Nós por cá continuamos com a sexta-feira preta que se estende ao fim de semana negro, enquanto as notícias sobre a situação dos professores aparecem aldrabadas por pessoas de responsabilidade, cambada de malandros que ganham acima da média europeia, os professores ou os políticos? Não sei o que se passa com as outras classes profissionais por isso não me pronuncio! Se partir da análise feita sobre os professores, também muita mentira deve ser dita sobre os outros! Nós cá vamos alegremente, enquanto uma chuvinha rega o jardim e o outono continua esplendoroso, porque todos os apelos feitos para que haja uma economia sustentável são vãos para as potências que mandam no mundo. As injustiças e escravização disfarçada ou não, relativas aos refugiados, são coisas normais. Nós vamos comprar tudo o que esteja a 50%, porque é uma boa compra, mesmo que o preço original tenha sido subido antecipadamente. O Infarmed vem para o Porto o que é explicado por umas narrativas que convencem os incautos! Muito mais havia a dizer, mas, sinceramente, acho que não percebo nada
sábado, 25 de novembro de 2017
Black Friday- Fim de semana negro
Nós por cá continuamos com a sexta-feira preta que se estende ao fim de semana negro, enquanto as notícias sobre a situação dos professores aparecem aldrabadas por pessoas de responsabilidade, cambada de malandros que ganham acima da média europeia, os professores ou os políticos? Não sei o que se passa com as outras classes profissionais por isso não me pronuncio! Se partir da análise feita sobre os professores, também muita mentira deve ser dita sobre os outros! Nós cá vamos alegremente, enquanto uma chuvinha rega o jardim e o outono continua esplendoroso, porque todos os apelos feitos para que haja uma economia sustentável são vãos para as potências que mandam no mundo. As injustiças e escravização disfarçada ou não, relativas aos refugiados, são coisas normais. Nós vamos comprar tudo o que esteja a 50%, porque é uma boa compra, mesmo que o preço original tenha sido subido antecipadamente. O Infarmed vem para o Porto o que é explicado por umas narrativas que convencem os incautos! Muito mais havia a dizer, mas, sinceramente, acho que não percebo nada
domingo, 19 de novembro de 2017
Encontro com Nuno Higino
Hoje lembrei-me da minha mãe, como sempre acontece todos os 19 de novembro e afinal, todos os dias. No entanto, lembrei-me hoje através de Nuno Higino que, no dia 14 de novembro, dia do patrono Júlio Dinis, foi à minha escola. Tive o privilégio de uma colega do grupo de Português me convidar para levar uma das minhas turmas à admirável palestra, como todas as outras às quais já tinha assistido.Parabéns pela iniciativa. Obrigada grupo de Português. Obrigada Nuno Higino
O coração divisível das mães
“As mães são as mais altas coisas
que os filhos
criam…
Helberto Helder
O coração divisível das mães
“O olho imperturbável da noite vigia o sono leve das mães
e elas
Sonham uma flor solitária; uma escarpa de chuva
Precipita-se no coração florido das mães; a mão divisível
das mães
Dobra cada recanto da casa, cresce como uma escarpa
De chuva sobre a música aflita dos filhos; a mão roda a
corda
Dos filhos e a noite vigia o sono leve das mães.
As mães dormem com o sono tatuado nos dedos, dormem
De frente para a parede branca dos filhos: sentem os
dedos deslizar,
O lápis dos dedos
a deslizar sobre a superfície
branca da alma.
A mãe dos filhos é um diadema sobre o coração divisível
das mães, um diadema estelar para a floração imprevisível
das noites. As mães erguem-se na noite e descem a escarpa
dos filhos, aconchegam –lhes ao rosto o lençol da insónia
e regressam
ao casulo imperturbável do sonho, ao olhar solitário da
noite.
