Clube Gondomarense, 08.01.2016
Na sexta-feira, dia 8 de novembro, no Clube Gondomarense, tive o grato prazer de assistir
à palestra” Coisas dos filmes e outras histórias” de Mário Augusto, um
jornalista, cinéfilo, comunicador, com narrativas cheias de graça para contar.
A postura à vontade da foto mostra a forma simples como o contador de histórias nos
narrou coisas do cinema e da sua vida pessoal.
Foi, na verdade, uma conversa encantadora pela minúcia das
curiosidades, pela profunda humanidade que transpareceu por detrás das histórias,
pelo lado científico que nos enriqueceu a memória destas coisas do cinema e por
aquele ensinamento oculto que nos provou que não é necessário um ar muito
formal e doutoral para chegar ao recetor, basta encantar e suscitar a
curiosidade! E não é que suscitou! Passei
o domingo chuvoso a rever os primórdios do cinema tão ventilado por Mário Augusto.
Através dele recordámos que os primeiros aparelhos para
captar e reproduzir a imagem do movimento, são baseados no fenómeno da
persistência retiniana (fração de segundo em que a imagem permanece na retina,
ou incapacidade do cérebro processar, isoladamente, imagens sucessivas muito
rápidas), descoberto pelo inglês Peter Mark Roger, em 1826. A fotografia,
desenvolvida por Louis-Jacques Daguerre e Joseph Nicéphore Niepce, bem como as
pesquisas de captação e análise do movimento permitiram o surgimento do
cinematógrafo. É desta forma, que se pode defender que os irmãos Louis e
Auguste Lumière inventaram o cinema, em 1895, em França.
Joseph-Antoine Plateau foi o primeiro a medir o tempo da
persistência retiniana, concluindo que uma ilusão de movimento necessita de uma
série de imagens fixas, sucedendo-se pela razão de dez imagens por segundo.
Plateau criou, então, em 1832, o Fenacistoscópio, apresentando várias figuras
de uma mesma pessoa em posições diferentes desenhadas num disco, de forma que
ao girá-lo, elas passassem a formar um movimento.
O francês Charles Émile Reynaud criou o Praxinoscópio, um
tambor giratório com desenhos colados na sua superfície interior, e no centro
deste tambor havia diversos espelhos. Na medida em que se girava o tambor, no
centro, onde ficavam os espelhos, via-se os desenhos unindo-se num movimento
harmonioso.
Entre os inventos de projeção, impõe-se o Cinetoscópio de Thomas A. Edison, que
consistia num filme perfurado, projetado numa tela no interior de uma máquina,
na qual só cabia uma pessoa em cada apresentação. A projeção precisava ser
vista por uma lente de aumento.
Entre os filmes que Edison projetou no seu estúdio, destacou-se,
em 1890, “Black Maria”, considerado o primeiro filme da história do cinema. É a
partir do aperfeiçoamento do Cinetoscópio, que o Cinematógrafo foi criado pelos
irmãos Louis e Auguste Lumière, em França, em 1895. O cinematógrafo filmava,
copiava e projetava. O primeiro
documentário realizado possuía 45
segundos de duração e denominou-se “Sortie de L’usine Lumière à Lyon” ( Saída
dos operários da Fábrica Lumière), no Grand Café, em Paris. Seguem-se
documentários curtos sobre a vida quotidiana: “A chegada do trem na estação”, “O
almoço do bebé”, ” O mar”. Neste mesmo
ano de 1895, Thomas Edison projetou o seu primeiro filme, “Vitascope”.
O americano Edwin S. Porter, usou o mesmo estilo
documentarista e desenvolveu os rudimentos da narração/ ficção com efeitos
especiais teatrais de Georges Méliès,
para produzir “Great Train Robbery” (O grande roubo do trem), o primeiro grande clássico do cinema
americano, que inaugura o western e marca o começo da indústria cinematográfica
em 1903, com grande êxito.
O cowboy que dispara diretamente para a assistência,
assustando-a.
Surgem, então, dois grandes nomes dos primórdios do
cinema: Georges Méliès e David Griffith.
