“ ... na demanda se contém não só a viagem, mas o sonho, o sentir, o
pensamento, a ação”
Maria de Lourdes Pintassilgo
O docente equipara-se ao cientista do depois de amanhã “ que trará consigo
dentro dele, não só “um espaço real como o espaço que há onde as cousas da
matéria estão” – espaço de verdadeira criação de conhecimento refletido e
atualizado, de sabedoria – mas também “uma nova dimensão so outro”. Mas para
que essa dimensão não seja “uma coisificação do outro”, nunca a ele chegamos senão
descobrindo o(s) outro(s) de nós, “outrando-nos pela imaginação sensível a nós
mesmos”.
Nesta linha de ideias, educar é investigar, porque nunca se conhece o
ponto de partida nem de chegada, previamente. Educar implica uma caminhada de
um sujeito ao encontro do outro a fim de o consciencializar do seu projeto de
vida, lhe despertar fascínio e a vontade de saber, de saber fazer e de saber
tornar-se.
Na atual escola de massas, esta caminhada é tarefa deveras complicada.
Como percorrer, uma só pessoa, duzentas caminhadas diferentes?
No entanto, pondo de lado utopias, os professores têm dados mostras de
que estão dispostos a caminhar, embora coxos, de muletas ou sem calçado
apropriado. Apesar de todos os defeitos e encruzilhadas do ensino atual, muito
avanço se deve a esta aprendizagem. Face a uma sociedade que pede que a escola
forme para o exercício de uma profissão há que problematizar, refletir,
equacionar hipóteses e tomar opções individuais e de forma colaborativa.
Numa escola de massas que integra no seu seio uma população heterogénea,
é fundamental o professor exercer um papel ativo na deteção diagnóstica de
situações problema bem como no equacionar de medidas de intervenção tendentes a
prevenir ou remediar essas mesmas situações.
No entanto, é evidente que a eficácia dos professores está dependente da
intervenção de outros agentes, nomeadamente da escola, da família e da
sociedade.
Todavia, parece-nos fundamental o conhecimento crítico, a reflexão
conjunta, a partilha de experiência , a busca coletiva de soluções de forma a
alargar as perspetivas de intervenção.
Adestrar os professores para empreenderem projetos de pesquisa coletiva
que partam da experiência profissional da cada um e questionem o conhecimento
científico à luz dos contextos prático-institucionais da profissão docente
parece-me o sentido premente de qualquer formação, no momento presente.