Fina d´Armada deu-me a
honra de ser eu a fazer a apresentação, no centro Democrático e Republicano de
Fânzeres, lugar que muito prezo, do livro "Republicanas quase
desconhecidas", no qual tenho uma pequena colaboração. Eis o que
considerei dizer da Fina, então:
Conheci a Fina d´Armada entre 79 e
1980. Eu era jovem estudante e a Fina
com quem me encontrava na biblioteca ou em sua própria casa era para mim uma
referência de afirmação da Mulher e de atracão pelo mistério. Esta relação
empática manteve-se até hoje como bandeira de um espírito livre e portanto
superior.
Em 1981 mudou-se para Rio Tinto,
onde vive até hoje.
É autora de 11 obras individuais. A
atual será a décima segunda.
No entanto escreveu 34 em
co-autoria, das quais posso salientar a de carater local como
"Rio Tinto -Apontamentos
Monográficos", "Monografia de Fânzeres" e "António de Sousa
Neves”, biografia de uma personalidade de Fânzeres..
Está representada na "Antologia
de Poetas do Alto Minho", no "Dicionário de Mulheres Rebeldes", no
"Dicionário Antológico de Artes e Letras de Gondomar" e em Espanha:
no "Dicionário Internacional de Arte e Literatura" e no de "Letras de Fronteira do Val do Miño
Transfronteirizo", de autores portugueses e galegos.
Foi condecorada pela UMAR e pela
Câmara de Caminha "por uma vida inteira dedicada às letras, às artes e à
singularidade de fazer a diferença".
“Republicanas Quase Desconhecidas” é um
livro escrito por uma Mulher, qual carvalho se eleva reto e ramifica, frutificando, porque dá nome, às mulheres que, de forma
anónima, implantaram os ideais republicanos.
Na verdade, a partir das
solicitações feitas a investigagores e descendentes de republicanas, de norte a
sul de Portugal, reúne 31 colaborações e
faz referência a 33 concelhos por ordem alfabética, o número de vértebras que
”nos sustenta em pé” como ela afirma, numa tentativa bem sucedida de dar
visibilidade às mulheres umas anónimas, outras menos, mas todas com ideais e
ações de cariz republicano.
Põe em evidência personalidades de todo este Portugal que, na
atualidade, trabalham umas anonimamente outras porque a Fina conseguiu motivar
para a pesquisa que ela ambicionava levar
a cabo. É assim um livro de autora mas que reúne muitas mãos e
inteligências, num mundo onde o individualismo impera. Também aqui, numa
citação criteriosa dos contributos, Fina d´Armada se afirma reta.
Ela própria tem a noção da
importância deste ato ao escrever “ devo confessar que fazer esta obra foi das
coisas mais bonitas que me aconteceram (… ) Para mim, tem sido sonho de uma vida
dar visibilidade, trazer à luz, mulheres do meu país que fizeram mais do que as
leis lhes permitiam. Obrigada a todos e todas, investigadores, colaboradores e
descendentes, por acarinharem um pedacinho do meu sonho.”
Ela soube, certamente, através deste
ato realizar muitos sonhos de muitas
famílias e pessoas, que desta forma passaram da sombra à luz.
A minha colaboração partiu, depois
de um período em que vicissitudes da vida nos mantiveram afastadas, do fato de
ter sido ouvida pela Fina quando apresentei a conferência “República em Gondomar”, nos “Reencontros com
a República”, nos quais, também
participou. Aí referi o pioneirismo da freguesia de Valbom no que respeita os enterramentos civis.
O Jornal de Notícias, em cinco de Abril de 1899 noticia grande motim no enterro
civil de Luisa Rosa de Oliveira, mãe do propagandista das ideias sociais.
António de Oliveira. Populares arremessando pedras tentaram impedir a saída do
cortejo para o Cemitério do Prado do Repouso. A senhora estava ligada à
Associação Propagadora da Lei do Registo Civil e desta forma o seu funeral
constitui um cortejo cívico de propagação dos ideais sociais a que a defunta se
tinha dedicado.