Mãe, Nuno Higino
Mãe
Eu vejo-te lá longe a fazer
flores de papel e a organizar “Enterros de merendas”, recheados de teatro e
poesia. Relembro a tua aflição porque eu não comia nada além dos bolinhos de
festa, do caldo verde e do queijo. Quantas vezes me levaste me levaram ao
médico e por não haver resolução, na pá,
dentro do forno para talhar o ougado, passaram por cima de mim, me barraram de
carvão para talhar as bichas! No entanto, as linhas, os pontos, a tesoura e os
livros foram sempre o meu mundo e eu misturava-me com as crianças a quem
ensinavas para aprender. De comida, só lembro
a regueifa com queijo, na serra aonde nos levavas para me abrir o
apetite. Olha se eu hoje precisaria disso!
Tive tanto orgulho em ti
quando aflita, no exame da minha 4ª classe, a professora examinadora pegou numa
flor que tinhas feito para enfeitar o tinteiro e a levou ao nariz para cheirar!
Sei que me protegias como a
um ser de porcelana frágil o que enciumava o meu irmão, robusto, a comer este mundo e o
outro e a asneirar, fugindo de seguida para dentro do poço, sem água e com uma
escadinhas por dentro, levando a minha mãe a afligir-se porque temia perdê-lo.
Soubeste-me a pouco porque
devido à tua doença tiveste que ir para Lisboa, que naquela altura ficava muito
mais longe do que hoje, para te tratar e nós, os teus filhos tivemos que ficar
sem ti, temporariamente. Voltaste e foi a alegria plena que culminou na nossa
profissão de fé!
Apesar de rezarmos todos os dias o terço,
altura em que te punha perguntas incómodas que evitavas responder, e eu ser tão
religiosa que até a Nossa Senhora cheguei a ver no quintal, num buraco da
parede, aquele momento em comum parecia o ideal para me satisfazeres a
curiosidade!
Por fim, vem aquela
madrugada. “A tua mãe quer-se despedir de ti!” E eu com um vestidinho azul
marinho com gola branca lá fui, sem querer despedir-me dela!
Mãe!
sexta-feira, 17 de novembro de 2017
Janela
"O que é uma janela? (…) Uma janela debruça-nos sobre o espanto (…) através delas o tempo, esse elemento tão misterioso e esquivo, mostrou-se inteiro na transparência do visível; através delas compreendemos que o que primeiro nos parecia apenas uma perceção sensorial do que está fora era afinal uma sonda preciosa para viajarmos internamente."
José Tolentino de Mendonça, "O pequeno caminho das grandes perguntas"
quarta-feira, 1 de novembro de 2017
Pão por Deus
Esta tradição que remonta a práticas celtas, foi como
outras cristianizada, estando documentada no século XV.
No ano seguinte ao terramoto de Lisboa de 1 de
novembro de 1775, fez-se o pedido do “pão por Deus” para socorrer à miséria dos
vivos, lembrando, ao mesmo tempo os mortos.
Na verdade, esta tradição substitui a Celta que cria
que nesta época de morte da natureza, os mortos voltavam à terra e era preciso
apaziguá-los com pão, bolos, vinho e
outros alimentos.
Mais recentemente, no dia 1 de novembro, Dia de
Todos-os-Santos em Portugal, as crianças costumavam juntar-se em grupos para pedir o “ Pão por Deus” ou bolo de porta
em porta.
“Pão por Deus,
Fiel de Deus,
Bolinho no saco,
Andai com Deus”
A coca, abóbora ou cabaça a lembrar caveira iluminada
também remonta à mesma tradição Celta do Samhain.
Uma receita de Pão por Deus
3Kg de batatas
3Kg de farinha para bolos
1,750Kg de açúcar
10 Ovos
½ Litro de leite (morno)
½ Litro de Óleo/azeite
1 Colher de sopa fermento Royal
Raspa de um limão (ou mais a gosto)
Canela e erva-doce (a gosto)
Fruta seca (nozes, avelas, sultanas etc.) as nozes e
as avelas partidas
Passe a puré a batata já cozida junte-lhe os restantes
ingredientes mexendo bem sendo que os frutos secos são no fim.
