Sei
que fui criada com amor, do pai à sua maneira tímida e pouco efusiva, da mãe de
forma abnegada, mas dado os problemas de doença, talvez, numa agonia constante
de impotência de tudo querer dar e não conseguir, dos meus titios e primos com
gestos de verdadeira fraternidade e acolhimento.
Os
meus primos, sobretudo, deram-me a conhecer um mundo alargado em múltiplas
direções, a leitura que devorava dia e noite e da qual tirava notas refletidas ajudou, também.
No
entanto, apesar de ir sozinha e a pé para a escola, brincar na rua, ou no
quinteiro do Couto, às vezes brincadeiras perigosas que ninguém superintendia e
nunca nada aconteceu de monta, a não ser coisas divertidas, não esqueço o dia
em que que me obrigaram a “dar um
bolo” a uma amiga da 3ª classe, quando
eu andava na primeira, e sabia o que ela não sabia, o que ocasionou, “apanhar”
eu; as redações coletivas em que todos escrevíamos o mesmo sobre os
passarinhos, o ter de decorar aqueles mapas, que, por acaso, o meu tio tinha no
escritório e diziam respeito a terras que ele conhecia lá de África, mas que eu
nunca tinha visto e aquele dia, já em 1973, em que a professora de Geografia,
no seu ditado para o caderno, referiu os países da Cortina de Ferro e eu, que
nunca tinha ouvido falar em tal, pus o dedo no ar e perguntei respeitosamente: “
é capaz de me explicar o que é a Cortina de Ferro?” Nunca imaginaria a pergunta
sacrílega e que pudesse resultar numa ameaça de expulsão. Saudades
disso? Não tenho nenhumas.