terça-feira, 27 de novembro de 2018
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sábado, 24 de novembro de 2018
Black Friday
quinta-feira, 1 de novembro de 2018
Pão por Deus
Pão por Deus
As oferendas aos mortos são comuns em diversas culturas, incluindo os
celtas que habitaram a região, onde hoje se localiza Portugal, com pão, bolos,
vinho e outros alimentos.Com efeito, os Celtas acreditavam que, nesta época de
morte da natureza, os mortos voltavam à terra e era preciso apaziguá-los. A
Igreja católica cristianizou esta prática como fez a muitas outras. Começou-se,
então, a reservar lugar à mesa e comida para os mortos, bem como a deixar um pão à porta, resguardado por um
pano, com a intenção de honrar os mortos, mas também, socorrer algum pobre que
por ali passasse. Esta tradição está documentada no século XV.
No ano seguinte ao terramoto de Lisboa de 1 de novembro de 1775, fez-se
o pedido do “pão por Deus” para socorrer à miséria dos vivos, lembrando, ao
mesmo tempo os mortos.
Mais recentemente, no dia 1 de novembro, Dia de Todos-os-Santos em
Portugal, as crianças costumavam juntar-se em grupos para pedir o “ Pão por
Deus” ou bolo de porta em porta.
“Pão por Deus,
Fiel de Deus,
Bolinho no saco,
Andai com Deus”
-Ó tia, dá Pão-por-Deus?
Se o não tem dê-lho Deus!
A coca, abóbora ou cabaça a lembrar uma caveira iluminada também remonta
à mesma tradição Celta do Samhain.
Uma receita de Pão por Deus
3Kg de batatas
3Kg de farinha para bolos
1,750Kg de açúcar
10 Ovos
½ Litro de leite (morno)
½ Litro de Óleo/azeite
1 Colher de sopa fermento em pó
Raspa de um limão (ou mais a gosto)
Canela e erva-doce (a gosto)
Fruta seca (nozes, avelas, sultanas etc.) as nozes e as avelas partidas
Passa-se o puré de batata cozida junta-se os restantes ingredientes
mexendo bem sendo que os frutos secos serão adicionados, no fim.
Pode-se fazer pequenas bolas e levar ao forno em tabuleiro forrado com
farinha
Depois de cozido retira-se e limpa-se excesso de farinha com um pano embebido
em óleo.
Quando pedem o Pão por Deus, as crianças recitam versos e recebem pão,
broas, bolos, romãs e frutos secos, nozes, tremoços, amêndoas ou castanhas, que
colocam dentro dos seus sacos de pano.
Em Coimbra, existe o canto:
Bolinhos e bolinhós
Para mim e para vós,
Para dar aos finados
Que estão mortos e enterrados
À bela, bela cruz
Truz, Truz!
A senhora que está lá dentro
Sentada num banquinho
Faz favor de s’alevantar
Para vir dar um tostãozinho.
Se recebem oferendas:
:
Esta casa cheira a broa,
Aqui mora gente boa.
Esta casa cheira a vinho,
Aqui mora um santinho.
Se não recebem:
Esta casa cheira a alho
Aqui mora um espantalho.
Esta casa cheira unto
Aqui mora algum defunto
Nos Açores, existe a tradição das “caspiadas”, ou “escaldadas”, que segundo
Ernesto Veiga de Oliveira, são uma
espécie de pão “de base achatada e
arredondados por cima que lembram o topo de uma caveira humana”, honrando assim
também os mortos.
Estas caspiadas, algures na Europa, eram conhecidos como o “topo de
caveira”, por pretenderem imitar o crânio ou caveira.
As Caspiadas (ou Escaldadas), são bolinhos de base achatada e
arredondados, do tamanho de uma mão fechada, com cerca de 12 cm de diâmetro,
eram cozidas em forno de lenha, e confecionadas à base de farinha de milho,
farinha de trigo, ovos, açúcar, leite, manteiga, pau de canela, erva-doce,
folhas de laranjeira azeda e erva de Nossa Senhora.
O bolo deve ser enrugado para lembrar o topo de uma caveira, já que se
trata de uma iguaria ritual, alusiva ao culto dos mortos, ou seja ao cerimonial do Pão por Deus que decorre a 1
de Novembro.
Segundo o povo, as melhores são as que ficam com uma racha, o que lembra mais a caveira.
Esta tradição poderá ter origem num
ritual tibetano do culto dos mortos, adoptada depois por algumas tribos
célticas. Enquadrar-se-á, então, num conjunto de crenças religiosas de base Indo-Europeia,
que terá chegado aos Açores com o seu povoamento por flamengos.
Em alguns locais da região Centro, este
dia é o ‘Dia dos Bolinhos’ ou ‘Dia do
Bolinho’.
Os bolinhos típicos são confecionados à
base de farinha e erva doce com mel (noutros locais batata doce e abóbora) e
frutos secos como passas e nozes. São chamados “Santorinhos” ou “Broas dos
Santos”.
Em alguns locais, os padrinhos
oferecerem um Santorinho aos seus afilhados.
José Leite de Vasconcelos,
Etnografia Portuguesa vol VIII, Imprensa Nacional Casa da Moeda.
Ernesto Veiga de
Oliveira, Festividades Cíclicas em Portugal, disponível em: Ernesto Veiga de
Oliveira, Festividades Cíclicas em Portugal, https://books.openedition.org/etnograficapress/5888
J. Leite de
Vasconcelos. Miscelânea Ethnographica, pág. 246.
Luís da Silva
Ribeiro. Notas sobre a vida rural na Ilha Terceira (Açores). «Revista
Lusitana». vol. 33. 1935. pág. 93.
https://www.youtube.com/watch?v=GNIstgWY9xM&list=RDGNIstgWY9xM&start_radio=1
– Pão por Deus