terça-feira, 12 de agosto de 2014

Clube dos Poetas Mortos


“Fui para os bosques para viver livremente,
 para sugar o tutano da vida,
 para aniquilar tudo o que não era vida,
e para, quando morrer, não descobrir que não vivi.”
                                                                                                                  Thoreau




Faleceu Robin Williams  que nasceu a 21 de Julho de 1952.
Começou a sua carreira como comediante secundário. Estreou-se como alienígena em Mork and Mindy.
Participou em filmes como: The World According to Garp, Moscow
on the Hudson,  Seize the Day,Good Morning Vietnam, Awakenings, The Fisher King, Alladin, Mrs. Doubtfire e o filme onde ganhou um Òscar: Good Will Hunting.
No entanto, o filme em que professores e educadores o identificam mais é
o Clube dos Poetas Mortos .
 “Apanha os botões de rosa enquanto podes
 O tempo voa.
 E esta flor que hoje sorri
 Amanhã estará moribunda.”
Walt Whitman, Clube dos Poetas Mortos



Esta morte levou-me a pensar  num filme paradigmático,  protagonizado por  Robin Williams, na personagem de professor Keaton. Eis-me, de novo no ensino/aprendizagem que é praticado, nas nossas escolas por nós, na dicotomia ensinar memorizando, ensinar a pensar; seguir, apenas o estabelecido ou promover a autonomia? Ensinar com regra e obediência, sem dúvida, porque mesmo o professor Keating quando mandava era obedecido. No entanto, como combater o institucional? O professor Keating foi despedido, os pais, um em particular não gostaram e até tomaram medidas drásticas que culminaram num ato irremediável.
Tanta reflexão a fazer.
 “Sempre pensei que a educação é aprender a pensar por si próprio”,  diz Keating,  isto num colégio de  Welton que tem como objetivo formar e que tem como metas:   “tradição”, “disciplina”, “honra” e “excelência”, palavras de ordem que os estudantes transportam nos estandartes na cerimónia de abertura do ano lectivo.            
O filme conta a história do que se passa quando é admitido John Keating que, com a sua criatividade e sabedoria, inspira os seus alunos a perseguir um caminho próprio: “ Carpe Diem ...Aproveitem o dia, meus amigos...tornem as vossas vidas extraordinárias...”
Na sua abordagem nada ortodoxa de ensino da poesia, não abdica do seu papel de professor, ao mandar os alunos arrancarem as páginas do manual a ela referentes. Defende que a poesia tem que se sentir, já que é essencial à vida: “Não lemos e escrevemos poesia porque é “giro”. Lemos e escrevemos poesia porque somos membros da raça humana. E, como tal, estamos cheios de paixão”.
Quando um grupo dos estudantes encontra um velho “Livro de Turma” do tempo em que Keating frequentava o mesmo colégio e descobre que fez parte de um grupo chamado “Clube dos Poetas Mortos”, abordam-no e o professor fala-lhes, entusiasmado do Clube que reunido numa gruta, pretendia “ sugar o tutano da vida.” Fascinados, os alunos resolvem refundar o Clube dos Poetas Mortos sem que o professor saiba.
Quanto a  Keating continua a surpreender os alunos com as suas estratégias imaginativas.  Para ultrapassar a animosidade dos alunos em relação a ShaKespeare, interpreta alguns excertos da sua obra de forma divertida e para mostrar que se deve olhar as coisas de forma diferente, sobe à secretária e convida os alunos a fazerem o mesmo.
No entanto, um dos momentos mais marcantes das estratégias de Keating é aquele em que pede a cada um dos seus alunos que leiam um poema de sua autoria.
Todd, o aluno tímido da turma não o consegue fazer, mas Keating incita-o a subir à carteira e a lançar o seu grito bárbaro de libertação interior. De seguida, Todd  declama o seu poema perante a turma estupefacta.
Mas estas estratégias não geram só coisas boas, Neil Perry, constantemente pressionado pelo pai a seguir os valores rígidos do Colégio e da Família, insere-se, apesar, da discordância desta, num grupo de teatro e na redação do jornal, pelo  que é retirado do Colégio pela família e acaba por suicidar-se.
Como  consequência, o professor é despedido, não sem que todos os alunos, mesmo os mais inseridos no sistema se despeçam dele subindo para a secretária  com a frase mágica:  “Oh, Captain, my Captain”.

Ó Capitão! meu Capitão!

Ó Capitão! meu Capitão! Finda é a temível jornada, 
Vencida cada tormenta, a busca foi laureada. 
O porto é ali, os sinos ouvi, exulta o povo inteiro, 
Com o olhar na quilha estanque do vaso ousado e austero. 
Mas ó coração, coração! 
O sangue mancha o navio, 
No convés, meu Capitão 
Vai caído, morto e frio.
Ó Capitão! meu Capitão! Ergue-te ao dobre dos sinos; 
Por ti se agita o pendão e os clarins tocam teus hinos. 
Por ti buquês, guirlandas... Multidões as praias lotam, 
Teu nome é o que elas clamam; para ti os olhos voltam, 
Capitão, querido pai, 
Dormes no braço macio... 
É meu sonho que ao convés 
Vais caído, morto e frio.
Ah! meu Capitão não fala, foi do lábio o sopro expulso, 
Meu calor meu pai não sente, já não tem vontade ou pulso. 
Da nau ancorada e ilesa, a jornada é concluída. 
E lá vem ela em triunfo da viagem antes temida. 
Povo, exulta! Sino, dobra! 
Mas meu passo é tão sombrio... 
No convés meu Capitão 
Vai caído, morto e frio.
                                                WALT WHITMAN