Faça pequenas bolas e leve ao forno em tabuleiro
forrado com farinha
Depois de cozido retirar e limpar o excesso de farinha
com um pano embebido em óleo.
sábado, 14 de outubro de 2017
Mãe
Oh mãe!
Como tenho tão presente
os doces momentos
em que me afagavas os cabelos
e dizias baixinho:
- Minha filhinha!
É por isso que às vezes te chamo
e tu sais da moldura, sorrindo
- Minha filhinha, sobe a montanha!
No ar rescendem rosas
e eu subo!
Se pudesse encostar-me a ti
E chorar!
Mas tu voltas à moldura
e continuas a sorrir!
É assim que o meu sorriso revive
também!
domingo, 1 de outubro de 2017
E tu que achas? Miguel Ángel Guerra
Educar não é subjugar,
Não é seduzir.
Não é impor, a todo o custo,
Os valores de cada um,
Os seus princípios e crenças. (…)
Educar é ajudar a formar em liberdade,
Pessoas de correta consciência.
Não se trata de pensarem
O que eu penso ou queria
Que os meus alunos pensassem.
Trata-se de saberem
Procurar a verdade sozinhos, ou juntamente com outros (…)
Miguel Ángel Guerra, Uma pedagogia da libertação
sexta-feira, 15 de setembro de 2017
Anja
A minha Anja sentou-se na cadeira
perto da minha cama.
Como a sua mão de luz
tocou-me os olhos e despertou-me.
A minha Anja veio visitar-me no sono
e mostrou-me por dentro os meus sonhos.
Veio com o seu véu de medusa
a esvoaçar perto do meu rosto.
A minha Anja moveu-me os seus lábios de ros
e revelou-me um segredo
que como uma brisa
refrescou a minha alegria.
A minha Anja está perto de mim
Como eu perto do mar
e as suas pequenas vagas
fazem mover o meu coração.
A minha Anja
a de hálito azul
trouxe-me o sorriso fresco das manhãs
e ensinou-me a cor confiante da espera.
A minha Anja deixou-me uma pena
da sua asa. Nela voarei
para colher o canto azul dos pássaros.
Nuno Higino, “A Anja de hálito azul”
sexta-feira, 8 de setembro de 2017
Louva a Deus
MONGE VERDE
Atormentado estava em labirinto,
sentei-me a meditar em meu jardim,
e os sonhos se fizeram de cetim
de um perfumado em rosa, qu’inda eu sinto.
E o monge se sentou perto de mim,
mãos postas, patas verdes, ser distinto,
falou-me o louva-a-deus, juro, não minto,
mimetizado à relva do capim:
“Por que tanta inquietude, amigo moço?
Soubésseis que esta vida é breve história,
jamais vós sofreríeis em sine die…
Que a morte em seu Mistério engole o poço,
e tudo o que levardes n’alma em glória
será o que viveis em carpe diem!”
Paulo Urban
http://www.amigodaalma.com.br/2011/04/22/eu-e-o-louva-a-deus/
domingo, 30 de abril de 2017
Maias
De um modo geral, o cenário das várias celebrações cíclicas
compreende cerimónias de véspera. A colocação de giestas faz-se no dia 30 de abril
para que as casas estejam floridas no momento em que começa o dia, para o
«Maio», o «Carrapato» ou o «Burro» não entrar. O «Maio» ou o «Burro» são
entidades nocivas, cujo malefício se pretende conjurar com uma barreira de
flores.
A tradição de colocar Maias, nas entradas das casas, no dia
30 de abril para 1 de maio perde-se no
tempo. Segundo alguns, originariamente, a
Maia era uma boneca de palha de centeio, em torno da qual se faziam danças toda
a noite do primeiro dia de Maio.
Também podia ser uma menina vestida de branco coroada com
flores, sentada num trono florido e venerada, todo o dia, com danças e cantares.
Esta festa foi proibida várias vezes, como aconteceu em
Lisboa no ano de 1402, por Carta Régia de 14 de Agosto, onde se determinava aos
Juízes e à Câmara "que impusessem as maiores penalidades a quem cantasse
Maias ou Janeiras e outras coisas contra a lei de Deus...".