Fina d´Armada tem a noção de que
faltam professoras republicanas.” Isto deve-se ao fato dos arquivos dos
professores, a existirem, não terem sido localizados. Foram elas que espalharam
o ideal republicano por quem não ia aos comícios”. Na verdade, em S. Cosme,
a professora regente, da escola do Souto,
durante o período da Traulitana é obrigada a restituir a bandeira que tinha
guardado em casa e convidada a tirar férias forçadas, o que a senhora rejeita.[1]
Cremos que se trata de Dona Emília Augusta Lopes d´Araújo que faz parte da
comissão de recenseamento das crianças em idade escolar em 1918 , mas, ainda,
não encontrei o seu processo.
Com efeito, em 1910, as mulheres não
tinham direitos políticos, não se podiam filiar em partidos ou associações sem
prévia autorização dos maridos. Vários clubes punham mesmo restrição às
mulheres, embora as deixassem participar nas comissões de festas e corpo
cénico.
Por exemplo, a Escola Dramática de Valbom
possuía uma comissão de senhoras para a realização de festas ou movimentos de
carácter altruísta. D. Maria da Glória Barreto Costa, esposa do médico,
denominado “João Semana de Valbom” pela sua bondade e dedicação, cognominada
“avozinha da escola Dramática”, presidiu, várias vezes a essas comissões.
O Clube Gondomarense integrava após a
república, republicanos de elevada instrução e intervenientes na política
local, que procuravam cumprir a divisa do seu estandarte “Fiat Lux”, ou seja
uma busca de luz e conhecimento, vinda da antiga filosofia iluminista liberal.
Possuía um corpo cénico que procurava cumprir o tema da conferência proferida
naquele clube por Camilo de Oliveira: “ O Teatro e a Escola como Fontes de
Civilização”. Dele faziam parte senhoras como D. Leopoldina Ramos Cardoso, D.
Margarida Dias e D. Albertina Pereira.
Durante a 1ª Grande Guerra, sobretudo mães e
namoradas temem e expressam de forma mais evidente o seu sentimento de receio,
dor e saudade.
Adere-se à Cruzada das mulheres portuguesas,
presidida por Elzira Dantas Machado [2]a
fim de dar assistência aos soldados portugueses que estavam na guerra e aos
seus familiares.
Gondomar, um concelho rural, recebe a
influência do Porto em muitos aspetos e torna-se muito dinâmico durante a 1º
República, quer do ponto de vista reivindicativo, quer cultural.
Há diferenças entre as freguesias,
podendo-se destacar Fânzeres e Valbom como mais conflituosas, já que aqui se
confrontam com denodo republicanos e monárquicos. Rio Tinto salienta-se pela
qualidade dos seus cidadãos, destacando, entre eles, Carlos Amaral que é
torturado e morto, durante a Traulitana.
S. Cosme adopta uma postura moderada e pouco
embarca em confrontos de monta. Camilo de Oliveira é ouvido com reverência e árbitro
de conflitos, embora também tivesse sido preso com Carlos Amaral.
Quanto
a S. Pedro da Cova, a Junta reivindica melhorias para a freguesia,
reverenciando a Companhia das Minas capaz de ser sua parceira em tais
benefícios.
A República não satisfez o sonho das
mulheres como não satisfez outros sonhos e por isso se perdeu.
De qualquer forma, Gondomar, tal como o país
teve oportunidade de lutar por um ideal, praticar a intervenção cívica e aprender
a tolerância.
Votando ao livro “Republicanas
Quase Desconhecidas”, Fina d´Armada
refere que diversos concelhos fizeram plantações de carvalhos, em honra de
republicanas locais. Em 2010, Fânzeres homenageou as mulheres republicanas com
uma placa.
Usando as palavras de Fina,” no
fundo é plantar a República, que significa plantar a Democracia, a qual exige
perpetuamente ser replantada e regada por ideais de esperança.”
Este livro eleva alto o farol da
igualdade, “caminho aberto, raiz da árvore da liberdade” que urge plantar cada
vez mais. Fina d´Armada cumpriu a sua parte.