Balanço
Tempo de férias é também
tempo de balanço e um professor que se dedica quase por completo aos seus
alunos, obedece à lei da inércia e como que precisa continuar a pensar e
repensar as práticas letivas.
Este ato reflexivo que a
mim, pessoalmente, me leva a fazer inquéritos aos alunos já foi, algumas vezes
, visto como algo de estranho, como se não estivesse insegura do que estou a
fazer.
E no fundo é verdade, os
jovens, hoje, ou gostam muito de História e aprendem bem na aula ou se vêm que
é necessário estudar muito, começam a desinteressar-se, até porque a História
do 3º ciclo, lida com conceitos muito complicados para os alunos, que se tornam
mais complexos quando vêm, nos pais, um alheamento face ao político e começa a
vingar a mentalidade do deixa andar.
Na verdade, nos tempos que
correm, para quê ter um diploma se não há garantia de emprego. A regra de
estudar para singrar na vida já não é mais verdadeira. Há muitos jovens que
conseguem êxito nas empresas dos pais e outros tentam empregos que não
necessitariam da formação obtida pelos seus executores, ou melhor colaboradores,
como é moda, agora. Outros mais aventureiros atiram-se para o estrangeiro.
As direções gerais e as
direções de escola pressionam os professores para cumprir o programa, que não
deixa tempo para relacionamentos e emoções necessárias ao bom funcionamento das
aulas. O atender ao outro, parar quando algum aluno está a sentir-se perturbado
pelo trabalho planeado pelo professor, complica esta meta que o docente tem que
cumprir. Mas é evidente que é necessário privilegiar a empatia e o trabalho do aluno. O surgimento das metas vai complicar este processo, mas temos que
arranjar uma saída.
E continuamos nós os facilitadores
da aprendizagem a pensar e a reformular, a observar, a fazer inquéritos, a
falar, a pedir sugestões numa perspetiva de humildade de quem nada sabe da
vida, é verdade.
Sei que, por vezes, este
posicionamento pode parecer inexperiente, para não dizer senil, numa professora com
trinta e três anos de serviço. É que face a condições que não são ideais, às
vezes nem boas, os alunos interessados, curiosos, perdem-se com os outros e a
nossa atenção desgasta-se nesta disrupção.
Há uns dias, uma colega
contava um encontro com alunos seus que reconheciam o quanto ela fez por eles.
Estes momentos são, sem dúvida, as medalhas de ouro de qualquer professor, mas
penso que vão rareando.
Lembro com saudade a aluna
que me encontra e depois de uma conversa animada me diz que está em História,
porque eu a convenci a isso com o entusiasmo com que dava as aulas. Hoje, pouca
gente vai para História, ou vão os entusiastas loucos, como também já tive e
mais uma vez, recordo com gratidão pelo reconhecimento do meu trabalho, ou quem
não sabe o que há-de fazer e acha o curso fácil. Aliás, já li que o curso de
História, nos E.U. A. era tirado pelas donas de casa, para ocuparem o tempo e a
curiosidade. Hoje, não é, na verdade, um curso que dê prestígio a quem o tira,
a não ser que se volte para a política ou outro assunto mais pertinente.
E como vai longa esta
reflexão, quero terminar por elevar a minha auto-estima ao registar aquele
aluno, um matulão, que me chama de dentro de um carro, me diz que está a acabar
engenharia e me agradece tudo o que fiz por ele, num momento difícil. Mas,
depois vem-me à memória aquele outro que frequentemente desabafava comigo os
seus problemas pessoais, que me dizia que afinal os professores não queriam o
mal dos alunos mas estavam prontos a ajudar, mas, que de um momento para o outro,
se perde na voragem da vida. Não somos deuses, eu sei, mas sangramos, por
vezes!
Como se trata de
auto-estima deixo a bonequinha que uma aluna que terminou o 3º ciclo me deixou.
Obrigada por tudo. Os professores são adultos mas também precisam de reforços
positivos. Bem hajas e bem hajam os outros que verbalizam a sua admiração! Beijinhos
para todos, porque sei que muitos não são capazes de expressar o que lhes vai
na alma e outros ainda não se deram conta do que o professor fez por eles.