Georges Méliès (1861-1938),
diretor, ator, produtor, fotógrafo e figurinista, é considerado o pai da arte
do cinema. Nasce na França e passa parte da juventude a desenvolver números de mágica
e truques de ilusionismo, precursores dos efeitos especiais, utilização de
figurinos, atores, cenários e maquiagens.
Realizou os primeiros filmes de ficção – Viagem À Lua (Voyage dans la
lune, Le / Voyage to the Moon - 1902) e A Conquista do Pólo (Conquête du pôle,
La / Conquest of the Pole - 1912).
David W. Griffith (1875-1948), nascido nos Estados Unidos,
é considerado o criador da linguagem cinematográfica. Antes de chegar ao
cinema, trabalhou como jornalista e balconista em lojas e livrarias. Admirador
de Edgar Allan Poe, também escreveu poesias. No cinema, é o primeiro a utilizar
dramaticamente o close, a montagem paralela, o suspense e os movimentos de
câmera. Em 1915, com “ Nascimento de Uma Nação” (The Birth of a Nation),
realiza o primeiro longa-metragem americano, tido como a base da criação da
indústria cinematográfica de Hollywood. Com “Intolerância” (Intolerance), de
1916, faz uma ousada experiência, com montagens e histórias paralelas.
ASCENSÃO DE HOLLYWOOD
Até à primeira Guerra Mundial, a Itália e a França tinham
o cinema mais popular e poderoso do mundo mas com a Primeira Guerra Mundial, a
indústria europeia de cinema foi arrasada. Os EUA começaram a destacar-se no
mundo do cinema fazendo e importando diversos filmes. Thomas Edison tentou,
então, tomar o controle dos direitos
sobre a exploração do cinematógrafo. Fugindo ao controle fiscal, um grupo de
produtores independentes vai deslocar-se para fora de Nova York acabando por se
fixar na costa oeste, num pequeno povoado chamado Hollywoodland. Lá,
encontraram condições ideais para rodar: dias ensolarados quase todo ano,
diferentes paisagens para diferentes cenários e quase todos as etnias como,
negros, brancos, latinos, indianos, índios e orientais.
Surge, assim, a
produção de filmes em Hollywood, na Califórnia, onde surgem os primeiros
grandes estúdios. Em 1912, Mack Sennett, o maior produtor de comédias do cinema
mudo, que descobriu Charles Chaplin e Buster Keaton funda, aí, a sua Keystone Company. No mesmo ano, surge a
Famous Players (futura Paramount) e, em 1915, a Fox Films Corporation.
Para enfrentar os altos
salários e custos de produção, exibidores e distribuidores reúnem-se em
conglomerados autónomos, como a United Artists, fundada em 1919. A década de 20
consolida a indústria cinematográfica americana e os grandes géneros – western,
policial, musical e, sobretudo, a comédia.
Nesta época, foram fundados os mais importantes estúdios
de cinema (Fox, Universal, Paramount) controlados por judeus (Daryl Zanuck,
Samuel Bronston, Samuel Goldwyn e outros) que viam o cinema como um negócio.
Lutaram entre si e às vezes para melhor competir, juntaram empresa. Nasceu, assim,
a 20th Century Fox (da antiga Fox) e
Metro Goldwyn Meyer (união dos estúdios de Samuel Goldwyn com Louis Meyer). Os
estúdios contrataram diretores e atores e com isso nasceu o "star
system", sistema de promoção de estrelas e com isso, de ideologias e
pensamentos de Hollywood que incluía um código de comportamento ao qual deviam
obedecer os filmes, como quem se beija deve casar até ao final do filme, os
polícias são sempre bons e os ladrões maus e por aí fora.
Destacam as comédias de Charlie Chaplin e Buster Keaton,
aventuras de Douglas Fairbanks e romances de Clara Bow. Foi o próprio Charles
Chaplin e Douglas Fairbanks junto a Mary Pickford e David Wark Griffith que criaram
a United Artist com o motivo de desafiar o poder dos grandes estúdios.
Buster Keaton
As experiências com som sucediam-se. Todavia, havia
problemas de sincronização o que leva à necessidade de acelerar as imagens. Em
1926, a Warner Brothers introduziu o sistema de som Vitaphone (gravação de som
sobre um disco) até que em 1927, a Warner lançou o filme "The Jazz
Singer", um musical, protagonizado por Al Jolson e que, pela primeira vez
na história do cinema, tinha alguns diálogos e cantorias sincronizadas aliados
a partes totalmente sem som.
