sexta-feira, 26 de abril de 2013

Poemas para Abril

16 DE MARÇO

Esperança
Que mais inventar para te manter

Lágrimas
Quanta força para vos reprimir
Raiva
Como dar-te um sentido útil

( 16 de Março de 74, golpe falhado das Caldas da Rainha)
José Carlos de Vasconcelos, Poemas para a Revolução




CAXIAS

Estas paredes lisas nuas brancas
Quem ofendeu assim a brancura

Esta paisagem de rio e mar
No lugar do silêncio e da tortura

Quem ofendeu assim nosso olhar

E estes homens que não são homens
Mas o fel e a vergonha dos homens

Quem ofendeu assim o sol
- e quem poderá mais suportar

Março de 74
José Carlos de Vasconcelos, Poemas para a Revolução



CINCO DIAS ANTES

Cidade de sombras de medos de mitos
Cidade que adormece num travesseiro
Com sumaúma de gritos

Cidade nossa cidade perseguida sitiada
Vigiada por bufos e pides
Escondida em cantos esconsos águas
Furtadas prédios devolutos

Cidade que dói cidade que chora
Cidade da esperança
Em que subterrânea se constrói
A força dos frutos a raiz da aurora

20 de abril de 1974

José Carlos de Vasconcelos, Poemas para a Revolução



Esta é a madrugada que eu esperava 

O dia inicial inteiro e limpo 

Onde emergimos da noite e do silêncio 

E livres habitamos a substância do tempo 


                                               Sophia de Mello Breyner Andresen

25 de Abril

Esta foi a 1ª hora
Agora todo o tempo é nosso

José Carlos de Vasconcelos, Poemas para a Revolução

Como alguém disse: “Demorou tanto a chegar , não podemos deixá-lo partir”…



POR NOSSA PÁTRIA

Minha pátria é a terra
É onde se luta bebe ama
Minha pátria é a terra
Mas é neste mar neste campo nesta serra
Que deito raízes à terra 
e a voz da terra me chama

Ando a sofrer as dores do mundo inteiro
E sou duma pátria de sofrimento
Ando a sofrer as dores do mundo inteiro
mas é aqui ao lado de cada companheiro
que ao amor e à raiva me dou inteiro
vertical à luz do pensamento

E por nossa pátria livre eu vou cantar
Desfraldar a voz de poema em riste
Por nossa pátria livre eu vou bailar
Fazer o pino no ar
- homem de um povo que resiste

José Carlos de Vasconcelos, Poemas para a Revolução



Liberdade
               Sérgio Godinho

Viemos com o peso do passado e da semente
esperar tantos anos torna tudo mais urgente
e a sede de uma espera só se ataca na torrente
e a sede de uma espera só se ataca na torrente
Vivemos tantos anos a falar pela calada
só se pode querer tudo quanto não se teve nada
só se quer a vida cheia quem teve vida parada
só se quer a vida cheia quem teve vida parada
Só há liberdade a sério quando houver
a paz o pão
habitação
saúde educação
só há liberdade a sério quando houver
liberdade de mudar e decidir
quando pertencer ao povo o que o povo produzir.


https://www.youtube.com/watch?v=



25 de Abril

Esta é a madrugada que eu esperava 
O dia inicial inteiro e limpo 
Onde emergimos da noite e do silêncio 
E livres habitamos a substância do tempo 

Sophia de Mello Breyner Andresen, 'O Nome das Coisas'