Outra teoria liga o nome do mês de Maio a Maia, mãe de
Mercúrio, e a ele está ligado o costume de enfeitar as janelas com flores
amarelas.
Todos estes rituais estão ligados a antigos ritos de
fertilidade do novo ciclo da natureza, à celebração da Primavera ou ao início
de um novo ano agrícola.
A Igreja sacralizou esta tradição, ligando-a à Festa
da Santa Cruz ou ao Corpo de Deus. Esse facto pode basear-se na lenda segundo a
qual Herodes, sabendo que a Sagrada Família, em fuga para o Egito, pernoitaria
em determinada aldeia, teria mandado matar todas as crianças. No entanto,
alguém sugere que se assinale a casa do Menino Jesus para evitar tal
mortandade. Todavia, quando os soldados se dirigem para a habitação assinalada,
encontram todas as casas decoradas com giesta.
Enfim, todas estas práticas lembram, de forma obscura, a
necessidade humana de esconjurar o mal, face à insegurança da vida e à
omnipresente ameaça do que nos faz mal.
segunda-feira, 20 de março de 2017
PRIMAVERA
Na altura em que havia
roupa de domingo e roupa de semana, a minha Professora Primária costumava
anunciar que em determinado dia aprazado, ia visitar-nos à escola uma Senhora,
e por isso, devíamos ir com a roupa domingueira e alegre. A minha mãe, no tempo
em que o podia fazer, em conivência com a professora, moldava flores de papel
tão belas que pareciam reais para serem espetadas nos tinteiros. A sala
transformava-se num campo de hidranjas, cravos, rosas artificiais mas
artísticas e nós que tínhamos uma escola severa, aproveitávamos aquela aberta
para receber a Senhora Prima Vera!
quarta-feira, 8 de março de 2017
Mulheres lutadoras em Gondomar
Como o dia da Mulher tem na
sua origem a luta das mulheres pela diminuição da jornada de trabalho,
lembrei-me que Gondomar conta com algumas mulheres que lutaram como verdadeiras
cidadãs que eram, apesar de não lhes ser reconhecida a cidadania. Pesquisei
algumas com ideais republicanos ou que viveram no período da 1ª República.
Luisa Rosa de Oliveira, de Valbom, em janeiro
de 1888, tinha apelado num comício para que fosse revogado o decreto-lei de julho
do ano anterior que impunha a cobrança de impostos, dentro da cidade do Porto, dando
origem aos mais calorosos protestos de mulheres de Valbom e de outras
localidades.
O Jornal de Notícias, em
cinco de abril de 1899, noticia grande motim no enterro civil de Luisa Rosa de
Oliveira, de Valbom, que era mãe do propagandista
das ideias sociais, António de Oliveira. Populares arremessando pedras tentaram
impedir a saída do cortejo para o Cemitério do Prado do Repouso. Luísa Rosa
estava ligada à Associação Propagadora da Lei do Registo Civil e desta forma o
seu funeral constitui um cortejo cívico de propagação dos ideais sociais a que
a defunta se tinha dedicado.
Em S. Cosme, a professora
regente, da escola do Souto, durante o período da Traulitana (monarquia do
norte) é obrigada a restituir a bandeira que tinha guardado em casa, o que a
professora se recusa pelo que é convidada a tirar férias forçadas. Creio que se
trata de Dona Emília Augusta Lopes d´Araújo que faz parte da comissão de
recenseamento das crianças em idade escolar em 1918, mas, ainda, não encontrei
o seu processo.
Como chama a atenção Fina
d´Armada, em “Republicanas quase desconhecidas”, obra na qual tive um humilde
contributo, as professoras tinham um papel importante na divulgação de ideais
republicanos. O mesmo pode ser dito na divulgação de ideais de democracia,
muito mais abrangentes.
