No Carnaval ninguém leva a mal
No entrudo faz-se tudo
Esta vida são dois dias e o carnaval três
O Carnaval, no sentido de ritual religioso
remonta à Pré-História. No entanto, é no Antigo Egito que no aparecem as
primeiras festas de índole carnavalesca. Manifestações deste tipo existem ao
longo de toda a história.
Na Grécia Clássica, nas festas Dionisíacas,
trocavam-se piadas grosseiras, as “lazzi”. Na Roma Antiga, nas festas em honra
de Saturno, todos os homens eram considerados iguais. Os escravos vestiam a
toga dos magistrados e vice-versa e, todos juntos entregavam-se aos prazeres da
vida. Nas Lupercais, festas em honra da “Terra Mãe” que se realizaram até ao
século V, no início da Quaresma, com a tolerância da <igreja, havia um
festim, findo o qual, um cortejo caminhava até um monte, onde anunciava o fim
dos prazeres físicos e o início das cerimónias religiosas. F. Dias faz derivar
a palavra carnaval de “currus navalis”, carro naval, no qual se passeava Ísis,
no mês de março, no meio de um cortejo de pessoas disfarçadas.
No entanto, o Carnaval moderno parece ter a sua
origem na Itália de quatrocentos. Nesta época renascentista, ressurgiu o gosto
pelas festas clássicas, ente as quais, as antecessoras do Carnaval.
Os carnavais de Roma e de Veneza gozaram, por
longo tempo, de grande fama. Nas cavalgadas entrava toda a nobreza romana com
mirabolantes trajes mitológicos e históricos. Além de balões e festas,
especialmente dirigidas ao povo, havia espetáculos, nos teatros, que eram
desaprovados pela Igreja, mas que subsistiram, mesmo assim.
Em Roma, na segunda-feira de Carnaval, fazia-se
a Macoleti, que era o enterro do Carnaval, com a queima de um boneco. Os
carnavais de Florença, Nápoles e Roma ficaram célebres pelos Arlequins,
Polichinelos, Pierrots e outros mascarados que lançavam confettis e águas
odoríferas através de seringas. Da Itália, o Carnaval irradiou para os outros
países europeus e sendo que no Brasil, ganhou animação e brilho, ao ritmo do
samba.
Todavia, o Carnaval, tal como hoje o conhecemos,
é fruto do Cristianismo e da Quaresma.
Etimologicamente, uns dizem que deriva de
“carne vale” que significa “adeus carne”, como saudosa despedida dos prazeres
corporais consentidos antes da quaresma, tempo de penitência. Do século XIV a
XVI, a palavra “carnal” é usada para designar o período em que se pode comer
carne, em oposição à Quaresma, tempo de jejum e abstinência.
O Carnaval durava da véspera da sexagésima até
à quarta-feira de cinzas. A autoridade papal restringiu-o a três dias, apenas.
O
Carnaval e as máscaras têm uma origem religiosa. Estas ligam-se ao culto
dos mortos. Nesta aceção, invocam os maus espíritos (mortos) a fim de conseguir
a sua reconciliação.
A adoção da máscara como disfarce remonta ao
teatro grego. No entanto, o termo máscara deriva do árabe “maskere” com o
significado de zombaria.
Na modernidade, Carnaval é expressão de riso e
gracejo. Desta forma, é muitas vezes caricaturado por um santo burlesco que em
Portugal se chama Entrudo. No Santo Entrudo, o trabalho é esquecido, porque é
urgente aproveitar os bailes, a abundância de comida e alegria. Em certas
zonas, ao terceiro dia de Carnaval, há um cortejo que tem como figura central o
Entrudo e condenado a ser queimado na praça. Entrudo (introito) significa a
entrada na Quaresma.
A tradição do cortejo do boneco considerado
comadre, compadre ou personagem do Carnaval que é julgado e morto, é típico de
diversas regiões não só portuguesas, mas também europeias. Apresenta, no
entanto, nomes variados como João, Meco, Ricardinho ou outro e talvez simbolize
o Inverno que morre.
Quanto à palavra Carnaval é de uso recente, no
nosso país. Nesta altura, é tradição o lançamento de diversos objetos ou
produtos como água e farinha. Os manjares característicos baseiam-se na carne,
sobretudo de porco, daí a designação dada aos dias carnavalescos de “gordos”.