sexta-feira, 23 de junho de 2023

S. João ou as festas do Solstício

  


S. João de João Cutileiro e festas juninas, Rua do Almada (Porto desaparecido).



Arco da Rua do Almada. Porto desaparecido






Festas de verão, 1908




Arco triunfal erguido a propósito das Festas de Verão na rua de Santo António (hoje de 31 de Janeiro), em 1908. O tripeiro





                                                   Rusgas sanjoaninas. Porto desaparecido


Alho porro. Porto desaparecido.

Tapeçaria produzida em 1962, da autoria  de Mestre Guilherme Camarinha (1912-1994), retrata a Festa de São João.  Nesta tapeçaria estão presentes: o baptismo de Cristo por São João Baptista, o fogo das fogueiras; a água das orvalhadas; os balões a subirem para o céu ; as danças e as rusgas populares; os alhos-porros e ervas de cheiro; o anho assado e outras gastronomias; as cascatas e os casais de namorados.

S. João, Cutileiro. Praça da Ribeira.

S. João da Foz. Igreja da Foz.



S. João. Igreja da Foz





S. João, Passeio Alegre. Foz



S. João, casa Teixeira de Pascoais, Amarante





S. João, Casa Teixeira de Pascoais, pormenor







S. João - Fontainhas, Porto









Bom S. João!

As festas de Solstício vêm de longa data na história da humanidade. Ligam-se aos rituais e passagem, sempre temidos, e por isso sempre apaziguados com fogo, água, sons e plantas. Com o passar do tempo e a cristianização dos povos que ocupavam o espaço europeu, os rituais ganharam um cunho religioso, ligando-se a santos. S. João é um dos mais populares.

As fogueiras, por exemplo, passaram a simbolizar a forma como  Isabel, mãe de João Batista, anuncia a Maria, o nascimento do filho que batizaria Jesus. As bandeirinhas podem ser versões coloridas e menores das grandes bandeiras de Santo António, S. João e S. Pedro. Os balões seriam lançados para anunciar o início da festa.

 

As festividades do solstício ou S. João existem, por exemplo, na Alemanha, Dinamarca, Espanha, Estónia, França, Gécia, Irlanda, Polónia, Portugal, Suécia, assim como também na Rússia, Ucrânia e regiões vizinhas.  

Na Alemanha, na celebração de S.  João,  ou “sommersonnenwende” há danças à volta de uma fogueira e o lançamento de flores e ervas aos lagos, num ritual de boas vindas à nova estação.  

Na Dinamarca, a “sankthansaften”  ou “véspera de S.  João” comemora-se com fogueiras , piqueniques e canções tradicionais.

Em tempos passsados, acreditava-se que  os espíritos bons e maus sobrevoavam os campos nessa noite, pelo que as fogueiras acesas pretendiam afastá-los.  Em épocas intransigentes, muitas muheres tidas como bruxas foram queimadas nessas fogueiras.Na atualidade, há uma fogueira em cada bairro de Copenhaga e uma bruxinha hasteada, aludindo a esse costume.

Na Estónia, além da herança pré-cristã , há a comemoração da liberdade e independência, já que uma das batalhas da Guerra da Independência do país ocorreu a 23 de junho de 1919, na qual os estonianos venceram as tropas alemãs.  Por isso,  nesse país, a fogueira principal é acesa pelo presidente do país e é a partir da “chama da independência” que se acendem tochas para atear outras fogueiras.   Há também o costume de saltar fogueiras  e falar de amor. Aqui, um conto tradicional  conta a história de dois apaixonados, Koit e Hämarik, que só se veem uma vez por ano, nessa noite mais curta do ano.

A Espanha também comemora o S. João com fogueiras, convívio e comida típica.

Na Finlândia a “juhannus”  ou “pleno verão”, famoso sol da meia-noite,  é comemorado com fogueiras junto dos lagos e rios.  

Na França, a festa de S. João é festejada com  danças e fogueiras.  

Na Noruega  (espaço Schengen) a “Sankthans” é comemorada com comida típica e uma grande fogueira.

Na Polónia, a “noc swietojanska”, noite de S. João, antiga “Noc Kupały”, “noite de verão” é festejada pelas pessoas que desejam sorte umas às outras, atiram cartas de amor sobre as águas dos rios e saltam fogueiras. Hoje a nota dominante é o convívio a ver os fogos de artifício e a ouvir música.

Na Rússia (que não pertence à U. E.)  e países vizinhos, a “Ivan Kupala”, que significa “João Batista” é também celebrada atirando flores aos lagos e com muitas brincadeiras ligadas à água.

Na Suécia, na  “Midsommar” , as pessoas dançam em redor de um pilar cheio de folhas e flores, havendo comida típica que inclui: peixe, batatas e morangos.