Com efeito, em 1910, as
mulheres não tinham direitos políticos, não se podiam filiar em partidos ou
associações sem prévia autorização dos maridos. Várias sociedades recreativas e
culturais punham, mesmo, restrição às mulheres, embora as deixassem participar
nas comissões de festas e corpo cénico.
Por exemplo, a Escola
Dramática de Valbom possuía uma comissão de senhoras para a realização de
festas ou movimentos de carácter altruísta. D. Maria da Glória Barreto Costa,
esposa do médico, denominado “João Semana de Valbom” pela sua bondade e
dedicação, cognominada “avozinha da escola Dramática”, presidiu, várias vezes a
essas comissões.
O Clube Gondomarense
integrava após a república, republicanos de elevada instrução e intervenientes
na política local, que procuravam cumprir a divisa do seu estandarte “Fiat
Lux”, ou seja uma busca de luz e conhecimento, vinda da antiga filosofia
iluminista liberal. Possuía um corpo cénico que procurava cumprir o tema da
conferência proferida naquele clube por Camilo de Oliveira: “ O Teatro e a
Escola como Fontes de Civilização”. Dele faziam parte senhoras como D.
Leopoldina Ramos Cardoso, D. Margarida Dias e D. Albertina Pereira.
Durante a 1ª Grande Guerra,
sobretudo mães e namoradas ao temerem e expressarem de forma mais evidente o
seu sentimento de receio, dor e saudade, aderem à Cruzada das mulheres
portuguesas, presidida por Elzira Dantas Machado a fim de dar assistência aos
soldados portugueses que estavam na guerra e aos seus familiares.
A 1ª República não satisfez o
sonho das mulheres como não satisfez outros sonhos e por isso se perdeu.
De qualquer forma, a mulher,
em Gondomar, tal como noutros locais, teve oportunidade de lutar por um ideal,
praticar a intervenção cívica e aprender a tolerância.
Em 2010, Fânzeres homenageou
as mulheres republicanas com uma placa. Usando as palavras de Fina d´ Armada:”
no fundo é plantar a República, que significa plantar a Democracia, a qual
exige perpetuamente ser replantada e regada por ideais de esperança.”
Já agora, aproveito a
oportunidade, para homenagear Fina d´Armada que elevou bem alto o farol da
igualdade, “caminho aberto, raiz da árvore da liberdade” que urge plantar cada
vez mais forte.
quarta-feira, 1 de março de 2017
O CARNAVAL E A QUARESMA - Fânzeres
Combate Caranaval-Quaresma de Bruegel
O Padre Agostinho Barbosa, reitor de Fânzeres,
em 1861, referindo não possuir bens a não ser o seu património e umas casa, na
Viela dos Gatos, no Porto, velhas e arruinadas, obriga os seus herdeiros, o
irmão padre Manuel F. Barbosa e os seus sobrinhos a uma pensão de 400 reis
gasta anualmente “ enquanto o mundo for mundo”, do seguinte modo: “um sermão
désmola de 2400 reis depois das trez horas da tarde do dia vulgo chamado de
entrudo, vespora de quarta feira de cinzas, em cujo sermão se exortem os Fiéis
a prepararem-se para uma bôa desobriga e santificação do tempo quaresmal, e que
existem os folguedos do carnaval, a que quis atender chamando nesse dia os
fieis ao santo templo para os desviar dos ditos folguedos”.
Efetivamente, nesse dia deveriam os seus
fregueses estar a deitar carrapatos, folguedos jocosos de crítica social ou a
preparar o “Enterro do João”, tradição pertencente às antigas terras da Maia,
na qual um boneco, o João, homem completo, símbolo do Carnaval, vai dar origem
a uma tremenda choradeira pelo fim da folia e início da Quaresma, inspirando as
mais variadas “deixas” críticas.
O legado do padre Agostinho ( A.C. G. A. C. L. 11. T 34,
ff. 73v a 75v) inscreve-se na determinação clerical de combate a todas as
formas de irrisão, ao mundo e aos bailes, pela defesa da ortodoxia religiosa.