Al Jolson, Jazz Singer
O filme retrata a história fictícia de Jakie Rabinowitz,
um jovem que desafia as tradições da sua família judia. Depois de cantar
músicas populares num jardim da cerveja é punido pelo pai, o que leva Jakie a fugir de casa. Mais tarde, torna-se
um talentoso cantor de jazz.
Em 1928, o filme "The Lights of New York (também da
Warner), conseguiria tornar-se no primeiro filme com som totalmente
sincronizado. O som gravado no disco do sistema Vitaphone foi logo substituído
por outro sistema como o Movietone da Fox, DeForest Phonofilm e Photophone da
RCA com sistema de som no próprio filme.
“O Beijo”, lançado em 1929 e protagonizado pela atriz
sueca Greta Garbo, foi o último filme mudo da MGM e o último da história de
Hollywood, se excluirmos as joias raras de Chaplin: “Luzes da Cidade” e “Tempos
Modernos”.
O beijo foi um filme polémico, dado o ato
ser demasiado explícito para a época.
No final de 1929, o cinema de Hollywood já era quase
totalmente falado. No resto do mundo, por razões económicas, a transição do
mudo para o sonoro foi mais lenta. Neste mesmo ano, foram lançados grandes filmes falados como
"Blackmail" de Alfred Hitchcock (o primeiro filme inglês falado),
"Applause" do diretor Rouben Mamoulian (um musical em preto e branco)
e "Chinatown Nights" de William Wellman (o mesmo diretor de "Uma
estrela nasce" de 1937).
Foi em 1929, que a Academia criou o prémio Óscar
que vem até hoje
Diz-se
que foi Aurélio Paz dos Reis o responsável pelo nascimento do cinema português.
Paz dos Reis, um comerciante,
republicano e maçónico que observava o seu tempo, de forma atenta. Em 1896,
comprou uma câmara de filmar em Paris, com a qual fez algumas experiências no
Porto, em Braga e em Lisboa. Em dezembro desse mesmo ano, apresentou pela
primeira vez a um público restrito o seu “Kinematographo Portuguez”.
O
seu primeiro filme imitava “Saída dos operários da Fábrica Lumière” de Edison e
denominou-se “ Saída das operárias da fábrica da camisaria Confiança”, no Porto
( Hoje loja Benetton, em Santa Catarina)
( ww.cinemateca.pt/cinemateca-digital/Ficha.aspx?obraid=905&type=Video
Aurélio
Paz dos Reis
Em 1917, surgiu uma nova etapa na evolução do cinema: a comédia. Fortemente influenciado pelo cinema americano, Emídio Ribeiro Pratas criou a figura “O Charlot”, com muitas semelhanças com Charlie Chaplin.
Em 1917, surgiu uma nova etapa na evolução do cinema: a comédia. Fortemente influenciado pelo cinema americano, Emídio Ribeiro Pratas criou a figura “O Charlot”, com muitas semelhanças com Charlie Chaplin.
Entre os anos 1918 e 1924, o cinema nacional
viveu tempos de prosperidade: produziram 35 filmes e surgiram algumas novas
empresas cinematográficas, entre elas a Invicta Film do Porto( na Prelada,
hoje transformada em armazém de bicicletas) e a Lusitânia Film , de
Lisboa. Em 1932, surgiu a ainda hoje existente Tobis Portuguesa, que,
apenas um ano mais tarde, conseguiu um enorme sucesso com o filme “A Canção de
Lisboa”.
Com a subida ao poder de António de Oliveira Salazar e a proclamação, em 1933, do Estado Novo, e a instrumentalização do cinema, este passou a servir os seus objetivos propagandistas.
Com a subida ao poder de António de Oliveira Salazar e a proclamação, em 1933, do Estado Novo, e a instrumentalização do cinema, este passou a servir os seus objetivos propagandistas.
Fontes:
Conferência de Mário Augusto
BREVE HISTÓRIA DO CINEMA PORTUGUÊS (1896-1962), Biblioteca Breve