Em Portugal, O S. João é celebrado em diversas regiões, com destaque para  Porto e Braga.

 

 

S. João do Porto

 

No Porto destaca-se  o dar a cheirar ervas aromáticas com principalmente a cidreira, costume ligado a antigos rituais de fertilidade. Em Braga, a Dança dos Pastores e a Dança do Rei David impunha-se, assim como em Sobrado, Valongo, a dança dos Bugios e Mourisqueieiros (Bugiadas).

Nos Açores, esta festa reveste particular brilho em Angra do Heroísmo, na ilha Terceira, com  desfiles, marchas, carros alegóricos, danças e bailes.

A primeira referência aos festejos sanjoaninos remonta ao século  XIV já que Fernão Lopes se refere a esta festa.

Embora muitas tradições já se tenham perdido, no Dia de São João, virtudes e poderes especiais estão associados ao fogo, ao orvalho, à água das fontes, dos rios e do mar, às ervas, às plantas e até mesmo ao Sol.

Segundo Germano da Silva, o manjerico, o alho-porro, os cravos e a erva-cidreira possuem, no entender do povo, virtudes específicas, provenientes do orvalho, associadas por exemplo a amores felizes ou casamento próximo.

O alho porro estará, segundo alguns estudiosos ligados ao culto fálico e o balão ao culto solar.

Ruas ornamentadas e iluminadas, arraiais, danças, músicas, jogos e desfiles alegravam a cidade, durante as Festas de Verão, que eram animadas pelo Clube dos Girondinos e Clube dos Fenianos, entre outras entidades. Nestas festas, a cidade engalanava-se, tal como no Carnaval, atraindo muita  gente.

Foi no século XIX que apareceram as primeiras cascatas no Porto. De acordo com o historiador Hélder Pacheco, “o pai e a mãe das cascatas foram os presépios, que surgiram em Portugal nos finais do século XVIII”. Segundo ele, os presépios eram transformados, substituindo-se a Sagrada Família e os reis magos pelos santos populares. (Helder Pacheco: 2004) Porto - O Livro do S. João

O martelinho foi Inventado pelo industrial portuense Manuel Boaventura e oferecido aos estudantes da Queima das Fitas de 1963, tornando-se um sucesso. Os comerciantes do Porto viram nestes "martelos musicais" potencialidades para a festa de São João, até porque um ritual de passagem que se preze, como este, que em tempos antigos celebrava a transição do equinócio para o solstício, tinha que ter fogo, ruído e água.

A primeira referência aos festejos sanjoaninos remonta ao século  XIV já que Fernão Lopes se refere a esta festa.

Em 1851, os jornais relatavam a presença de cerca de 25 mil pessoas nos festejos sanjoaninos entre os Clérigos e a Rua de Santo António.

 

1910, um concurso hípico integrado nos festejos motivou a presença do infante D. Afonso, tio do rei (a revolução republicana apenas se daria em Outubro).

 

Nesta festa, destacam-se os alhos porros para bater na cabeça de quem passa, saltos à fogueira, manjericos com quadras, lançamento de balões de ar quente e enfeites coloridos. A partir de em 1963, os martelinhos impuseram-se.

 

Bibliografia/Webgrafia:

Helder Pacheco. 2004. Porto- O Livro do S. João. Edições Afrontamento

Webgrafia.

Germano Silva, Porto do Germano: Os rituais do São João. Disponível em https://www.jn.pt/4843057773/porto-do-germano-os-rituais-do-sao-joao/. Consultado: 20 junho, 2023 às 15:00.

  https://www.semprefamilia.com.br/cultura/festas-juninas-pelo-mundo-como-sao-joao-e-celebrado-em-outros-paises/

https://www.awebic.com/sao-joao-em-outros-paises/

Bispo luterano abençoa a “chama da independência”. Foto: Ardi Hallismaa/Forças Armadas da Estônia.

https://veronicandrade.wordpress.com/tag/sao-joao-na-dinamarca/

https://www.360meridianos.com/especial/sao-joao-espanha

https://buencamino.com.br/2021/06/23/sao-joao-na-galicia/

http://farofadbatata.blogspot.com/2009/06/festa-junina-polonia-despois-de-tantos.html

viajandonotempo  - https://viajandonotempo.blogs.sapo.pt/20151.html

https://www.oportoencanta.com/2015/06/uma-cascata-de-sao-joao-com-mais-de-40 anos.

Germano Silva, Porto do Germano: Os rituais do São João, 20 junho, 2023 às 15:00, https://www.jn.pt/4843057773/porto-do-germano-os-rituais-do-sao-joao/