No entanto, o padre Agostinho vai mais longe ao
legar, ainda: “1200 reis anuais a 12 pobres dos mais necessitados desta
freguesia a 100 reis a cada um, em o dia de Quinta feira Santa de manhã em
memória do Lavapedes e paixão de nosso Senhor Jesus Cristo, mais 400 rs para
uma missa resada celebrada pelo parocho desta freguesia, ou por quem quizer, aplicada
por minha alma e de todos os seus parentes em o dia de Entrudo”. Este legado
devis ser vigiado pela Santa Casa da Misericórdia do Porto a quem, também,
institui herdeira.
A esta doação, acrescenta o irmão Manuel Ferreira
Barbosa, no seu testamento de 1870, a Exposição do Senhor, desde as 9 horas até
ao sermão da tarde, pelo que solicita ao pároco da freguesia, a confirmação das
indulgências concedidas pelos sumos pontífices “tal dia de tentação carnal, aos
fieis visitantes procurando a casa do Senhor e fugindo aos divertimentos
mundanos” ( A.C. G. A. C.
L. 25. T 59, ff. 7394v a 103v).
Esta prática que pretende afastar a alma dos
seus inimigos, desviando os indivíduos da festa carnavalesca, inscreve nitidamente nas propostas pós-tridentinas
e que mantém, ao que parece, todo o seu vigor, ainda, no século XIX.
Com o mesmo objetivo, o padre António Pinto do
Outeiro deixa um legado composto de inscrições, para que, dos juros se fizesse
face à despesa dos Lausperes e missa, a realizar, pelas “Almas em geral do fogo
do Porgatório” (A.J.F.F.
Actas da Junta da Paróquia de Fânzeres, sessão de 17.09.76, L2, f.42)
Etiquetas:
Carnaval-Quaresma,
Fânzeres; Agostinho Ferreira Barbosa; Manuel Ferreira Barbosa; António Pinto do Outeiro
terça-feira, 28 de fevereiro de 2017
DEIXAS DO JOÃO - O ENTERRO DO JOÃO
No Entrudo,
vale tudo!
No Carnaval,
ninguém leva a mal!
Esta
vida são dois dias e o carnaval três.
Diz o
padre:
O João já
morreu
Vai agora
a enterrar
Ele e o
Carnaval
Passaram a
vida a gozar!
Agora no
seu testamento
Ele diz
que deixa, deixa
Deixou uma
escola falida
Uma tampa
que não fecha
O tabelião
(notário) abre o testamento e lê:
Estão aqui
os meus amigos
Todos
juntos pra me enterrar
À espera
do testamento
Quando o
funeral acabar
Estão aqui
os meus amigos
Todos
tristes a chorar
Todos
querem saber
O que lhes
vou deixar!
Para as
minhas mulheres
Quero que
seja sabido
Que lhes
deixo o meu retrato
Para se
lembrarem do marido!
A todos os
acompanhantes
Deixo uma
caixa de gritaria
Para gritarem
bem alto
Todos
juntos em histeria!
Deixo-vos
boa educação
Para
saberem pensar
Mais tempo
às Humanidades
Para os
valores poderem formar
Deixo mais
horas de História
E também
de Geografia
Para que
os alunos
Não percam
a Memória
Nem deixem
a Terra vazia!
Deixo ao
Ministro da Educação
Uma boa
dose de Inteligência
Para
dosear as disciplinas
A dar aos
alunos experiência!
Deixo
ainda aos bons alunos
Tempo para
projetar
As suas
aspirações
E o mundo
transformar.
À escola
do futuro
Deixo o
euro milhões
Para dar
aulas na rua
E abrir
todos os portões
Aos
funcionários deixo
Muita
sorte no futuro
Para
auxiliarem na educação
E não
limparem o muro.
Aos administrativos
Deixo uma
grande missão
Trabalharem
com alegria
Prá papel
ter coração!
2º
Tabelião:
Aos “stores”que
são seca
Deixo a
net a funcionar
Para
mostrarem o mundo
Com o rato
a clicar.
