TEMPO BREVE DE RECREIO
“O Dr.Barroso da Fonte
descobriu este poema numa antologia em que participei há alguns anos e fez o
favor de o publicar no jornal POETAS E TROVADORES e eu resolvi
partilhá-lo,PORQUE SIM...”
TEMPO BREVE DE RECREIO
"Bom barqueiro, bom barqueiro, deixa -me passar
Tenho filhos pequeninos pr'acabar de criar..."
Assim começavam as rodas, os folguedos
Quando, no recreio da escola,as vozes eram os raros brinquedos
Que se usavam no tempo pequenino de ser menino.
"Corda queimada, quem te queimou?
Foi uma velha que aqui passou, passou, passou..."
E os braços cruzavam-se num sólido nó
Enquanto a cantilena embalava a ternura
Depois, mediam-se forças e a corda da velha partia
E ouvia-se então o grito de vitória num chilrear de alegria
Havia ainda a bola de trapos, o lencinho
A sameira, a macaca,o anel e o pião
E o pedacito de broa comido com sofreguidão
Fazia-se, com um galho e um elástico, uma fisga para "ir aos pardais"
E um avião de folhas de sebenta ou velhos jornais
Era o minuto curto para descansar as mãos calejadas
Da enxada,da foicinha, da vassoura de giesta e das reguadas
Entre o pião que girava na palma rugosa da mão
E a borboleta que semeava a primavera e se perdia no ar
A vida correu para a foz e tornou-se um turbulento mar
Onde as ondas se altearam entre o subtrair e o somar
Agora, no espaço do recreio, há a saudade num doer longo e medonho
A raiz quadrada duma ilusão breve e o silêncio vazio dum sonho.”
TEMPO BREVE DE RECREIO
"Bom barqueiro, bom barqueiro, deixa -me passar
Tenho filhos pequeninos pr'acabar de criar..."
Assim começavam as rodas, os folguedos
Quando, no recreio da escola,as vozes eram os raros brinquedos
Que se usavam no tempo pequenino de ser menino.
"Corda queimada, quem te queimou?
Foi uma velha que aqui passou, passou, passou..."
E os braços cruzavam-se num sólido nó
Enquanto a cantilena embalava a ternura
Depois, mediam-se forças e a corda da velha partia
E ouvia-se então o grito de vitória num chilrear de alegria
Havia ainda a bola de trapos, o lencinho
A sameira, a macaca,o anel e o pião
E o pedacito de broa comido com sofreguidão
Fazia-se, com um galho e um elástico, uma fisga para "ir aos pardais"
E um avião de folhas de sebenta ou velhos jornais
Era o minuto curto para descansar as mãos calejadas
Da enxada,da foicinha, da vassoura de giesta e das reguadas
Entre o pião que girava na palma rugosa da mão
E a borboleta que semeava a primavera e se perdia no ar
A vida correu para a foz e tornou-se um turbulento mar
Onde as ondas se altearam entre o subtrair e o somar
Agora, no espaço do recreio, há a saudade num doer longo e medonho
A raiz quadrada duma ilusão breve e o silêncio vazio dum sonho.”
Porque
sim, fez muito bem! Foi dessa maneira que eu uma menina tímida me tornei uma
participante ativa e com espírito de iniciativa. Faz-me pensar, hoje, no tempo
curto de recreio que os jovens têm, com intervalos em filas para carregar o
cartão para o lanche que não levam de casa; nas aulas de substituição, onde as
há, que fecham o aluno na sala, a fazer coisas mais ou menos didáticas mas
pensadas, quase sempre pelo professor, a falta de autonomia e de convívio
efetivo e os jogos de computador ou telemóvel que levam meia dúzia de jovens a
estarem juntos, mas isolados a jogar no seu aparelho.
Há
uns dias um jovem (que não gosta de telemóveis, coisa rara!) a quem perguntei
por que não se juntava aos seus colegas com quem tinha trocado apenas umas
frases, retificou-me:
-
Juntar-me aos telemóveis deles!
Na
verdade!