
primeira referência aos festejos sanjoaninos remonta ao século XIV já que Fernão Lopes se refere a esta
festa.
Em
1851, os jornais relatavam a presença de cerca de 25 mil pessoas nos festejos
sanjoaninos entre os Clérigos e a Rua de Santo António.
1910,
um concurso hípico integrado nos festejos motivou a presença do infante D.
Afonso, tio do rei (a revolução republicana apenas se daria em Outubro).
Nesta
festa, destacam-se os alhos porros para bater na cabeça de quem passa, saltos à
fogueira, manjericos com quadras, lançamento de balões de ar quente e enfeites
coloridos. A partir de em 1963, os martelinhos impuseram-se.
É
costume os foliões percorrerem a cidade, durante toda a noite, terminando a sua
rusga na praia, madrugada dentro.
As fogueiras, as cascatas e
os balões?
As
fogueiras, de origem europeia, remontam às festas de celebração do solstício de
verão com um dos elementos da natureza, o fogo.
Alguns
mais crentes acreditam que a fogueira tem origem num acordo feito pelas primas
Maria e Isabel. Grávida de João Baptista, Isabel teria de fazer uma fogueira no
cimo do monte para avisar que estava prestes a nascer o seu filho.
Os
balões de ar quente feitos em papel enchem os céus na noite de São João e
também estão ligados à tradição do fogo.
As
cascatas começaram a aparecer no século XIX e têm no Porto grande tradição.
As
cascatas parecem presépios animados. De acordo com Hélder Pacheco, as pessoas
aproveitavam as figuras dos presépio – também uma novidade recente, do século
XVIII – e substituíam a sagrada família e os reis magos pelos santos populares.
De
onde vem a tradição dos martelinhos de São João?
Os
martelos de plástico que as pessoas levam na noite de São João para bater na
cabeça uns dos outros foram inventados em 1963 por Manuel Boaventura,
industrial do Porto. A ideia era criar mais um brinquedo para o negócio, pelo
que nesse ano, Manuel decidiu oferecer
vários martelos azuis e brancos aos estudantes durante a semana da Queima das
Fitas, em Maio. Tornaram tão apreciados que no S. João já muita gente os usava.
Este
santo também é celebrado em grande em outras cidades portuguesas, como Braga e
também Almada.. Em Angra do Heroísmo, na ilha Terceira, nos Açores, as
sanjoaninas compõem-se de desfiles, marchas, carros alegóricos, danças e
bailaricos.
No
entanto, há celebrações um pouco por toda a Europa e até no Canadá.
São
João é o santo padroeiro da cidade do Porto?
Apesar
de ser o santo mais celebrado da Cidade que proporciona a maior festa da cidade e de ter
direito a feriado municipal, São João não é o padroeiro do Porto.
A
padroeira é Nossa Senhora da Vandoma.
Nos mais antigos brasões da cidade pode ler-se a inscrição latina “civitas
virginis”, ou cidade da virgem, em referência a Nossa Senhora da Vandoma.
Hélder
Pacheco. O livro de S. João Do Porto, Ed. Afrontamento
A
Chave da Minha Porta
"Eu
vi-te pelo São João
Começou
o namorico
E
dei-te o meu coração
Em
troca de um manjerico
O
nosso amor começou
No
baile da minha rua
Quando
São Pedro chegou
Tu
eras meu e eu era tua
Esperava
por ti
Como
é de ver de quem ama
Tu
vinhas tarde p'ra casa
Eu
ia cedo p'rá cama
P'ra
me enganar
Que
a esperança em mim estava morta
Deixava
a chave a espreitar
Debaixo
da minha porta
Deixava
a chave a espreitar
Debaixo
da minha porta
Passou
tempo e noutro baile
Tu
sempre conquistador
Lá
foste atrás de outro xaile
E
arranjaste outro amor
Fiquei
louca de ciúme
Porque
sei que esta paixão
Não
voltará a ser lume
Pra
te aquecer o coração
Espero
por ti
Como
é sina de quem ama
Tu
já não vens para casa
Mas
eu vou cedo p'rá cama
P'ra
me enganar
Que
a esperança em mim já está morta
Eu
deixo a chave a espreitar
Debaixo
da minha porta
Eu
deixo a chave a espreitar
Debaixo
da minha porta
P'ra
me enganar
Que
a esperança em mim já está morta
Eu
deixo a chave a espreitar
Debaixo
da minha porta"
Webgrafia:
https://www.oportoencanta.com/2015/06/uma-cascata-de-sao-joao-com-mais-de-40.html