Deixo aos
alunos das turmas
Onde um
agride e outro esfola
Um grande
rol de direitos
Para
construírem a Escola!
Deixo aos
professores de Português
Um
compêndio de poesia
Escrito
sem acordo
Para
ensinar com alegria
Aos
professores de Física Química
Uma caixa
de tubos de ensaio
E
reagentes para experienciar
Desde
setembro até maio.
Às
professoras de Visual
Deixo o
armário cheio
De empenho
e criação
Para nada
ficar a meio!
.
Deixo às
professoras de História
Para o
programa finalizar
Mais um
tempo semanal
Pra nas
fontes navegar.
Deixo aos
professores de Matemática
Números e
cálculos para jogar
Num treino
bem divertido
Os
rankings poderem ultrapassar!
Deixo às
professoras de Francês
Um crepe
muito saboroso
Para
provar que esta língua
Tem um
saber apetitoso!
Deixo aos
professores de Inglês
Uma bela
família real
Para
viajar pelo mundo fora
Numa forma
especial!
|
|
|
|
Tabelião
ajudante:
Deixo à
Directora de Turma
Um montão
de paciência
Porque
para os conflitos mediar
É preciso
muita experiência!
Deixo à
professora de Português
Um saco de
paciência
Prá nunca
desanimar
E corrigir
a nossa fluência
À professora
de Física Química
Deixo
muitos tubos de ensaio
Para poder
ensaiar à vontade
De
setembro até maio..
Ao
professor de Visual
Deixo um
armário cheio
De
materiais sem igual
Pró
esforço não ser só meio.
Deixo à
professora de História
Que se
aplica com afinco
Para ao
fim do programa chegar
Mais um
tempo semanal
Pra nas
fontes podermos nadar.
Deixo à
professora de Matemática
Para os
jogos bem jogar
Uma caixa
de x e y
E os
rankings ultrapassar.
Deixo à
professora de Francês
Muitos
crepes saborosos
Pra
provarem que a língua é importante
Para todos
os não ociosos!
Deixo à
professora de Inglês
Uma grande
família real
Para
quando se portarem mal
Não dar
gritos de terror!
|
Aos
professores de Geografia
Mais um
tempo semanal
Para grafar
toda a terra
De uma maneira
natural.
Deixo aos
professores de Ciências
Um novo
organigrama
Para
mostrar toda a natureza
Que está
prevista no programa!
Aos
professores de Moral
Deixo uma
grande moralidade
Somos
imaturos adolescentes
É esta a
nossa verdade!
Deixo aos
professores de Educação Física
Um
fortificante para aguentarem
Os
exercícios e as dispensas
Andarem abaixo
e acima sem fartarem.
Aos
professores de Tecnologias
Deixo uma
varinha de condão
Para nos
maravilharem
Com
performances de explosão.
Deixo à
professora de TIC
Uma escola
bem informatizada
Computadores
e projetores
Sempre muito
sincronizados.
Aos
professores de Música
Deixo uma
nova pauta
Para sempre
poderem ensinar
A magia da
flauta!
Aos
professores de Educação Especial
Muitos
louvores quero dar
Tanta
freima e atenção
Para todos
no mundo integrar.
Aos
serviços de psicologia
Muito vigor
e discernimento
Para atenderem
tanto menino
Que precisa
de alimento
À
professora bibliotecária
Que sempre
motiva a ler
Um dia de
36 horas
Para todos
os projetos fazer.
À Direção
desta escola
Só posso
deixar paciência
Para gerir
a geringonça
Com saber
e experiência!
Ao nobre
Conselho Geral
Só posso
deixar muita luz
Para saber
discernir
Entre
tanto ponto de cruz!
Padre :
Estão aqui
os seus amigos
Todos
tristes a chorar
O seu
enterro é agora
O Carnaval
vai acabar!
Gondomar, 2017
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Escola E.B. 2.3. de Gondomar
Enterro do João
Carnaval 2006
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