Um método onde os alunos
'votam' o que querem aprender
Termina esta
sexta-feira a série de cinco reportagens do Expresso sobre escolas
certificadas, na área de Lisboa, onde as famílias podem aliar um bom sistema de
ensino a métodos que desenvolvem outras capacidades das crianças, recorrendo a
pedagogias menos convencionais. Na escola de hoje, a experimentação é mais
importante do que os livros.
Expresso |9:35
Sexta feira, 8 de agosto de 2014
DEMOCRACIA Os alunos participam na
assembleia na escola Os Aprendizes, em Cascais, que se realiza todas as
semanas, para debaterem as atividades / Foto Tiago Miranda
No colégio Os Aprendizes, em Cascais, as
salas não têm secretárias alinhadas de frente para o professor. Os alunos de
cinco anos, que passaram agora para o 1.º ano, sentam-se em torno de uma mesa
redonda. Estão numa assembleia.
Os adultos também estão presentes,
camuflados por entre as crianças e perguntam-lhes, entre outras coisas, o que é
que gostaram, ou não, de fazer durante o ano letivo. A assembleia realiza-se todas
as sextas-feiras à tarde e serve para ensinar as crianças a
responsabilizarem-se pelas suas decisões.
Um dos conceitos base é de que nada é
decorado ou estudado através dos manuais mas através da experiência. "O
adulto provoca mas quem chega à informação é o aluno, sempre através da
experimentação. Nós não nos guiamos pelo manual", explica ao Expresso a
diretora Sofia Borges, que abriu este espaço quando se viu com dificuldades
para encontrar uma escola que gostasse para os seus filhos.
Para se "perceber melhor, em vez de
aprenderem o funcionamento do sistema digestivo nos livros, os alunos vão para
o moinho que temos lá fora, põem areia e ela vai percorrendo o seu caminho como
percorreria no corpo humano." O mesmo aconteceu quando tiveram que
aprender os pontos cardeais. Neste caso, explica, "os alunos foram para a
rua e perderam-se intencionalmente para depois conseguirem encontrar o caminho
de volta, apenas com uma bússola", explica a diretora.
Professores fazem guião, alunos decidem o que
querem aprender
O colégio Os Aprendizes segue o plano
curricular do Ministério da Educação, mas são as crianças que escolhem os temas
que querem estudar todas as semanas. Aos professores, compete fazer o guião de
acordo com o tema.
Na sala do professor de português, Pedro
Madeira, há uma parede repleta de guiões com vários temas da disciplina, que a
criança pode escolher trabalhar individualmente ou em grupo. "Existe uma
cultura de não se perguntar às crianças o que pensam mas nós aqui perguntamos",
diz a diretora: "Somos todos diferentes. Já existe um currículo igual para
todos e já existe uma expectativa de que todos aprendam as mesmas coisas. Ao
menos, que se permita que cada um aprenda ao seu ritmo e da sua forma."
Para além das disciplinas comuns a todo o
ensino, as crianças têm aulas de yoga, meditação, oficina das artes e teatro,
bem como um grande contacto com a natureza, fomentado por um jardim cheio de
árvores e flores.
Todas as classes têm um animal como
mascote, ora um cão, um peixe, um gato, um coelho ou um pássaro. Tudo isto para
promover laços afetivos com os animais e para facilitar e fortalecer a
capacidade de comunicação das crianças.
"Nós olhamos para a criança como um
todo. Ela está na escola para se desenvolver numa série de áreas e as
competências académicas são apenas algumas dessas áreas", diz a diretora
Sofia Borges, enfatizando que dialogar, articular ideias, saber fazer escolhas,
viver experiências e retirar delas significado são as competências que o método
High Scope e os Aprendizes valorizam.
"Tenho a profunda convicção, que
nasceu da experiência, que os alunos estão muito mais disponíveis para aprender
quanto mais eu permitir que se expressem", conclui a diretora.
Alunos fazem sugestões para o próximo ano
letivo
A última assembleia deste ano letivo
terminou. As crianças comemoram o último dia de aulas e os professores acolhem
as sugestões dos alunos atentamente contando que, no próximo ano, a assembleia
continue pluralista e democrática.
Neste colégio, a alimentação é biológica e
cuidadosamente estipulada por uma nutricionista. "Não faz sentido investir
em materiais que respeitem o ambiente e depois comer batatas fritas de pacote e
Coca-Cola", esclarece Sofia Borges. A escola tem dois dias de carne, dois
dias de peixe e um dia de comida vegetariana.
O método pedagógico de Os Aprendizes
baseia-se maioritariamente na pedagogia High Scope, indo buscar elementos ao
método Waldorf e ao Movimento da Escola Moderna [ver reportagens anteriores e
relacionadas com este artigo].
A pedagogia High-Scope, foi criada nos EUA
na década de 60 por David Weikart, para combater o insucesso escolar. Defende
que a aprendizagem deve ser feita através da experiência e de interações
sociais significativas, porque se acredita que a criança tem um papel ativo na
construção do seu conhecimento.
'Bilhete de identidade' de Os Aprendizes:
Esta escola aposta num sistema de ensino
que privilegia as interações positivas entre o adulto e a criança, e o trabalho
de equipa. Para além do método High-Scope, Os Aprendizes também se inspiram na
pedagogia Waldorf e no Movimento da Escola Moderna .
Idades: Aceita crianças
dos 3 aos 12 anos (pré-escolar, 1.º e 2.º ciclos do Ensino Básico).
Horário: 8h / 18h30.
Preços: A mensalidade é de
356 euros. A inscrição custa 275 euros e o seguro escolar 35 euros. Os valores
são iguais em todos os anos escolares.