O meu avô sempre dizia que o melhor da vida
haveria de ser ainda um mistério e que o importante era seguir procurando .
Estar vivo é procurar, explicava. (…) percebíamos isso no seu abraço. Eu dizia: dentro do abraço
do avô. Porque ele se tornava uma casa inteira e acolhia. Abraçar assim, talvez
porque sou magro e ainda pequeno, é para mim um mistério tremendo.
Eu sei que ele queria chamar a atenção para a
importância de aprender. (…) Estava constantemente a pedir-me (…) se prestares
atenção, vês corações e podes tirar medidas à felicidade.
(…) o meu avô pedia que não me desiludisse.
Quem se desilude morre por dentro. Dizia: é urgente viver encantado. O encanto
é a única cura possível para a inevitável tristeza.
Criava jogos para inventarmos perguntas só
para ver se todas as perguntas teriam uma solução. As mais absurdas talvez sejam
adiadas, só o futuro lhes saberá responder. Inventar perguntas é aprender. (…)
“Nesse tempo, o meu avô
perguntou quais seriam as mais belas coisas do mundo.
Ele sorriu e quis saber se
não haviam de ser a amizade, o amor, a honestidade e a generosidade, o ser-se
fiel, educado, o ter-se respeito por cada pessoa. Ponderou se o mais belo do
mundo não seria fazer-se o que se sabe e pode para que a vida de todos seja
melhor.
A beleza, compreendi, é
substancialmente um atributo do pensamento, aquilo que inteligentemente
aprendemos a pensar.
A força do pensamento
haverá de criar coisas incríveis, científicas, intuitivas, maravilhosas,
profundas, necessárias, movedoras, salvadoras, deslumbrantes ou amigas. Pensar
é como fazer. Quem só faz e não pensa só faz uma parte.
Para a beleza é preciso
acreditar. Quem não acredita não está preparado para ser melhor do que já é.”
(…)
Para
mudar o mundo, sei bem, é preciso sonhar acordado.
(…)
há uma felicidade para os tempos difíceis. Sei que é importante seguir à sua
procura
“À
noite, deito igual a uma semente na almofada húmida do coração. Fico aninhado
com a esperança de crescer esplendorosamente por dentro do amor. No verdadeiro
amor tudo é para sempre vivo. E sei que, como as pedras, existo pela sede.
Quero sempre inventar a vida. Desse modo, tenho a certeza, numa ideia sem fim,
eu posso dizer: dentro do abraço. Dentro do abraço do meu avô.”
Valter Hugo
Mãe, As
coisas mais belas do mundo